O governador Eduardo Leite realiza uma missão na capital da Argentina esta semana, mas a política monetária dos hermanos que restringe exportações e importações e afeta a economia brasileira não deve entrar na pauta. Segundo o diretor da Associação Comercial, Industrial e de Serviços de Novo Hamburgo, Campo Bom, Estância Velha e Dois Irmãos (ACI-NH/CB/EV/DI), Leandro Villela Cezimbra, a informação é de que o governador do Rio Grande do Sul entende que esta é uma demanda que deve ser defendida pelo governo federal.
Enquanto a pauta não avança em Buenos Aires, setores como o coureiro-calçadista sentem os reflexos negativos dos longos prazos de pagamento dos produtos exportados, que chegam a 180 dias, além da pela demora de liberação das licenças (Siras). O problema tem afetado as relações comerciais entre os dois países.
“Seguimos com feedback negativo das empresas da região, que estão com muita dificuldade de receber, ainda mais com este prazo de 180 dias. A Argentina não tem reserva de dólares, então, o que entra já sai. Sem dólares, eles não conseguem comprar insumos para produzir e exportar. Tem sido um grande problema”, afirma Cezimbra.
O primeiro turno das eleições argentinas será em outubro e o segundo turno está programado para novembro. Até lá, o diretor da ACI não vê expectativa de mudanças. “Eles estão no meio de uma eleição, com as prévias em agosto. O fundo monetário internacional está para emprestar 3 milhões de dólares para a Argentina e um novo empréstimo só no novo governo. É um cenário de muita incerteza”, ressalta.
Entidades que representam o setor do couro e calçado na região também comentam nos bastidores que a medida é política e que só será possível uma mudança caso o governo mude efetivamente de mãos, o que pode acontecer em 2024.
Em janeiro, representantes gaúchos do setor acompanharam agenda do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em Buenos Aires e se reuniram com o presidente da Argentina, Alberto Fernández. Na ocasião, participaram o presidente do Centro das Indústrias de Curtumes do Brasil (CICB), José Fernando Bello, a superintendente da Associação Brasileira de Empresas de Componentes para Couro, Calçados e Artefatos (Assintecal), Silvana Dilly, e o presidente executivo da Associação Brasileira das Indústrias de Calçados (Abicalçados), Haroldo Ferreira.
Apesar da solicitação do setor, não houve avanços. As consequências são vistas nas exportações dos pares verde-amarelos que seguem em ritmo de queda. Segundo dados da Abicalçados, a Argentina seguiu como principal destino dos calçados brasileiros no primeiro semestre de 2023. No entanto houve queda em volume. Foram embarcados para lá durante o período, 7,84 milhões de pares, uma diminuição de 4,3%.
A medida
Em junho de 2022, o Banco Central da República Argentina (BCRA) alterou as condições de acesso ao mercado único de câmbio para os importadores. Inicialmente, a medida tinha validade até 30 de setembro do ano passado, mas foi prorrogada por prazo indeterminado. A medida tende a limitar as importações, de modo a conter a saída de divisas do país e manter o nível de reservas internacionais. Na prática, os pagamentos das mercadorias são liberados após 180 dias.
LEIA TAMBÉM