Opinião
Por uma sociedade desarmada
Caso de tiroteio de Novo Hamburgo levanta novamente a questão da posse de armas
Última atualização: 25/10/2024 22:57
Há uma semana, após uma sequência de revoltantes crimes contra crianças, em casos repletos de crueldade e, pior, envolvendo pais, redigi o texto Crianças em um Mundo Doente, tratando da urgente necessidade de proteção contra a violência crescente em nossa sociedade.
Mas a doença deste mundo é muito mais ampla em seu âmago. O caso em Novo Hamburgo no qual um homem de 45 anos, em posse de armamento legalizado (com grande estoque de munição), matou pai, irmão e dois PMs, além de deixar oito feridos (inclusive a mãe e a cunhada) - sem falar nas pessoas traumatizadas - em meio a um surto psicótico, abriu mais uma vez o debate sobre posse e porte de armas.
Afora a discussão sobre o direito do cidadão (principalmente em profissões de risco) ter armas para sua defesa, a questão é que neste caso nos deparamos com o agravante de uma pessoa com problemas psicológicos e com internações, inclusive, ter armas em seu poder. E, pior: legalizadas. Avalizadas por laudo médico e aprovadas em órgãos de segurança.
É, sem dúvida, uma falha do sistema. É preciso maior rigor na avaliação para liberação de pessoas armadas. Não interessa se é colecionador, caçador (o que, convenhamos, por ser para um fim "esportivo", já é discutível nestes tempos em que buscamos a proteção dos animais) ou atirador "desportista".
Na tragédia hamburguense é gritante o fato de uma pessoa desequilibrada ter armas e muita munição em casa. Imagine se houvesse crianças na casa ou nas ruas próximas ao crime...
Os policiais mortos, os familiares mortos, as pessoas feridas certamente não esperavam o que aconteceu. Ninguém esperava. Mas será que não era de se esperar um momento destes sabendo-se que ume pessoa com problemas de transtorno mental, no caso esquizofrenia, tem armas e muita munição em mãos? Basta uma centelha para a pólvora explodir. E, neste caso, explodiu violentamente.
As mortes desta tragédia estão na conta da falta de rigor na prevenção, na fiscalização, na segurança.
E, é claro, quando se fala na questão de pessoas armadas, é preciso sempre cobrar das autoridades que se desarme a criminalidade. Este é o ponto que faz com que parte da população ainda se mantenha favorável à posse e porte de armas.
A princípio sou contra armas. Mas o problema é o que a nossa segurança pública não consegue eliminar das mãos dos criminosos as armas. E se não consegue isso, abre espaço para o direito de um cidadão ter uma arma para se defender. Ah, mas violência gera violência...
É verdade, só que nos últimos tempos os criminosos estão ainda mais cruéis, e em um confronto acabam matando suas vítimas. Então, a pessoa armada teria pelo menos uma chance de se defender. Pode dar tudo errado? Sim, pode. Mas se o portador da arma tem o treinamento necessário, ele tem sua chance de sair vivo. É absurdo, mas, ainda assim, compreensível.
CONFIRA: Veja como ficou o interior da casa onde houve o ataque a tiros em Novo Hamburgo
Não vivemos em um mundo perfeito, infelizmente. Ninguém deveria ter armas de fogo. Não deveríamos ter uma criminalidade tão feroz e crescente. Mas há tempos falhamos como sociedade.
Se o governo quer desarmar, o começo é em desarmar os criminosos. Assim os milhares que ainda defendem ter armas recuariam na ideia de ter arma para se defender do criminoso. Mas sabemos que é uma tarefa pouco crível: desarmar o crime e deixar todos sem armas.
Então, se vamos seguir neste caminho, o controle de armas tem que ser mais rigoroso. O governo promete isso para 2025. Mas não pode só tratar apenas de restringir armas para cidadãos, mas também combater de forma mais dura o crime armado.
A sociedade pede paz. É preciso tomar medidas contra violência. Como dito no artigo Crianças em um Mundo Doente é preciso buscar remédios urgentes para esta doença insana e crescente da violência.
E, ao invés de ir falar imbecilidades - como disseram corretamente as autoridades nesta semana, sobre comentários nas redes sociais que atacavam policiais - é preciso que as pessoas entendam que elas fazem parte do problema também, ainda mais quando buscam o "olho por olho, dente por dente".
Entende-se que revolta quando um criminoso tira a vida de uma vítima. Eu mesmo me revolto de uma maneira insana quando atacam uma criança indefesa, seja matando ou abusando. Acho indefensável qualquer ataque a uma criança. É preciso punir rigorosa e exemplarmente um criminoso deste tipo.
É preciso buscar um remédio contra a violência. Qual? Sinceramente, não sei, mas temos que discutir soluções mais efetivas. Para começar, o cumprimento correto da lei. E talvez rediscutir as leis. Torná-las cumpríveis e mais rígidas. É o primeiro passo de vários que teremos que dar em busca de frear e até curar esta insana escalada de violência em nossa sociedade.
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Mas a doença deste mundo é muito mais ampla em seu âmago. O caso em Novo Hamburgo no qual um homem de 45 anos, em posse de armamento legalizado (com grande estoque de munição), matou pai, irmão e dois PMs, além de deixar oito feridos (inclusive a mãe e a cunhada) - sem falar nas pessoas traumatizadas - em meio a um surto psicótico, abriu mais uma vez o debate sobre posse e porte de armas.
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Mas a doença deste mundo é muito mais ampla em seu âmago. O caso em Novo Hamburgo no qual um homem de 45 anos, em posse de armamento legalizado (com grande estoque de munição), matou pai, irmão e dois PMs, além de deixar oito feridos (inclusive a mãe e a cunhada) - sem falar nas pessoas traumatizadas - em meio a um surto psicótico, abriu mais uma vez o debate sobre posse e porte de armas.