Está de volta às telas – e com reforço feminino superespecial – uma das poucas mulheres a ter seu próprio filme de heroína no Universo Marvel, que nas primeiras fases era restrito aos super-heróis masculinos (Homem-de-Ferro, Hulk, Thor, Capitão América).
A Capitã Marvel entrou no final da terceira fase do Universo Cinematográfico Marvel (no original, MCU – Marvel Cinematic Universe), estreando em 2019 e ultrapassando a bilheteria mundial de 1,12 bilhão de dólares, figurando no top 10 das maiores arrecadações dos filmes da Marvel. Mas, agora, os tempos são outros.
Desafio do público
Após bilhões e bilhões de dólares arrecadados com os super-heróis, a Marvel tem neste filme a dura missão de encarar a queda pelo interesse nas suas produções (desde Ultimato, só o Homem-Aranha – Sem Volta para Casa se deu bem).
A baixa é resultado do inevitável desgaste do formulismo da franquia (que chega ao seu trigésimo terceiro filme nestes 15 anos de domínio nas bilheterias), a ressaca pós-pandemia que mudou o comportamento de boa parte do público e também pelo fato de a Marvel ambiciosamente jogar de forma duvidosa (no sentido de estratégia) com lançamentos no streaming atrelados ao cinema.
Para se ter uma experiência mais completa em As Marvels, por exemplo, além de ter assistido o primeiro filme da Capitã, lançado nos cinemas em 2019, é bom ter visto Ms. Marvel e WandaVision, produções lançadas no streaming da Disney, que, convenhamos, nem todos têm acesso.
Só os aficcionados têm conseguido acompanhar estas sagas nas telonas, telas e telinhas, lançadas em plataformas diferentes. O resultado parece estar sendo óbvio. O desgaste do público com histórias que precisam se encaixar entre histórias.
Parece até que a Marvel esqueceu que esse tipo de formulismo provocou a necessidade de nas HQs, principalmente nos anos 1980, uma verdadeira revolução em busca de reavivar a vontade dos leitores em consumir os produtos de heróis.
Ah, e há ainda o fato de que a greve dos profissionais hollywoodianos detonada pelo Sindicato dos Atores de Hollywood (SAG-AFTRA), que acabou nesta semana após três meses, também ter prejudicado a divulgação dos filmes neste período, incluindo As Marvels. As entrevistas com as protagonistas da produção (que em cena demonstraram uma química louvável) era um trunfo na estratégia de marketing da Disney. Só que com a greve esta divulgação ficou bem prejudicada.
História “mais curta”
O filme As Marvels traz Carol Danvers (Brie Larson), a Capitã Marvel, agora ao lado das também superpoderosas Monica Rambeau (Teyonah Parris) e Kamala Khan (Iman Vellani). Se a Capitã teve seu filme solo, Kamala ganhou uma série no streaming – a Ms. Marvel – e Monica ficou com pontas no primeiro filme da Capitã (ainda criança, vivida pelas atrizes Akira e Azari Akbar) e na série Wandavision (já com Teyonah). Por isso a importância de ter visto as produções relativas.
As três heroínas são conectadas cosmicamente, mas atuando em diferentes frentes em um universo desestabilizado. Devido a um “acidente”, o trio acaba obrigado a atuar junto – e aí entra o gerenciador de supergrupos Nick Fury (o sempre divertido Samuel L. Jackson, que foi quem uniu os Vingadores) – para encarar uma poderosa guerreira Kree com sede de vingança.
Em um filme de três heroínas e uma vilã (a Dar-Benn, vivida por Zawe Ashton, um dos pontos fracos da trama), nada mais acertado que ter uma mulher na direção.
Nia DaCosta, jovem e talentosa cineasta nova-iorquina (apenas 34 anos, mas já em seu terceiro longa – o anterior é o terror A Lenda de Candyman), é a primeira afro-americana a dirigir um filme da Marvel, que cada vez mais aposta na diversidade.
Nia até traz um filme divertido (para os padrões da franquia) e de curta duração se comparado aos longos filmes marvelescos. Em uma hora e 45 minutos, tenta encaixar suas ideias no vasto Universo Marvel. E o problema maior de As Marvels é exatamente esse: os encaixes. É preciso conectar as heroínas em projetos que devem vir por aí.
Visivelmente a diretora parecia ter uma ideia de humanizar mais os vínculos das carismáticas Marvels (que têm uma bela química em cena), mas, em nome de ter que seguir uma fórmula de “vem mais por aí” (e, sim, tem cenas pós-créditos) acaba derrapando na condução da trama, que às vezes se torna até dispersiva.
Superproblemas
Sem tempo para amarras ou relembrar o que passou, As Marvels voa cosmicamente pela história das superpoderosas heroínas. Aliás, falando em voar, parece que os efeitos especiais estão cada vez mais “preguiçosos” ou no automático (no filme da DC, The Flash, também já era vista esta “decadência”).
Tão elogiados quando na virada dos anos 1990 para os 2000 os efeitos CGIs evoluíram a um realismo espantoso, em alguma cenas de As Marvels parece que “faltou tempo” para dar aquele toque mais “uau” nas imagens – aliás, em Ultimato, as “colagens” do velório-despedida de Tony Stark também já traziam algumas imagens toscamente fundidas.
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Enfim, apesar de não ser ruim e cumprir sua missão de divertir, dá a sensação que As Marvels poderia ter sido bem melhor sem algumas amarras formulistas que já apresentam uma degradação junto ao cinespectador.
Se As Marvels já tem o duro desafio de lucrar pelo menos perto da metade que o filme antecessor conseguiu, a Marvel e a Disney têm pela frente a difícil missão de reinventar a franquia e fazer o “blip” no seu universo cinematográfico para voltar a atrair os fãs e lucrar nas bilheterias.
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