VALE DO PARANHANA

'A bala de um dos tiros está alojada no sofá': Jovem com esquizofrenia morre após abordagem policial e caso é investigado; entenda

Arildo da Silva, de 22 anos, foi atingido no tórax e morreu no hospital

Publicado em: 20/12/2023 19:40
Última atualização: 20/12/2023 20:29

A morte de um jovem de 22 anos durante abordagem da Brigada Militar (BM) é investigada pela Polícia Civil. Ele morreu no último sábado (16), após ser atingido pelo disparo de um policial militar durante uma ocorrência na própria residência, no bairro Vila Jardim, em Parobé, no Vale do Paranhana. Segundo familiares de Arildo da Silva, o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) e a BM foram acionados porque o jovem estava em surto – ele era diagnosticado com esquizofrenia e bipolaridade.

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Arildo da Silva, de 22 anos, foi atingido no tórax e morreu no hospital Foto: Arquivo pessoal

Alex da Silva, de 24 anos, irmão da vítima, conta que esse não foi o primeiro episódio e que em outras ocasiões a BM e o Samu já foram à residência onde o caçula morava com os pais. “Ele já estava assim alguns dias [em surto], mas naquele dia foi o ápice. Tiveram que pedir ajuda [para BM e Samu]. Mas diferente das outras vezes, ele [vítima] não quis ir para a ambulância e o hospital”, relata o irmão de Arildo.

Em nota, a BM disse que foi acionada para atender uma ocorrência de violência doméstica entre pai e filho e que Arildo estaria "armado com um facão ameaçando seu genitor". Conforme a guarnição, a vítima teria desobedecido às ordens para largar o objeto cortante. Então, os policiais teriam usado uma arma de choque (modelo spark) que não surtiu efeito. Sem detalhar na nota, a BM afirma que, na sequência, o PM fez uso de arma de fogo. 

Conforme a família, no boletim de ocorrência feito pelos brigadianos consta que Arildo teria ficado agressivo após o disparo com a arma de choque. Diz ainda que a vítima teria arrancado a munição do dispositivo do seu corpo e ido em direção à viatura e aos policiais. Nesse momento, o brigadiano teria feito dois disparos com uma pistola 9 mm. Arildo foi atingido por um tiro no tórax.

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O irmão confirma que o jovem estava com um facão e que a arma de choque não fez efeito, mas contesta a versão dos brigadianos. Segundo ele, a vítima não teria ido em direção à viatura. O fato teria acontecido dentro do pátio da casa. “Eles [policiais] estão dizendo que foi na rua. Mas o tiro foi dentro do pátio. Eles entraram. A bala de um dos tiros está alojada no sofá”, relata.

De acordo com a versão da família, Arildo recuou após a investida dos policiais com a arma de choque e correu em direção à residência. Ele estava na porta da casa no momento em que um dos policiais entrou no pátio e efetuou os disparos. A cena foi presenciada pelos pais, os dois irmãos e vizinhos da vítima.

De acordo com Alex, o irmão foi levado pela Samu para o Hospital São Francisco de Assis, em Parobé. “O pai foi com os policiais para o hospital, estava transtornado, em estado de choque”, lembra. A assessoria do hospital confirma que a vítima chegou com vida à casa de saúde, mas que faleceu após instantes.

“O pai foi levado pelos policiais naquele estado para a Delegacia de Polícia de Novo Hamburgo para registrar a ocorrência. Ele não estava conseguindo pensar e nem falar nada. O boletim ficou a versão deles [BM]”, diz Alex.

Na certidão de óbito consta que a morte de Arildo foi em decorrência de hemorragia interna por ferimento de projétil de arma de fogo. A família contesta o horário registrado, às 17h50. Segundo Alex, a BM deixou a residência por volta das 18h30.

Segundo a BM divulgou em nota, "toda ocorrência em que o policial militar utiliza arma de fogo, com o resultado de lesão ou morte, a ação é investigada em várias instâncias, quanto à legalidade e técnicas utilizadas".

Investigações 

A delegada Cibelle Savi, que responde pela Delegacia de Polícia de Parobé, afirma que instaurou um inquérito policial na segunda-feira (18). “Vamos ouvir algumas testemunhas e fazer outras diligências para esclarecer o fato.”

O corregedor-geral da Brigada Militar, coronel Vladimir Luís Silva da Rosa, afirma que um inquérito policial militar foi instaurado e está em andamento para apurar a conduta dos brigadianos durante a ocorrência. “Só falarei do caso depois do resultado das investigações.” 

Já o advogado Jefferson Soares, que representa a família de Arildo, pontua que os parentes da vítima acreditam na investigação e apuração dos fatos por parte da Polícia Civil e da própria Brigada Militar. "Caso seja comprovado o excesso por parte dos policiais ou crime mais grave, a família entrará com uma ação de indenização contra o Estado”, explica. 

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CategoriasParobéPolícia
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