Pesquisadores do Centro de Estudos Costeiros, Limnológicos e Marinhos (Ceclimar), da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), identificaram um número grande de animais mortos em um trecho de 50 quilômetros de praia entre Tramandaí e Dunas Altas, no município de Palmares do Sul, no litoral norte do Rio Grande do Sul.
Em apenas um único dia de monitoramento, nesta terça-feira (14), 55 carcaças foram recolhidas, uma quantidade considerada alta para esta época do ano.
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De acordo com o biólogo Maurício Tavares, que integra a equipe de monitoramento do Ceclimar e é doutor em Biologia Animal, a maior parte dos animais encontrados era composta por tartarugas marinhas, aves e toninhas, que é uma espécie de golfinho que está ameaçado de extinção.
“Foram 26 tartarugas marinhas, entre as espécies tartaruga-verde, tartaruga-oliva e tartaruga-cabeçuda. Também encontramos quatro toninhas e 25 aves”, detalha Tavares.
Embora o aparecimento de carcaças na faixa de areia não seja incomum, a concentração registrada em um único dia chamou a atenção dos pesquisadores. Tavares explica que o fenômeno está relacionado a fatores ambientais e à atividade humana.
“A gente tem bastante interação com a atividade pesqueira, que é a principal causa da mortalidade das toninhas e das tartarugas, e tem um pouco de mortalidade natural das aves”, explica.
As toninhas e as tartarugas, por exemplo, frequentemente ficam presas em redes de pesca. Já as aves, em sua maioria, morrem por causas naturais, embora também possam ser afetadas por poluição ou ingestão de resíduos, como plásticos.
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Vento maral é que trouxe animais à costa
Outro fator determinante e que justifica a aparição de tantos animais mortos na beira-mar foi o vento maral, que predominou na região durante a semana. Este vento, que sopra do mar em direção à terra, contribui para que carcaças que estavam à deriva na água sejam trazidas à costa. “Sem o vento maral, muitas dessas carcaças acabariam afundando antes de encalhar nas praias”, afirma o biólogo.
O Ceclimar realiza o monitoramento da orla gaúcha desde 2012, coletando dados fundamentais para entender e mitigar os impactos sobre a fauna marinha.
E é com base nesse levantamento que o Ceclimar julga preocupante a aparição dessas 55 carcaças de animais nesta semana. Ao longo desses 13 anos, o número máximo de animais mortos encontrados na praia no mês de janeiro foi de 28.
Assim que identificado um animal encalhado, conforme o pesquisador, “consiste em identificar a espécie, fazer o registro coordenado, documentar ela com uma fotografia, anotar os dados e fazer uma medição aqui da carapaça, no caso das tartarugas”, explica.
Cada dado coletado ajuda a traçar um panorama mais preciso sobre as ameaças enfrentadas por esses animais e contribui para estratégias de conservação.
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O biólogo destaca ainda a vulnerabilidade das toninhas, que são exclusivas do Atlântico Sul Ocidental e consideradas a espécie de golfinho mais ameaçada de extinção na região. A morte de quatro indivíduos em um único dia é especialmente preocupante, porque a população dessa espécie já é extremamente reduzida e cada perda tem um impacto significativo.