A família de Fábio Marcelo Kunz, de 41 anos, está arrasada pela partida repentina dele. Na noite da última quarta-feira (10) ele foi encontrado morto pelo próprio pai, de 84 anos, e por um vizinho próximo à Estrada Geral de Canastra Alta, na zona rural de Três Coroas, no Vale do Paranhana. A suspeita é de que ele tenha sido atacado por uma cobra jararaca enquanto capinava na lavoura da família. “A dor é imensurável”, lamenta a viúva, Joana Boelter Gottschalk Kunz, de 36 anos.
Kunz e a companheira se conheceram na adolescência e, em 2002, iniciaram o relacionamento. Mais tarde, em 2009, foram morar juntos no sítio do pai da vítima, mas em uma casa só para eles. Passado alguns anos, em 2014 o casal comprou uma propriedade. “Sempre trabalhamos juntos, um era parceiro do outro, junto dos sonhos, como dois em um”, conta a companheira.
Os dois trabalhavam e viviam de atividade rural. Desde 2012 participavam da feira do produtor rural do município, onde vendiam o que plantavam. Em 2020, realizaram outro sonho: tiveram uma filha. “Vivíamos em união estável, pois tínhamos o sonho de fazer uma festa de casamento. Em 22 de dezembro de 2023, realizamos nosso casamento civil”, conta Joana. Religiosos, pretendiam realizar a cerimônia na Igreja e a sonhada festa em dezembro deste ano. “Não deu tempo”, lamenta a esposa.
Joana lembra que o marido tinha muitos amigos pela cidade. “Muito bem-visto por todos. Era uma pessoa muito boa e disposto ajudar a todos”, relata. Ela ainda o descreve como um “marido inigualável e pai exemplar”. O companheiro, conforme ela ressalta ter acompanhado, também era um ótimo filho. “Ele sabia o sentido de honrar pai e mãe”, destaca.
A esposa recorda, ainda, que Kunz gostava de pescar, visitar amigos e parentes. Ele também apreciava paisagens naturais. Mas a vida no interior era sua grande paixão. “Ele amava o trabalho na roça, gostava muito da lavoura, amava o trabalho da feira, campeirar com o pai no campo na lida do gado, o que fazia desde criança.”
“Estamos arrasados, todos nós tínhamos Fábio como pilar, nossa base, nosso alicerce. Não sabemos como continuar sem ele”, lamenta.
Vítima havia ido terminar trabalho iniciado na lavoura durante a semana
A mulher conta que sempre trabalhou na roça com o marido, mas desde o nascimento da filha passou a se dedicar mais as tarefas da casa, enquanto ele seguia cuidando da lavoura. “Eu ia junto, mas esporadicamente, no caso de colheitas, pois preciso levar a criança junto, no interior não existe creche e minha sogra já é idosa e não tem condições de ajudar”, detalha.
De acordo com ela, era comum Kunz sair pela manhã, levar lanche e voltar a tarde ou no fim do dia. “Na segunda-feira foi na lavoura capinar aipim e ficou o dia todo. Na terça-feira, ele foi até meio-dia e voltou para o almoço. Almoçamos juntos e fomos à cidade fazer compras e pagar contas”, lembra.
No dia da fatalidade, na quarta-feira, Joana conta que o marido saiu pela manhã para terminar de capinar o aipim que havia começado nos dias anteriores. “Levou sua merenda, café e água. Ainda pediu para passar protetor solar. Abraçou a filha. Se despediu normalmente e disse que voltaria no fim da tarde.”
Em casa, ela passou o dia fazendo as atividades rotineiras. “Por volta das 7 horas fui tirar o leite, adiantar o serviço. Sabia que ele chegaria cansado. Ficou escuro, não chegou. Mas, ainda assim, não pensei em nada errado”, diz.
O primeiro pensamento foi de que Kunz teria ido ver gado em outra propriedade da família. Ela, então, ligou para o vizinho do sítio onde ele havia ido capinar e o homem disse a ela que a camionete estava lá, mas o marido dela não.
“Aí comecei a ficar nervosa. Não era normal. Liguei para o vizinho do outro sítio, onde temos o gado, [mas ele disse que] não viu ele”, conta Joana. Conforme ela, até pensou que o veículo poderia estar com algum problema e que, por isso, o marido estivesse voltando para casa a pé. “No dia anterior teve que trocar as velas e cabos, pois tava falhando a ignição.”
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Buscas por Kunz
Então, o pai de Kunz saiu para procurá-lo. “Eu não poderia sair a pé com a criança e minha sogra de 81 anos estava nervosa, tinha que cuidar dela”, explica. Joana fala que ligou para o sogro, mas que ele e o vizinho não conseguiam encontrar Kunz, pois já estava escuro.
Mas, foi no tempo em que ela contatou a Brigada Militar e o Corpo de Bombeiros para relatar o desaparecimento, que o sogro e o vizinho encontraram Kunz caído e já sem vida. “No início acharam que fosse infarto”, conta a esposa.
“Mas no dia seguinte encontraram uma cobra jararaca na lavoura. A qual Fábio ainda matou com a enxada”, revela. De acordo com ela, a perícia esteve no local na madrugada da quinta-feira (11). “Não constataram nada anormal, nenhuma violência. Seguiu para autópsia”, completa.
Joana afirma que a causa da morte ainda não está definida. “Mas bem provável seria da picada da cobra. Pois tinha quatro marcas de mordida na mão”, detalha. Ele afirma que, pelos indícios, o ataque do animal peçonhento tenha acontecido ainda pela manhã. “Peritos disseram que já estava cerca de 12 horas sem vida. Ele tinha tomado água e comido uma fatia de cuca e um pedaço linguiça. Então acredito que foi entre às 10h30 e 12 horas, pois gostava de fazer uma merenda antes do almoço”, revela.
Amigos e familiares se despediram de Kunz na manhã desta sexta-feira (12) no Cemitério de Canastra Alta. “Está difícil de aceitar o ocorrido. Dói muito, principalmente uma pessoa tão honesta e trabalhadora como Fábio”, finaliza a esposa.
Investigação
A Polícia Civil confirma que a serpente foi encontrada morta próxima ao local onde o corpo de Kunz estava. No entanto, o órgão reforça que o corpo foi para perícia, que apontará a causa do óbito. Um inquérito foi instaurado.
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