Não podemos tolerar termos 10 milhões de brasileiros analfabetos

"A família tem um bom carro. Por que não diriges?". "Seria importante leres o documento antes de assinar". Haveria incontáveis situações de constrangimento para citar. O problema é que as pessoas não sabiam ler nem escrever. Temos aproximadamente 10 milhões de brasileiros analfabetos. Me refiro não aos funcionais, mas sim aos que substituem a caneta pelo polegar.

No final da década de 1970, fui coordenador regional do Movimento Brasileiro de Alfabetização. Numa intensa campanha de conscientização, juntamente com professores e alunos das escolas municipais de Taquara, em um ano, mais de mil pais, avós e familiares de todas as idades aprenderam a assinar, escrever e a ler o básico. Mil analfabetos só num município? O número era maior. São os silenciosos excluídos da sociedade.

Os encontros de entrega dos certificados eram de comoventes revelações dos que, durante anos, sofreram com deboches e humilhações. "Eu me sentia uma ninguém quando, no cartório, me pediam uma assinatura com todos me olhando". "Minha filhinha, no Dia das Mães, entregava uma homenagem que trabalhara na escola; ela mesma tinha que ler e sentia pena de mim". "Não vou mais só prometer voto, farei meu titulo de eleitor" (até 1985 os analfabetos não votavam).

Não podemos mais tolerar essa realidade. Excluo os doentes, mas todo aquele que conosco convive, mesmo que conformado, resignado ou teimoso, merece atenção. É imensurável o bem que podemos fazer a alguém, alfabetizando-o ou encaminhando-o para, no mínimo, aprender o básico. É questão de dignidade e faz parte dos direitos fundamentais de qualquer pessoa.

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