Pagar pelo WhatsApp

Atualmente, a maior parte dos brasileiros utiliza planos de dados móveis que permitem acessar redes sociais como WhatsApp sem custo. Isso pode mudar em breve. Não parece, mas pagar pelos dados para usar redes sociais no celular será ótimo para os consumidores.

Há muitos anos, fazia sentido diferenciar os smartphones dos demais celulares. Eram inteligentes os aparelhos com acesso à Internet e funções similares àquelas de computadores. Agora, todos os celulares são smartphones. Assim que eles baratearam no Brasil e os planos de dados com maior velocidade passaram a se popularizar, as empresas de telefonia móvel fizeram um acordo sujo com as redes sociais: as primeiras recebem alguma compensação financeiramente relevante em troca de isentaram seus usuários do consumo de dados quando usam redes sociais poderosas.

O acordo não é que aplicativos bons ou inovadores passam a significar zero reais na conta de celular do brasileiro. É que os aplicativos das empresas com dinheiro para burlar o sistema da Internet têm posição privilegiada.

Determinada rede social pode oferecer um serviço de péssima qualidade para o usuário - por exemplo, em razão da poluição de fake news - e ainda assim continuar sendo beneficiada pela empresa de telefonia. Outra rede social pode ser mais inovadora, mais eficiente, menos desinformativa e, porque não possui muitos milhões para comprar o custo dos dados móveis dos usuários, fica em posição de desvantagem.

Acordos assim, chamados de "zero rating", existem em outros países e as ONGs de defesa do consumidor e pesquisadores denunciam o problema há anos. Viola a concorrência. Uma rede social atrai mais usuários não porque presta serviço melhor, mas porque possivelmente presta serviço pior e banca o acesso. Por razão desconhecida, a Anatel falhou gravemente em proteger os consumidores e a livre concorrência na Internet.

A salvação inesperada vem da ganância das empresas de telefonia. Não estão mais satisfeitas com a dupla cobrança que fazem das redes sociais pelo tráfego de dados. Querem uma alternativa que aumente a receita. Ameaçam agora, em declarações públicas, passar a cobrar dos usuários pelo consumo de dados.

Se isso acontecer, voltará a existir concorrência real na Internet. Os usuários vão escolher seu aplicativo apenas pela qualidade e não porque um é de graça e o outro pesa no plano de dados. Ganham os consumidores, ganha a competição na Internet, ganha a inovação.