Opinião
Tempestades de ensinamentos do El Niño
Desde junho, com o início do El Niño, o Rio Grande do Sul vive sob a preocupação de eventos climáticos severos; as autoridades e a população precisam usar esta vivência e aplicá-la na prevenção
Última atualização: 19/01/2024 19:34
Desde junho do ano passado, várias cidades gaúchas (inclusive as da nossa região) têm sofrido com os temporais severos, frutos do fenômeno El Niño, que por aqui causa este calorão seguido de enxurradas.
Nesta última semana, no domingo e depois na terça-feira, mais uma vez, várias comunidades foram afetadas. A capital Porto Alegre viveu (e ainda vive as consequências disso com falta de água e luz em muitos locais) momentos de aflição e indignação com o vendaval. Mas será que era preciso se passar por tudo isso dessa forma que vem acontecendo?
E vem mais por aí
Já é sabido que este cenário de instabilidade climática deve se estender por todo o verão, com mais ou menos gravidade. A previsão é de que o El Niño siga agindo por aqui até abril, causando episódios de tempestade de menor ou maior intensidade.
Nossa parceira meteorológica, a MetSul, vem alertando sobre estas consequências do El Niño desde junho. Há 20 anos previu um tornado em São Francisco de Paula que causou grande destruição, e que teve ignorado o alerta por autoridades e até por veículos de imprensa aqui da região metropolitana - estava de plantão e estampei na capa do jornal o alerta na época, confiando na informação do meteorologista.
Pelo menos hoje em dia as autoridades já não fazem pouco caso dos alertas climáticos e toda a imprensa está igualmente atenta para divulgar. E há uma rede montada a partir do governo do Estado que espalha alertas para os grupos de Defesa Civil de todos municípios, que, por sua vez, buscam alertar moradores e imprensa.
Então, se dizer surpreendido não é mais resposta aceitável. As autoridades e serviços precisam estar preparados para as consequências de um temporal e também se prevenir. Traçar planos e estratégias preventivas. Não esperar para ver o que vai acontecer e aí agir.
A obrigação da prevenção
As prefeituras e o governo do Estado já entenderam que a prevenção é uma obrigação. As empresas/concessionárias que prestam serviços também devem seguir esta linha. Não esperar para remediar; agir preventivamente é essencial e uma obrigação.
É preciso, por exemplo, fazer a a poda de árvores de grande porte que possam causar riscos à rede elétrica, a casas e prédios ou mesmo aquelas que possam cair na rua, ameaçando veículos e pedestres.
É preciso verificar postes de iluminação, outdoors, marquises e outras situações que possam causar risco às pessoas ou à prestação de serviços, como luz, água e Internet.
A manutenção de redes pluviais (principalmente a limpeza de bocas de lobo entupidas), desassoreamento de arroios e rios - algo que algumas prefeituras já vêm tendo maior atenção -, e a limpeza de terrenos baldios e ruas. São ações que devem ser sistemáticas e rotineiras.
E aí a população também precisa fazer sua parte jogando o lixo e os entulhos onde deve. Não deixar nas ruas, terrenos vazios ou em cursos de água. E se alguém deixar, as prefeituras devem exercer a fiscalização e agir para que este material que pode causar problemas em enxurradas seja recolhido.
A população também têm a obrigação de alertar as autoridades para riscos de queda de árvores, postes deslizamentos, alagamentos, bueiros entupidos, e, os órgãos responsáveis, por sua vez, têm a obrigação de verificar a necessidade de intervenção.
Além disso, a questão de áreas alagadiças deve ser tratada de forma mais efetiva e séria. Não há mais como se permitir a instalação de casas em zonas de risco. E é preciso buscar a transferência de quem vive nestes locais ou em casas em barrancos (ou na base deles) com riscos de deslizamento.
Enfim, após todas as enxurradas dos últimos meses, as lições climáticas precisam ser levadas a sério.
Foi assim que os diques de São Leopoldo, por exemplo, foram erguidos há 50 anos, evitando que a cidade ficasse submersa a cada cheia do Rio do Sinos.
É verdade que o temporal é previsível, mas não suas consequências. Mas não dá mais para “culpar” o clima. É preciso trabalhar melhor a prevenção e não apenas fazer quando o pior já ocorreu.
Nesta última semana, no domingo e depois na terça-feira, mais uma vez, várias comunidades foram afetadas. A capital Porto Alegre viveu (e ainda vive as consequências disso com falta de água e luz em muitos locais) momentos de aflição e indignação com o vendaval. Mas será que era preciso se passar por tudo isso dessa forma que vem acontecendo?
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Nesta última semana, no domingo e depois na terça-feira, mais uma vez, várias comunidades foram afetadas. A capital Porto Alegre viveu (e ainda vive as consequências disso com falta de água e luz em muitos locais) momentos de aflição e indignação com o vendaval. Mas será que era preciso se passar por tudo isso dessa forma que vem acontecendo?