Na semana passada, Barbie e seu mundo rosa ofuscaram (e até ainda dominam as salas de cinema e a preferência do público) a estreia de um filme que é candidatíssimo ao próximo Oscar. Oppenheimer, do cineasta Christopher Nolan.
O filme sobre o cientista que criou com sua equipe a bomba atômica deve ter, pelo menos, umas seis a oito indicações para mais (talvez com umas cinco certas de vitória neste momento), entre elas as principais, como a de filme, diretor, ator (Cillian Murphy no maior papel de sua vida) e roteiro, além de montagem e provavelmente, fotografia, trilha sonora, inclusive podendo encaixar ainda ator coadjuvante (o sempre talentoso Robert Downey “de Ferro” Jr). E isso é só para começar…
A produção é uma daquelas que nos faz admirar ainda mais o aclamado diretor britânico, que tem no portfólio a recente trilogia Batman (O Cavaleiro das Trevas) ou, indo mais longe, o inovador Amnésia (Memento), lá do – caramba como o tempo passa – início deste século, além de bons roteiros como O Homem de Aço (em uma releitura do Superman).
E se o protagonismo de Murphy é forte (já está com uma mão no Oscar), igualmente são os nomes do elenco, que tem, além de Downey Jr, a talentosa (e, incrivelmente, nunca indicada a um Oscar) Emily Blunt, Florence Pugh, Matt Damon, Gary Oldman, Kenneth Branagh e Matthew Modine, entre muitos destaques.
Oppenheimer traz a história do “pai da bomba atômica”, o cientista norte-americano Julius Robert Oppenheimer (1904-1967), que com o projeto Manhattan criou a arma nuclear e mudou o curso da Humanidade (e até da desumanidade) encerrando a infame Segunda Guerra Mundial com os aterrorizantes ataques a Hiroshima e Nagasaki.
Baseado na biografia O Triunfo e a Tragédia do Prometeu Americano (2005), escrita por Kai Bird e Martin J. Sherwin, o filme – que tem até uma ponta de Einstein – traça a trajetória de vida (da juventude ao julgamento – não de forma uniforme, mas sempre tensa e até, digamos, excitante) do físico com todas reflexões possíveis sobre o ser humano.
Experiência
Como um Oppenheimer do cinema, Nolan não busca julgar os atos em torno da criação da bomba. Ele narra e usa seu poder de criação para detonar diferentes sensações para que o cinespectador tenha uma experiência imersiva de três horas de filme, em meio à tensão criada em torno da corrida para criar a arma que tem o poder de acabar com a vida no planeta e as consequências desta insana disputa.
Talvez esta seja a mensagem mais interessante de Oppenheimer. Nós estivemos – e ainda estamos – perto de acabar com a vida humana por um simples fator: a ignorância. A ignorância política e ambiciosa de poder que pode nos levar ao fim de tudo, à destruição.
Oppenheimer, o filme, não é fácil, assim como não era fácil entender o cientista. É um bizarro deleite para quem gosta de tramas bem produzidas e instigantes. Sem ser confortável, mas sempre deixando quem assiste com aquela angustiante sensação de quero mais.
Nolan, mais uma vez, bomba nossas mentes.
LEIA TAMBÉM