Opinião
Dois meses da cheia histórica
Pode parecer pouco, mas é uma eternidade para quem ainda busca se recuperar do maior desastre climático da história do Rio Grande do Sul
Última atualização: 28/06/2024 22:00
Em meio ao frio que se inicia com o invernal mês de julho, dois meses estão sendo completados após o início do maior desastre climático do Rio Grande do Sul. E, após estes passados dois meses, ainda temos um longo caminho de reconstrução do Estado.
Para muitas pessoas a vida já segue "normal" novamente, mas ainda são milhares os gaúchos que batalham para se recuperar das enchentes.
E tem muita gente que sequer voltou para casa, seja porque seu imóvel não tem condições estruturais de ser habitado (seja por segurança ou higiene) ou até porque não existe mais - caso trágico, por exemplo, de moradores da cidade de Cruzeiro do Sul que viram parte de um bairro ser totalmente arrasado (e ter vidas levadas) pelas águas do Rio Taquari.
Do temporal do dia 27 de abril ao caos de 1 a 4 de maio, quando a cheia atingiu níveis históricos aqui na região, inundando e até destruindo casas e prédios, o Rio Grande do Sul viveu o terror de ser atingindo por chuvas e cheias como nunca antes se tinha visto. O fenômeno do início de maio de 2024 será uma triste página da nossa história.
Mas é preciso virar a página. E a urgência é máxima.
Sabe-se que os governos municipais, estadual e federal buscam meios de agilizar a ajuda (principalmente financeira, após a ajuda humanitária de acolhimento e alimentação) à população severamente atingida, para que ela possa se reerguer de forma inicial. São 5 mil reais aqui, 2 mil ali, 2 mil acolá...
Apesar de ser um bom (muito bem-vindo) dinheiro nesta hora, é um começo, porque sabemos que só em eletrodomésticos básicos como um fogão e uma geladeira já se vão os dois mil. E tem ainda a alimentação. E têm os móveis, as roupas...
Estamos "só" no recomeço. Dois meses parece pouco tempo, mas é uma eternidade para quem ainda não conseguiu voltar para casa ou para quem ainda olha para os cantos vazios do seu lar, espaços antes ocupados por pertences, conquistas, lembranças.
Por isso, todo aquela avalanche de ajuda em maio e parte de junho ainda precisa se estender. O pior pode ter passado, mas ainda se faz necessário o auxílio para famílias atingidas se reerguerem.
A sociedade precisa seguir mobilizada e cobrando soluções das autoridades.
O drama das enchentes ainda está nas ruas de nossas cidades, seja na forma de entulhos ou do lodo impregnado em alguns locais.
Dois meses depois ainda há muito trabalho pela frente. E há a cobrança de que esta tragédia não se repita pela falta de capacidade de agirmos na prevenção.
Lembram da mortandade dos peixes no Rio dos Sinos em 2006? Culpados foram investigados, debates foram feitos, entidades foram criadas, e, até hoje, ainda estamos discutindo a necessidade de ampliar o saneamento. Até não tivemos após aquela tragédia um episódio tão grave, apenas algumas ocorrências de alerta.
Mas os avanços desde aquela tragédia ecológica são muito lentos. Tem o "Marco Legal do Saneamento" (que virou "novo" após 2020) que segue se arrastando em prazos estendidos. Desde a criação da Agência Nacional das Águas já se passam mais de 20 anos de discussão e se tem até 2040 para chegarmos ao que se pretende, que é levar o saneamento básico aos brasileiros.
Só que, no caso das enchentes, talvez não tenhamos 20, 40 anos para arrastar soluções contra novas cheias.
As mudanças climáticas aceleram a exigência de medidas preventivas. O próximo El Niño pode ser bem mais violento. E ele vem daqui uns cinco ou sete anos, segundo estudos sobre os seus ciclos.
Que as soluções venham antes de um novo desastre. De nada adianta reconstruir o que pode ser levado por água abaixo ali na frente.
Dois meses... Parece pouco tempo, mas é uma inesquecível eternidade para quem viu o seu lar inundado ou destruído pelas águas de maio.
Para muitas pessoas a vida já segue "normal" novamente, mas ainda são milhares os gaúchos que batalham para se recuperar das enchentes.
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Para muitas pessoas a vida já segue "normal" novamente, mas ainda são milhares os gaúchos que batalham para se recuperar das enchentes.