Opinião
CATÁSTROFE NO RS: Diques, o grande legado alemão
São Leopoldo só não vive uma crise tão grave quanto a de outras cidades gaúchas devido às estruturas criadas a partir dos nos anos 1970, com aporte do governo alemão
Última atualização: 03/05/2024 23:54
Coincidentemente - e infelizmente - no ano em que se festeja o Bicentenário da Imigração Alemã a cidade de São Leopoldo (juntamente com tantas outras do Estado) vive a maior enchente da sua história.
Não há dados exatos e comparativos entre épocas são imprecisos, mas esta cheia ultrapassaria a vivida pelos leopoldenses em 1941 e, depois, em 1965. E ela só não é mais grave por uma questão que precisa ser exaltada: o sistema de contenção de cheias do município, os diques e suas outras ações tomadas para evitar o pior cenário possível de uma inundação causada por questões climáticas que afetam o Rio dos Sinos.
E, aí, curiosamente, este sistema só teve sua implantação possibilitada pelo aporte do governo alemão na década de 1970. Ou seja, a terra de onde vieram os imigrantes que impulsionaram o desenvolvimento da região, a partir de 1824, foi a responsável pelo sistema que hoje evita uma tragédia que seria terrível, que destruiria grande parte da cidade e até poderia causar muitas mortes devido à força das águas do rio que subiu rapidamente nos últimos dias, chegando a quase 8 metros (quatro vezes o nível normal) nesta sexta-feira.
Na década de 1960, como mostram várias publicações e pesquisas de historiadores e estudantes, integrantes da Faculdade de Ciências Econômicas de São Leopoldo (embrião da Unisinos) deram início a estudos em busca de soluções contra as inundações que afetavam o desenvolvimento do Vale dos Sinos.
A proximidade da região com a cultura germânica fez este estudo ser enviado ao governo alemão em busca de parceria na gestão e realização. Após a cheia de 1965 , que inundou o Centro leopoldense (vale lembrar que na área dos atuais bairros Rio dos Sinos e Campina a ocupação habitacional era pequena na época), o projeto ganhou mais força na busca de sua implantação.
E aí entra o apoio efetivo do governo da Alemanha na época, que financiou o projeto (que era muito mais amplo e falava, além das cheias, de questões ambientais, de saneamento e de crescimento habitacional e desenvolvimento agrícola e industrial). Os alemães enviaram uma comitiva de técnicos seus que por quase um ano analisaram a situação da região em busca de um planejamento racional e viável.
É desta análise que surge a ideia de implantação do sistema de proteção às cheias que acabou sendo executado, graças ao financiamento alemão, pelo então Departamento Nacional de Obras de Saneamento
(Dnos).
Dados apontam que o governo da República da Alemanha investiu mais de 62 milhões de dólares (seria algo acima de 310 milhões de reais nos dias de hoje) neste projeto que incluía proteções de terra e concreto - as muradas que se observam claramente em pontos como a Rodoviária e a Praça do Imigrante -, além de áreas alagáveis e também de casas de bombas.
Primeiro, até pela questão populacional, se protegeu o Centro (o lado sul ao rio) da cidade. Após a proteção foi sendo ampliada (o sistema teve obras até 2002) aos outros bairros e ao lado norte e em direção a Novo Hamburgo.
Era para se ter feito muito mais, mas aí sempre se esbarra na questão econômica. Após a extinção do Dnos, há 30 anos, o Município de São Leopoldo teve que assumir a responsabilidade do sistema, que, segundo histórico do Semae, é constituído por cinco casas de bombas, 20 quilômetros de diques e 16 quilômetros de valas.
Apesar da falta de investimentos substanciais na sua manutenção e ampliação (a Prefeitura leopoldense faz o possível na conservação e há anos cobra apoio federal e até estadual auxílio nesta empreitada), o sistema funciona.
Poderia ser melhor? Claro, afinal, lá se vão mais de 50 anos, meio século do estudo que deu origem ao sistema. Vale dizer que apenas em situações extremas - como a que estamos vivendo hoje - a cidade enfrenta perdas substanciais. Sim, muitos moradores ainda sofrem com as inundações. Só que sem o sistema, o atual cenário seria muito mais trágico, com perdas de vidas e prejuízos incalculáveis.
Para ter ainda mais eficiência seria preciso avançar no estudo de proteção (certamente pensando fortemente na questão ambiental, que muitas vezes fica de lado na relação com a questão econômica).
Seriam necessários investimentos consideráveis novamente e também uma mobilização tão grande quanto aquela que os leopoldenses e moradores da região empreenderam a partir da década de 1960 em busca de se proteger das perdas com as cheias.
Este alerta da natureza, que mostrou sua fúria climática em nosso Estado nos últimos tempos, poderia servir de estímulo a novos investimentos nesta área.
Investimentos como o do tão valioso aporte germânico feito há 50 anos, graças à semente plantada pelos imigrantes que aqui chegaram há 200 anos.
Não há dados exatos e comparativos entre épocas são imprecisos, mas esta cheia ultrapassaria a vivida pelos leopoldenses em 1941 e, depois, em 1965. E ela só não é mais grave por uma questão que precisa ser exaltada: o sistema de contenção de cheias do município, os diques e suas outras ações tomadas para evitar o pior cenário possível de uma inundação causada por questões climáticas que afetam o Rio dos Sinos.
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Não há dados exatos e comparativos entre épocas são imprecisos, mas esta cheia ultrapassaria a vivida pelos leopoldenses em 1941 e, depois, em 1965. E ela só não é mais grave por uma questão que precisa ser exaltada: o sistema de contenção de cheias do município, os diques e suas outras ações tomadas para evitar o pior cenário possível de uma inundação causada por questões climáticas que afetam o Rio dos Sinos.