Um curioso levantamento internacional sobre cooperação entre grupos humanos mostra como a solidariedade é um valor bem mais compartilhado do que se supunha.
Um estudo realizado por pesquisadores da Califórnia (EUA), Austrália, Equador, Alemanha, Países Baixos e Reino Unido descobriu que pessoas ao redor do mundo sinalizam para outras que precisam de ajuda, em média, a cada dois minutos. A pesquisa, que examinou comportamentos em cidades e áreas rurais em diferentes países, revelou que as pessoas atendem a estes pequenos pedidos com frequência maior do que recusam.
De acordo com o relatório da pesquisa, os achados sugerem que pessoas de todas as culturas compartilham padrões cooperativos de forma muito mais similar do que se acreditava anteriormente.
O estudo liderado pelo sociólogo Giovanni Rossi, da Universidade da Califórnia (UCLA), nos Estados Unidos, aponta que as pessoas em geral confiam amplamente nas demais para obter ajuda em pequenas tarefas. Nas observações realizadas em vários países nas comunidades estudadas, foi registrada a média de uma solicitação a cada dois minutos, tais como pedir para alguém alcançar um utensílio.A pesquisa também apontou que estas solicitações na maior parte das vezes não deixam de ser atendidas. Entre diferentes culturas, pessoas atendem estas pequenas solicitações na maior parte das vezes. Nas raras ocasiões em que não atendem o pedido, as pessoas explicam por quê. De acordo com o pesquisador, o achado mostra que a tendência humana de ajudar os semelhantes transcende as culturas.
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Taxa média de cooperação é de 79%
De acordo com os organizadores do estudo, as novas descobertas ajudam a resolver um impasse gerado por pesquisas antropológicas e econômicas anteriores, que haviam enfatizado variação em regras e normas governando a cooperação.
Por exemplo, enquanto caçadores da Indonésia seguem regras sobre como compartilhar uma presa maior, os coletores da Tanzânia compartilham suas refeições, principalmente, por medo de serem mal falados. No Quênia, a expectativa é que os aldeões mais prósperos paguem por melhorias públicas como estradas. Já cidadãos de classe semelhante na Papua Nova Guiné se recusam a esta contribuição porque criaria uma obrigação em relação a seus vizinhos mais pobres.
“Diferenças culturais como estas criaram um quebra-cabeças para a compreensão da cooperação mútua entre seres humanos”, detalha Rossi. “Nossas decisões sobre compartilhar e ajudar são formatadas pela cultura na qual crescemos? Ou os humanos são generosos por natureza?”
Para responder a essas perguntas, os autores analisaram gravações de vídeo da vida cotidiana de mais de 350 pessoas em diversas cidades geograficamente, linguisticamente e culturalmente diferentes na Inglaterra, Itália, Polônia, Rússia, Equador, Gana, Laos e Austrália.
A análise se focou em sequências nas quais uma pessoa sinaliza por ajuda, como quando visivelmente está tendo dificuldades com uma tarefa.
O tipo de decisões analisadas envolvia “baixo custo”, como o compartilhamento de itens cotidianos e pequenas assistências em casa ou no vilarejo, por exemplo. Este tipo de solicitação é muito mais frequente do que pedidos de “alto custo”, como compartilhar os frutos da caça, decisões que se observou serem muito mais influenciadas pela cultura.
A taxa média de rejeição (10%) e de ignorar os pedidos (11%) foi muito mais baixa do que a média de solicitações atendidas (79%). A média não se alterou ao longo de diversas culturas e entre familiares ou não familiares.
Os achados sugerem que ser prestativo é um reflexo inato na espécie humana, diz Rossi. “Enquanto variações culturais entram em cena para ocasiões especiais e intercâmbios de custo mais alto, quando examinamos o micronível da interação social, a diferença cultural desaparece, e a tendência de nossa espécie de prestar ajuda quando necessário se torna universalmente visível”, diz o pesquisador.