VALE DO TAQUARI
E quando a água baixou, uma desgraceira difícil de contar
Última atualização: 25/10/2023 16:03
O Vale do Taquari é rico e exuberante. Povoado há 200 anos por imigrantes alemães e italianos, suas margens tornaram-se densamente povoadas por agricultores que produzem leite, carne e vegetais. Suas cidades e vilas prosperam. Comércio e indústria trazem mais riquezas para a região. Exemplos do que constrói o trabalho diário. As populações ultrapassaram os limites ribeirinhos de segurança. Aqueles da grande enchente de décadas atrás. E a água que desceu aos borbotões pelo rio transformou cidades e ruas em uma imensa planície vermelha.
Com declive acentuado, o rio, em enxurrada, levou consigo casas, automóveis, redes elétricas, galpões, pontes e animais. Os mais afortunados perderam pouco. São uma minoria. Vacas e tambores de leite desapareceram. Galpões de suínos e aves caíram sobre os animais. As lojas comerciais viram seus estoques tomados pelo lodo, quando não se foram com a enchente. Os vídeos, as centenas, retratam o desespero da população. Trabalhos de vidas, economias de gerações, esforços familiares constantes, tudo se foi.
Centenas de moradores abrigaram-se nos pisos superiores de suas casas, esperando a água baixar. As quadras esportivas municipais logo se atulharam de donativos, comidas, roupas e até a água potável que faltou. Cada casa uma tragédia. Pelo rio que virou mar. Pais, mães, filhos, irmãos, cunhados, vizinhos. Todos têm tristes lembranças recentes. Uma viúva, idosa e sozinha, abrigou-se no andar de cima da sua moradia. Quando a água baixou, uma desgraceira difícil de contar: próximo de sua casa, duas crianças vizinhas, desaparecidas, foram encontradas. Afogadas contra um aramado.
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