Opinião
O preço e o futuro do pedágio free flow
Os primeiros pórticos das RSs 122 e 240 serão o ponto de partida para um sistema que inevitavelmente vai se espalhar por todas nossas rodovias
Última atualização: 02/02/2024 20:18
Em agosto do ano passado, aqui no espaço de Opinião, quando o governo do Estado liberava a adoção do novo sistema de cobrança de pedágio eletrônico free flow nas rodovias gaúchas, já se alertava para polêmica que viria e que ainda vai vir em um futuro que se mostra não muito distante.
Não há dúvida que o novo sistema torna o fluxo livre (tradução literal de free flow) nas rodovias pedagiadas, eliminando as longas, incômodas e quilométricas filas das cancelas em praças de pedágio.
O sistema é o início do fim das praças de pedágios, que serão substituídas pelo pórticos eletrônicos, estruturas metálicas muito menos onerosas que as praças de concreto.
É prática a cobrança automática no novo pórtico, equipado com sistema que lê a placa do seu veículo e gera a cobrança eletrônica, podendo ser ela quitada via tag (os adesivos cada vez mais adotados e, possivelmente, o modelo que passará a ser padrão mais utilizado nesta nova era free flow), além do aplicativo da concessionária (aqui no RS, no caso, por enquanto apenas a CSG tem pioneiramente o sistema em ação) ou até em totens em bases operacionais da concessionária.
Os novos pórticos já estão instalados nas RSs 240, em Capela de Santana, e 122, em São Sebastião do Caí e Antônio Prado, onde o primeiro ponto do sistema já está operacional desde dezembro passado.
E, acredite, isso vai se espalhar por nossas rodovias nos próximos anos (talvez até já nos próximos meses). A questão é como ( e quando) os governos federal e estadual irão liberar estas novas formas de cobrar pelo uso e melhoria das rodovias.
A adaptação ao pagamento da tarifa
O sistema free flow traz mais praticidade às concessionárias e até aos motoristas, que, é claro, terão que se adaptar à nova forma de pagar a tarifa. E as concessionárias já estão buscando que seus usuários adotem as cada vez mais propagadas tags.
A CSG, concessionária responsável pelo bloco 3 de rodovias gaúchas (a primeira concessão de três previstas no Estado), que incluem, entre outras, as RSs 240 e 122 aqui da região, está incentivando em suas redes sociais e site a adoção das tags para o seu sistema free flow, que neste mês de fevereiro deve passar a ter seis pórticos em funcionamento, incluindo os de Capela de Santana e São Sebastião do Caí, no Vale do Caí.
Na free way (BR-290), por exemplo, a concessionária CCR ViaSul, na busca de aliviar as longas filas em suas praças de pedágio, incentiva a adoção do sistema de tags pelos motoristas, que passam pelas cancelas de cobrança automática. É exatamente o mesmo mecanismo do free flow - a diferença neste caso é que ainda há a cancela.
A tag, sem dúvida, será a opção mais prática no pagamento do novo sistema de pedágio. Um negócio, aliás, que cada vez mais cresce no País.
A cobrança dobrada
Bom, esta é a nova polêmica do free flow nesta primeira concessão de rodovias gaúchas: a tarifa, assunto de destaque no abcmais da última quarta-feira que antecedeu o reajuste do pedágio de Portão.
O atual sistema de cobrança do pedágio de Portão (que fica no limite das RSs 240 e 122) é de cobrança apenas em um sentido, mas o valor era a soma de ida e vinda nos tempos da EGR, que ainda administra, por exemplo, o pedágio de Campo Bom, na RS-239, que antes da concessão era similar ao portanense. Inclusive os dois tinham o mesmo valor até 2021. Hoje, a tarifa na RS-239 - a mais baixa do Estado - é de R$ 3,25 (R$ 6,50, ida e volta, no caso).
Com a concessão, o pedágio de Portão praticamente teve o preço dobrado (R$ 12,30 desde o dia 1 de fevereiro), mas se manteve a cobrança no sentido único.
Portão tinha cobrança em sentido único para facilitar a passagem na praça - a ideia do Estado na época era evitar longas filas no local nos dois sentidos devido ao número limitado de cancelas e o grande fluxo de veículos.
Mas a "novidade" nada boa da implantação do free flow é que este valor que era único em um sentido será praticado nos dois sentidos a partir do funcionamento do pórtico de São Sebastião do Caí, na RS-122. Ou seja, a ida e volta custará R$ 24,60 quando a cobrança eletrônica entrar em ação.
No caso de Capela de Santana, na RS-240, o valor será de R$ 9,00 (R$ 18,00 ida e volta).
Convenhamos, é um pulo no bolso dos motoristas (estamos falando apenas dos veículos de passeio).
Sim, serão muitos os investimentos nas rodovias a partir deste segundo ano da primeira fase da concessão e até 2025, 27 e na primeira década de concessão.
Mas o salto do pagamento atual da praça do pedágio de Portão para o free flow é grande. O dobro! E fica ainda mais salgado se o motorista usar a 122 e a 240, pois aí pagará R$ 42,60, mais que o triplo que paga hoje passando por Portão.
O que virá pela frente
Nossas rodovias necessitam de melhorias e ampliações. Mas também é preciso que o Estado imponha alguns limites. É muito fácil para o governo estadual passar toda a sua malha rodoviária para a iniciativa privada, não ter mais que investir nesta área e ainda lucrar com isso, permitindo tarifaços de pedágio .
Mas os governantes têm que respeitar o contribuinte, que cada vez mais vê impostos, taxas e tarifas consumirem seus ganhos. E aí que estamos falando da classe média, que se sustenta entre cálculos de como vai fechar o mês sem ficar no vermelho.
O bom do free flow é o que também preocupa: ele é fácil de instalar e não causa obstáculos ao trânsito.
Um pensamento que se faz: um dos motivos das BRs 116 (no nosso trecho aqui de Novo Hamburgo a Porto Alegre) e 448 não ter pedágios é que provocariam engarrafamentos quilométricos. Mas com o free flow isso não é mais problema. Os pórticos podem ser instalados em "qualquer lugar" (este é outro tema que deve render muitas discussões). Ou seja, é muito provável que a 116, após todas estas melhorias que estão sendo feitas (principalmente no engarrafado trecho leopoldense), possa a ser um novo trecho concedido pelo governo federal que nesta semana anunciou novos trechos para concessão.
Esta "facilidade" do free flow terá o lado bom e ruim. O bom é que se projeta que com a instalação de vários pórticos poderão ser cobradas tarifas por quilômetro rodado na rodovia, o que é justo, desde que o valor do km rodado seja justo.
Só que isso parece que será algo para o próximo ano ou mais adiante, ainda. E vale lembrar que o Estado tem ainda a concessão de mais dois blocos de rodovias estaduais, que incluem as RSs 239, 118, 115, 020, 040, 474, para citar algumas aqui da região metropolitana ou próximas.
Estas já devem ser concedidas com free flow, entrando aí a polêmica da RS-118 (outra novela), que tinha promessa eleitoral de não ser pedagiada.
E assim vai ser: fluxo livre para soluções e polêmicas nos próximos anos.
Não há dúvida que o novo sistema torna o fluxo livre (tradução literal de free flow) nas rodovias pedagiadas, eliminando as longas, incômodas e quilométricas filas das cancelas em praças de pedágio.
Conteúdo exclusivo para assinantes
Para ver este conteúdo na íntegra, é necessário que você seja assinante
Não há dúvida que o novo sistema torna o fluxo livre (tradução literal de free flow) nas rodovias pedagiadas, eliminando as longas, incômodas e quilométricas filas das cancelas em praças de pedágio.