Opinião

Bolha do futebol

Publicado em: 26/05/2023 03:00
Última atualização: 26/03/2024 16:44

Vini Jr não é um fato isolado de racismo no esporte, nem na vida. O mundo se surpreende com o que um nome tão grandioso tem tido que enfrentar na Espanha, se dói em ver a crueldade vinda da arquibancada contra ele, pede punição severa da LaLiga, exige ações mais efetivas com relação aos torcedores e jogadores que fazem dele mais uma vítima desse cenário inadmissível de comportamento... mas não olha para o vizinho que enfrenta isso, sozinho, sem holofotes e sem a exposição devida de quem o cerca e o maltrata.

Não percebe que na escolinha do filho tem uma criança isolada pela cor. Se surpreende que a sobrinha esteja namorando um negro. Não oferece emprego para a moça que tem cabelo "diferente", atravessa a rua quando percebe que vem alguém que "ameaça" pela aparência de quem tem julgado usando o medo como desculpa.

É tão triste ver a humanidade representada como asquerosa dentro dos estádios! Não entendo quem faz o que faz contra nosso jogador e chega em casa feliz consigo mesmo depois de diminuir alguém e fazê-lo sofrer com gestos que mais parecem eles os bobos da corte.

Mas mais triste ainda fico ao saber que não é lá no futebol, somente, que alguém está no seu limite emocional de sofrimento. Que a cada esquina, que dentro de famílias, empresas, escolas, grupos de amigos... o coro seguirá impune e escondido atrás de uma sociedade que se mobiliza a favor de um grande nome, mas silencia quando é alguém próximo.

Está ali, escancarado diante de ti, mas parece não ser a ver contigo e tu segue em frente. E a pessoa que você poderia ajudar a se fortalecer, mais sozinha se sente, mais se cala, mais reforça os preconceitos, mais sofre, mais sucumbe. E, sim, mesmo você não fazendo nada para tê-lo magoado, não fazer nada para ajudá-lo é quase isso. A omissão dos demais é o que fortalece os injustos.

Tomara que, agora que a bolha do futebol explodiu com um problema social global, possamos vibrar com a vitória do Vini Jr não só no campo, mas como cidadão e como voz de tantas que se calam em um mundo tão vergonhosamente pequeno em atitudes e grandioso em egoísmo.

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