SILVIO MILANI

ANÁLISE: Por que a greve de silêncio dos delegados de Polícia é um tiro no pé

Editor de conteúdos de segurança pública no Grupo Sinos analisa os efeitos do protesto definido pela Associação dos Delegados de Polícia do RS

Publicado em: 23/01/2024 07:20
Última atualização: 23/01/2024 07:32

Ao decidir por uma “greve de silêncio” para reivindicar aumento de salário, a Associação dos Delegados de Polícia (Asdep) pretende pressionar o governo de Eduardo Leite a negociar. A estratégia, porém, parece estar surtindo efeito contrário. Um tiro no pé.


Entrega de novas viaturas para a Polícia Civil em frente ao Palácio Piratini Foto: Gustavo Mansur/Palácio Piratini

A ideia da categoria é que, ao não falar sobre operações exitosas de combate ao crime, os delegados privem o Palácio Piratini de uma agenda positiva na segurança pública. Ou seja, haveria um prejuízo ao marketing estatal.

O saldo para o governo, no entanto, está se mostrando positivo. Pois o silêncio em uma área sensível é a melhor publicidade. Deixa quieto.

Por mais benéfica à imagem do Estado que seja a divulgação da prisão de um líder de quadrilha ou da apreensão de quantidade expressiva de droga, ela sempre traz o tema da criminalidade à tona.

E quando o governo acha que deve divulgar determinada operação, ele vai dar um jeito. Prova disso são entrevistas dadas pela Chefia de Polícia, ente regido pelo Piratini, no lugar dos delegados subalternos proibidos de falar.

Para pressionar de fato o Estado e ao mesmo tempo prestar um serviço à sociedade, a Asdep poderia orientar a categoria a informar a rotina de roubos, furtos e toda ordem de crimes que costumam ser acobertados para não causar incômodo político.

A verdade, contraposta a manobras estatísticas engendradas para ocultar uma realidade que aflige a população, seria o método mais eficaz na negociação por aumento de salário. Pode também divulgar delegacias, veículos e equipamentos sucateados.

Ao passo que agrada ao governo, a greve de silêncio confunde delegados. No entendimento de alguns, a proibição é somente para entrevistas relativas a operações. Informações a respeito de outros fatos de interesse público estariam liberadas. Já a maioria dos delegados vê a medida como mordaça absoluta.

O primeiro silêncio foi decidido em assembleia no fim de outubro e suspenso no dia 13 de novembro, como “voto de confiança” ao governo, que teria se comprometido a criar um grupo de trabalho para debater reajuste salarial.

Na tarde de 20 de dezembro, sentindo-se desprestigiada, a Asdep deliberou pela retomada do boicote, que já passa de um mês. Ela anuncia que os associados que descumprirem a medida serão submetidos ao Conselho de Ética da entidade.

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