A música produz fenômenos com histórias incríveis, que conquistam, surpreendem e emocionam. E o cinema busca levar ao grande público os bastidores destas jornadas repletas de percalços e curiosidades, seja para relembrar, para celebrar ou para conhecer artistas que gravaram seus nomes na história da música.
Já vimos Cazuza, Tim Maia, Erasmo Carlos e por aí vai – e ainda vem muito mais, como a história do sucesso relâmpago dos Mamonas Assassinas, que deve chegar no início de 2024. Neste fim de semana entra no circuito duas histórias de carreiras construídas de forma totalmente diferentes, mas que mexeram com a nossa música e com brasileiros de diversas gerações.
Por toda a Minha Vida…
Um dos filmes que está chegando, infelizmente, em poucas salas de cinemas (na região, só em uma), é Elis & Tom, Só Tinha de Ser com Você, de Roberto de Oliveira (que foi quem guardou os filmes agora resgatados e que já foram mostrados em alguns programas) e Jom Tob Azulay.
Trata-se de um documentário sensacional com imagens e áudios históricos sobre as gravações de um dos melhores discos da MPB, que traz, entre tantas músicas, a incomparável Águas de Março.
As diferenças de Elis, então com 29 anos, e Tom, aos 47, que poderiam afastar os dois, na real, como mostra o filme, vão se somando e transformando as belas canções compostas por Jobim (e muitas divididas com o poeta Vinicius de Moraes) em um disco que é referência para várias gerações de músicos.
O encontro entre os dois tinha por trás um viés comercial e de estratégia de carreira. Por isso a figura do então jovem produtor musical Roberto de Oliveira ganha destaque neste disco e no filme, já que ele era o empresário da pimentinha gaúcha.
Elis já era um supersucesso nacional, mas, apesar de ser contra a ditadura, vivia em uma linha incômoda de ser colocada do lado do governo e precisava romper algumas barreiras com a crítica e subir novos degraus na MPB. Antônio Carlos “Tom” Jobim era já consagrado internacionalmente (a gravação com Frank Sinatra anos antes o havia catapultado mundialmente), mas carecia de maior aproximação do público brasileiro naquele momento.
Os dois se admiravam, mas como mostra o documentário, nem tudo foram flores no início, com Elis até ameaçando mandar tudo “à merda”, como sempre dizia ao ficar braba. Já Tom, adverso às modernidades, queria as coisas do seu jeito. No meio disso tudo, o jovem pianista e arranjador César Camargo Mariano, 30 anos, acabou fazendo o meio-campo, mas , claro, puxando a brasa para a “recém”-esposa, Elis. deu certo.
Elis & Tom foi um acontecimento, e que hoje, quase meio século depois, tem um frescor inebriante, hipnótico, relaxante, prazeroso e inigualável. É pau, é pedra, é flor, é poesia sem igual, nas notas e nos versos. Todas as músicas são de Tom, sendo algumas em parceria com o eterno parceiro Vinicius, além de Chico Buarque e Aloísio de Oliveira.
Este documentário celebra quase meio século da gravação de um disco sensacional resgatando filmagens e áudios de uma forma a transportar o cinespectador para o estúdio de Los Angeles. Não tanto quanto o disco (insuperável em sua perfeição), o filme é uma verdadeira pérola da nossa música efica uma única dica: assista, aprenda e se delicie com dois gênios da nossa música.
Minha terra, meu céu, meu mar
Já o outro filme musical estreando traz a dupla Claudinho e Buchecha, fenômeno nos anos 1990, com a trajetória abruptamente interrompida por um acidente de carro (em 2002) depois deles conquistarem o País com seus “tun-gu-dun-gu-tá-gundun” e “tchu-ru-rus”, com uma simplicidade cativante e um grande sorriso nos palcos.
A dupla traz todos aqueles ingredientes da origem humilde, persistência, talento, amizade, dramas e empatia que rondam muitas histórias de sucesso na música brasileira, principalmente em gêneros como funk e sertanejo.
O filme de Eduardo Albergaria vem tendo críticas favoráveis – que exaltam, principalmente, o emocional e a sensibilidade da história – e negativas – que apontam uma falta de consistência em traçar a trajetória da dupla do rap que consagrou o gênero pop funk melody.
Os atores Juan Paiva e Lucas Penteado interpretam os artistas com louvor e sensibilidade. Apesar de não haver uma semelhança física com a dupla, os dois encarnam espantosamente o espírito de Claudinho e Buchecha na hora de cantar e encantar nas cenas de palco.
Os hits estão todos em cena, como Conquista, Quero Te Encontrar e Só Love. Os caras venderam milhões de cópias dos seus discos, com poesia simples e romântica. Vale celebrar, sem preconceito, “só love, só love”…
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