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MÚSICA

Todo mundo é rapper

O rap deve necessariamente dar um recado social, mas antes deve deixar um rasto musical

Mauro Blankenheim - Colunista | abcmais.com
Publicado em: 24/10/2023 às 07h:00
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O fim de uma tendência é quando ela deixa de ser tendência e passa a ser uma obrigatória unanimidade.

É o que acontece hoje com o rap. O artista se apresenta como rapper, antes de ser músico. Se apresenta como rapper antes de ser candidato em programas de televisão. Antes de tocar qualquer instrumento para acompanhar sua própria voz, ele se anuncia rapper. E assim caminha a humanidade. Reta e direta para contemplar e consumir um único gênero musical: o rap.

Todo gênero é impermeável a uma única característica: a qualidade. Existe rap ruim e rap bom. Como em qualquer atividade humana. A letra é importante no rap, mas as harmonias bem escolhidas, muito mais. O rap deve necessariamente dar um recado social, mas antes deve deixar um rasto musical. Do contrário, figurará entre as mais ilustres e abomináveis criações da arte, como o pagode, o samba, o funk e outros tantos ainda menos votados, quando mal executados.

No Brasil, como em outros tantos lugares, nossa capacidade musical pode transformar o rap em algo audível, com qualidade, graças à nossa incomparável criatividade musical e à indiscutível competência de nossos músicos profissionais e amadores.

O Brasil pode salvar o rap. Aqui, um compositor do Rio de Janeiro transformou em sucesso mundial a bossa nova, com uma única nota – imagine só – e um hino a uma trivial garota da praia de Ipanema. O cantor baiano João Gilberto lotou sessões no Carnegie Hall trajando apenas um banquinho e um violão, além de sua voz entre malemolente e sussurrante. No Brasil, com nosso talento nato e nossa linguagem fusion, tudo é validado.

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