Opinião
Uma Olimpíada de ensinamentos
O mundo se despede de Paris e das boas e (e também más) lições que o esporte é capaz de nos trazer
Última atualização: 09/08/2024 23:18
Desde a sua abertura "diferenciada", com direito até a controvérsias religiosas (a Última Ceia x Festa dos Deuses) , a momentos de fraternidade (em esportes como skate, surfe e ginástica) ou de ânimos mais exaltados (como no futebol e vôlei), a Olimpíada de Paris vai se encerrando com várias lições e momentos de destaque.
Sim, toda Olimpíada traz situações que chamam mais a atenção, mas esta edição de Paris trouxe muitas novidades, que podem ser vistas como boas e outras nem tanto.
Sinceramente, a abertura com desfile de delegações no dito 'despoluído" Rio Sena foi um tanto monótona em alguns momentos. Mas a ideia de, após 100 anos de tradição, quebrar o protocolo da abertura em um estádio olímpico, fazendo atos descentralizados em alguns pontos icônicos da bela Paris, foi muito boa.
E o cenário ainda possibilitou que muitas pessoas vissem de graça a festa, já que na parte da altura das ruas das margens do rio não se cobrou ingresso - apenas nas arquibancadas próximas ao trecho do Sena que recebe a cerimônia.
Este modelo talvez possa inspirar os organizadores a promoverem eventos mais populares, com acesso gratuito, democratizando mais os Jogos Olímpicos para a população que não tem como pagar 40, 50, 100 euros (o que dá de mais de 200 reais para cima no ingresso) e daí para cima.
Mas talvez o maior exemplo - e que deveria sempre ser exemplo - foi a demonstração verdadeira do velho ditado "o que vale é competir", principalmente porque estar nos Jogos Olímpicos é estar literalmente no Olimpo dos atletas do planeta. O fato de estar ali já é uma conquista. O atleta representa seu país como um dos melhores no seu esporte.
Ficam desta Olimpíada os sorrisos, abraços, reverências e choros da ginástica, do skate e do surfe como exemplo. Ver um competidor torcer pelo sucesso da manobra do outro e cumprimentá-lo de forma sincera é algo que valoriza cada momento do esporte olímpico.
Infelizmente, no futebol, vimos momentos pobres de espírito, aliás, como de costume ocorre neste esporte. Provocações como a da atacante brasileira fazendo careta para a goleira espanhola e das espanholas que ao perderem do Brasil desdenharam uma história construída com sacrifício pelas jogadoras brasileiras é lamentável. No futebol masculino, Argentina e França também protagonizaram cenas lamentáveis.
Mas é um exemplo do futebol pelo mundo, com artimanhas, simulações, provocações e cada vez menos fair play, apesar de câmeras vigiarem os jogadores minuto a minuto.
O vôlei até melhorou, mas as provocações ainda são visíveis nas maiores rivalidades.
Só que o carinho e os elogios trocados por Simone Biles e Rebeca Andrade ou de Rayssa Leal e suas colegas skatistas é muito mais relevante e um modelo para as novas gerações.
E o que dizer do exemplo do talentoso e experiente skatista Pedro Barros? Ele abraçou forte seus colegas - principalmente Augusto Akio, o Japinha, para quem ele perdeu o bronze - e também o bicampeão olímpico, o australiano Keegan Palmer, e ainda deu essa declaração em entrevista à TV Globo:
"A gente, em um país tão precário, com tanta falta de apoio, colocou três brasileiros na final. Isso mostra que, quando se tem vontade e determinação, com amor pelo que se faz, tudo é possível. A essência vai muito além da competição. Vai do olho no olho, do carinho e do abraço. Sempre seremos mais fortes quando estamos unidos".
Ou ainda ver Gabriel Medina, um multicampeão mundial do surfe, festejando um bronze com alegria; ou a lenda viva do tênis, o sérvio Novak Djokovic, festejando o ouro olímpico com lágrimas nos olhos.
Estes são exemplos que devem ser seguidos. Os mais puros ouros olímpicos.
A Olimpíada de Paris deve dar seu adeus neste domingo, com direito a Tom Cruise levando a tocha em direção aos Estados Unidos para Os Jogos Olímpicos de Los Angeles 2028.
E espera-se que a missão possível nestes quatro anos que se seguirão será a de incentivar mais o esporte, principalmente no Brasil, que agora precisa impulsionar novas Rebecas, Dudas e Anas, Beatrizes, Isaquias, Alisons, Rayssas, Japinhas, Pedros, Medinas, Tatis, Calderanos, Martas e por aí vão vários nomes que fizeram a bandeira brasileira subir no pódio de Paris e tantos atletas que fizeram milhões de brasileiros torcerem por categorias que a gente não costuma acompanhar.
Que a chama olímpica acesa nestes últimos dias se mantenha acesa sempre, dentro do melhor espírito de que é preciso buscar seu sonho, mas sem que, para isso, seja preciso criar inimigos. Os adversários servem para que o atleta busque se superar, buscar o seu melhor. Não para escárnio ou raiva.
Os Jogos Olímpicos de Paris chegam ao seu final destacando que Liberdade, Igualdade, Fraternidade são cada vez mais necessários para que o ser humano se supere para o bem, e não para o ódio que nos últimos tempos tem tornado tão amarga a vida de tanta gente.
Ouro, prata, bronze a todos que subiram ao pódio ou não, e a todos - atletas ou não - que sabem valorizar o respeito e o amor ao próximo.
Merci, Paris! Come Los Angeles!