REFLEXÕES
Quando chega a fase de viver sem amarras e salto alto
Agora entendo que quem chega à última fase da vida deveria apenas querer ser. E ser funcional
Última atualização: 07/02/2024 11:16
Já teve um tempo que só andava de salto alto. O salto era uma forma de elevar minha autoestima. Um objeto que me deixava mais próxima de minhas amigas longilíneas.
Durante muitos anos realizei pesquisas em formato de grupos focais com mulheres de todas as idades e descobri que o salto alto traz mesmo a sensação de empoderamento além de “empinar” o bumbum, como afirmava a maioria.
Dia desses, vi numa loja uma jovem ostentando um salto altíssimo e bico fino, num sapato laranja fosforescente e com o corpo sufocado por um vestido tão justo a ponto de lhe revelar as formas. Tive vontade de me auto abraçar ao perceber que jamais gostaria de estar me equilibrando em seu lugar, tampouco de atrair olhares curiosos.
O incidente me levou a dar conta de que entrei numa fase em que me assumi e aceitei as minhas características físicas, inclusive as que outrora me incomodavam: branca, sardenta e de pouca bunda. Naquele momento percebi que gostaria de aconselhar gurias como aquela, que pela idade, poderia ser minha neta. Mas quem ouve conselhos de vovó?
Hoje sei que deveria ter ouvido minha mãe quando pedia para que parasse de lagartear e de passar Coca-cola com óleo de urucum pra fritar a pele. Teria me poupado das horas de cirurgia para retirada dos carcinomas no rosto. Também deveria ter evitado os bicos finos e saltos altos que originaram joanete, cuja retirada cirúrgica alterou a fisiologia do pé a ponto de atingir o tornozelo que me impede de caminhar com plenitude.
Agora entendo que quem chega à última fase da vida deveria apenas querer ser. E ser funcional para poder aproveitar cada momento presente. Com pés, joelhos e pernas capazes de mover-se com certa leveza. Com olhos que enxergam as coisas deste mundo e capazes de se voltar para si mesmo com a consciência de todas as possibilidades dadas pela natureza divina.
É. Acho que cheguei na fase da gratidão.
Durante muitos anos realizei pesquisas em formato de grupos focais com mulheres de todas as idades e descobri que o salto alto traz mesmo a sensação de empoderamento além de “empinar” o bumbum, como afirmava a maioria.
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Durante muitos anos realizei pesquisas em formato de grupos focais com mulheres de todas as idades e descobri que o salto alto traz mesmo a sensação de empoderamento além de “empinar” o bumbum, como afirmava a maioria.