A gente está acostumado a falar do menino Bernardo. Chorar pelo menino Bernardo. Lamentar o que aconteceu com o menino Bernardo. Se desesperar com o grito de socorro que pedia aos quatro ventos o menino Bernardo.
Mas cadê o menino dessa história?!
Uma criança que foi lhe ceifada a chance de viver a magia dessa fase da vida, até que lhe ceifaram a própria vida.
Bernardo não pôde ser menino. Não soube o privilégio que é o carinho e a proteção da infância e viveu à mercê do descaso e da crueldade de quem lhe deveria cuidar e amar.
O novo julgamento de Leandro Boldrini essa semana não só resgata na gente a sensação de tristeza, frustração, impotência… como reforça o quanto essa criança lutou para ser notada pedindo socorro. Uma cidade inteira era plateia de um teatro em torno dele, cujos bandidos se faziam mocinhos aos olhos do grande público, e nos bastidores eram protagonistas de uma morte que não começou no dia em que foi dopado e morto.
Morremos todos nós, inclusive, como sociedade. Fomos todos dopados diante da omissão de uma pseudo família. Enterrados junto com o descaso de cada pedido de ajuda da vítima. E hoje cada lembrança que volta ao tribunal de júri é uma nova pá de terra que viola a chance de viver de um inocente.
O que mais me corrói e dói é justamente saber quantos Bernardos ainda vamos permitir ter os sonhos interrompidos em um contexto familiar criminoso, somente lamentando depois ao invés de termos nos alertado para que outros tantos fossem protegidos, tendo em vista que mais de 80% dos casos contra crianças e adolescentes acontecem dentro de casa?!
Disque 100 para denúncias. Para que tantos outros meninos e meninas não sejam a dor que choraremos na próxima audiência.
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