Opinião
O free flow mais perto e ainda com muitas indagações
Os anúncios da instalação do sistema na RS-122 e, na sequência, na 240, apontam um novo tempo tempo no pedagiamento das rodovias gaúchas, que traz vantagens, questões e polêmicas
Última atualização: 25/10/2023 16:12
O tão comentado novo sistema de pedágio automático - o free flow - vai começar pela Serra gaúcha, no quilômetro 108,2 da ERS-122, em Antônio Prado, implantado pela concessionária Caminhos da Serra Gaúcha (CSG).
O primeiro pórtico eletrônico das rodovias gaúchas já começou a ser instalado nesta semana e deve estar com as câmeras colocadas em outubro, com testes em novembro, e, se tudo correr dentro do planejado, o novo sistema de cobrança se iniciará em dezembro, quando, então, deve ser desativada a praça de pedágio com suas cabines de cobrança em Flores da Cunha.
Depois, virão mais cinco, entre eles os dois que substituirão a atual praça de pedágio de Portão: na 240, em Capela de Santana; e em São Sebastião do Caí, na 122.
Para estas duas cidades a cobrança já está prevista para ser iniciada em fevereiro, ou seja, seria o prazo para desativar o pedágio físicos com suas cabines em Portão que é centro de uma batalha da Prefeitura portanense com a CSG. Os dois lados brigam na Justiça - com o Estado, que concedeu as rodovias por 30 anos, só de espectador - sobre a permissão ou não dos desvios feitos pela municipalidade após cair a isenção de cobrança para moradores da cidade.
Aliás, essa será uma outra batalha entre prefeituras e concessionária que deve ser iniciada com o free flow. Certamente algumas cidades buscarão traçar desvios dos tais pórticos eletrônicos, oferecendo acessos que "driblem" a estrutura de cobrança em nome da isenção de seus moradores.
Também é verdade que a concessionária estudará e escolherá pontos chave para seus pórticos, em locais difíceis de serem desviados, para que não haja evasão de cobrança. A pergunta é se os municípios não vão acabar até abrindo ruas urbanas para fazer os desvios. E aí teremos um embate na Justiça, como hoje ocorre em Portão. Como diz a cantora Anitta: prepara!
O futuro
O novo sistema eliminará as incômodas paradas em filas para pagamento de praças de pedágios, um ponto mais que positivo (certamente isso acabará migrando para as nossas BRs em um futuro bem próximo).
Mas isso exigirá atenção do motorista no pagamento. Ele terá que ser pago em até 15 dias, via site da CSG ou por aplicativo que será disponibilizado. Não pagou? Vem aí a multa por evasão de pedágio, grave, com multa de R$ 195,23 e a soma de cinco pontos na CNH.
A outra forma de pagamento já é conhecida (e deve ser adotada por muita gente devido a esse novo sistema): a cobrança via tag (a etiqueta eletrônica), que funcionará como se o usuário passasse pela cancela da já conhecida "cobrança automática", onde o valor da tarifa é direcionado para a tag da empresa que o usuário utiliza.
Esse ponto é interessante, até porque hoje, quando esta cancela da cobrança automática não funciona, ela barra o usuário. Bem, isso não acontecerá mais. E se a tag não funcionar, é bom que o usuário saiba será cobrado pela leitura da placa dos eu veículo. Então, terá que ficar atento a isso. Como isso será avisado? Bom, esta é mais uma questão a ser respondida que ainda está "obscura".
Já quanto à "festejada" cobrança proporcional, por trecho percorrido (tipo, anda 10km paga um real; anda 100, paga dez, hipoteticamente), apesar de um diretor da CSG usar este ponto para destacar o free flow como um sistema mais justo, a concessionária informa que será no “futuro”, quando mais pórticos serão instalados. Ou seja, não tem prazo, mas, pelo que se desenha, deve ser para depois de 2025.
Modelo para outras RSs
E essa ideia de deixar para depois de 2024 é que deve balizar a entrega das outras rodovias estaduais que o governo pretende entregar à iniciativa privada com seu plano de concessões. O sistema free flow fará com que as empresas ao invés de investir em construção de pedágios agora invistam nas estruturas dos modernos pórticos eletrônicos.
Entre as rodovias que devem entrar nesta nova era está a RS-118, foco político de discussão exatamente sobre o seu pedagiamento (o governador Eduardo Leite tinha dito em campanha que não seria cobrado, mas...). Dificilmente o Estado, que precisa manter o trecho duplicado e ainda duplicar outra parte da Rodovia Mario Quintana, da free way em direção a Viamão e Alvorada, deverá deixar a 118 de fora do novo sistema de cobrança de uso das rodovias.
E aí entram também as já pedagiadas RSs 239, 115, 474, entre outras que hoje possuem praças de pedágios físicas, com as cabines de cobranças. Todas elas deverão entrar nesta onda free flow.
E aí, as cabines de cobrança, em breve, passarão a ser apenas uma memória de um tempo passado pelos usuários das rodovias, assim como as vagas de emprego oferecidas às pessoas que cobravam as tarifas nas praças.
Novos tempos são assim: trazem coisas boas, provocam outras más e sempre são questionados...
A única coisa certa na história toda das concessões é que o Estado vai sair ganhando e muito. Não precisará gastar dinheiro com as rodovias e ainda vai arrecadar um bom dinheiro para seus cofres arrombados por erros de gestão e inchamento da máquina.
Sim, usuário de rodovias, a conta agora é toda sua. Pelo menos, sem fila.