OPINIÃO
CARTA DE UM FÃ: Coisas da vida de uma roqueira e tanto
Rita Lee morreu, aos 75 anos, na segunda-feira
Última atualização: 21/12/2023 13:33
Epitáfio: Ela nunca foi um bom exemplo, mas era gente boa. A frase está no livro ‘Rita Lee: uma Autobiografia’. Obra para seguir lendo sem os pés no chão. Livro para ouvir segurando o flagra do LP nas mãos. Oito de maio de 2023. Putz. Que porre. Que consistência. Que entusiasmo. Que vida. Que adeus que nada. Rita Lee se foi por aí aos 75 anos para os jardins da Babilônia, meu primeiro disco da moça.
Moça que eu conheci como uma música. Dizer que ela era o máximo é meio pouco na grande avenida que nos colocamos a percorrer em meio as glórias e tropeços que somos feitos. Alguns escondem o lado B. Rita era honestidade. Sabia das suas pegadas leves e com lama até o joelho. Transparência. Era a ‘ovelha negra’ sem culpa.
Levei pra casa a dona da voz há tempos. Foi nas idas e vindas entre São Leopoldo e capital. Muitas idas justamente para procurar discos, gibis na Chaves e na Planeta Proibido. Peguei Babilônia. Lembro de ter gostado da foto da capa. Rita Lee espiando, me olhando para ver se eu tava pronto. Não sei se eu tava. Até hoje não sei, mas cantei com ela e ‘resolvi botar as asas pra fora’.
Estar pronto é viver. Assim de cantinho, aos berros, para celebrar a zorra toda, para fazer o tempo acontecer, pra fazer silêncio. Pra ir ali e tal. E Rita anotou: “Quando eu morrer, posso imaginar as palavras de carinho de quem me detesta. Algumas rádios tocarão minhas músicas sem cobrar jabá, colegas dirão que farei falta no mundo da música, quem sabe até deem meu nome para uma rua sem saída. Os fãs, esses sinceros, empunharão capas dos meus discos e entoarão ‘Ovelha negra’, as TVS já devem ter na manga um resumo da minha trajetória para exibir no telejornal do dia e uma notinha no obituário de algumas revistas há de sair. Nas redes sociais, alguns dirão: ‘Ué, pensei que a véia já tivesse morrido, kkk’. Nenhum político se atreverá a comparecer ao meu velório, uma vez que nunca compareci ao palanque de nenhum deles e me levantaria do caixão para vaiá-los. Enquanto isso, estarei eu de alma presente no céu tocando minha autoharp e cantando para Deus: ‘Thank you Lord, finally sedated’. (...)”. Página 266 da autobiografia e por aí vem ou vem.
Obrigado pelos discos. Pelo livro. Pelo show. Pela vivacidade. E por mostrar que alma gêmea tá por aí. É só procurar.