ARTE
O legado de Beatriz
Beatriz é um desafio que, uma vez vencido, coloca o cantor num patamar diferente
Última atualização: 09/09/2024 20:49
Para cantar Beatriz, de Edu Lobo e Chico Buarque, é preciso ter a mesma coragem que os jovens advogados têm para enfrentar o Exame da Ordem. A canção de 1982 passou a ser pré-requisito para vocalistas de todas as gerações angariarem respeito na profissão e virar a chave para uma carreira de sucessos, shows e sucessivos álbuns.
De solfejo complicado, Beatriz é um desafio que, uma vez vencido, coloca o cantor, homem ou mulher, num patamar diferente da plebe que exibe suas notas mais sofisticadas no box do banheiro, sob a ducha do chuveiro.
Fui checar os peitudos que arriscaram essa travessia e encontrei nomes como Ana Carolina, Jorge Vercillo, Zizi Possi, Cida Moreira, Maria Bethânia, Mônica Salmaso e o rei, Milton Nascimento, que parece ensinar a todos. No entanto, na mesma medida em que puxa a qualidade para cima, extrai o melhor de cada um.
Sem me aprofundar na pesquisa, me pergunto se Edu musicou a partitura ou Chico letrou a melodia. Acho que a música saiu antes. Não, não, Edu deve ter musicado a poesia. Penso melhor: os dois fizeram juntos. Só pode. Impossível uma obra-prima dessas sair de uma única cabeça sem a estimulação e a provocação da parceria. A proficiência dos autores exige o máximo dos audazes solistas.
Obtendo a autoaprovação ao julgar o desempenho dos artistas, os autores respiram aliviados ao se sentirem certos de que liberar os direitos de execução não comprometeu a genialidade da sua criação. Ana Carolina, a que mais personaliza a canção, traz a leitura do atual, ao fazê-la esnobando melismas, somente com violão dedilhado na base e pinceladas de tons jazísticos.
De solfejo complicado, Beatriz é um desafio que, uma vez vencido, coloca o cantor, homem ou mulher, num patamar diferente da plebe que exibe suas notas mais sofisticadas no box do banheiro, sob a ducha do chuveiro.
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De solfejo complicado, Beatriz é um desafio que, uma vez vencido, coloca o cantor, homem ou mulher, num patamar diferente da plebe que exibe suas notas mais sofisticadas no box do banheiro, sob a ducha do chuveiro.