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SEXTO SENTIDO?

"Sensação de presença": Entenda por que algumas pessoas se sentem observadas ou que há alguém ao lado

Relatos de aventureiros ajudaram nos estudos de um especialista. Veja também quem tem maior propensão a não se sentir sozinho

Nadine Funck
Publicado em: 18/07/2023 às 09h:41 Última atualização: 17/10/2023 às 15h:40
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Quem sentiu que estava sendo observado, mesmo sozinho? Ou jurou que tinha alguém do lado? Um professor de psicologia de uma universidade inglesa publicou um livro sobre o assunto e chegou a conclusões complexas do que pode acontecer com o cérebro quando sentimos que há mais alguém no cômodo. 

Mulheres, jovens e pessoas com Parkinson têm mais facilidade de ter uma "sensação de presença" | Jornal NH



Mulheres, jovens e pessoas com Parkinson têm mais facilidade de ter uma “sensação de presença”

Foto: magwood_photography / 57/Pixabay

Um dos casos divulgados pela BBC é o de Luke Robertson, que decidiu, em 2015, explorar a Antártica sozinho. Exausto depois de duas semanas de uma viagem que duraria 40 dias, Robertson olhou para a esquerda e, ao contrário do cenário branco e gelado, viu um campo verde. E não era qualquer campo. Era a residência de sua família na Escócia, onde cresceu. 

Em conversa no programa All in the Mind na Rádio BBC, o explorador disse que a aventura ficou ainda mais estranha: o equipamento que comprou para escutar música havia quebrado, mas ele escutava constantemente a trilha da animação Os Flintstones. Isso não parece tão fora do comum – afinal, quem nunca ficou com uma música chiclete na cabeça? –, mas começou a ficar quando ele viu os personagens do desenho no horizonte. 

Em um determinado momento de extrema exaustão, Robertson ouviu uma voz feminina chamando seu nome, pedindo para que ele se levantasse e não pegasse no sono. A voz pode ter salvado sua vida, mas, de novo, ninguém estava ali. 

Outro relato publicado pelo portal é o de Ernest Schackleton, que em 1916 teve a sensação de ter um “quarto homem” acompanhando o grupo de três exploradores em sua jornada épica pela Geórgia do Sul. Outros aventureiros também disseram que vivenciaram “esses fantasmas atuando como anjos da guarda, ajudando-os a sobreviver e oferecendo conforto”. 

“Sensação de presença”

O fenômeno pode ser referenciado como “fator terceiro homem”. Na psicologia, é conhecido como “sensação de presença”. 

O professor de psicologia Ben Alderson-Day, da Universidade de Durham, é autor do livro Presence: The Strange Science and True Stories of the Unseen Other (Presença: a estranha ciência e histórias verdadeiras do outro invisível, em tradução livre) e descobriu que essas experiências não são limitadas para pessoas em situações extremas. 

Em algum momento, alguém pode ter sentido que tinha mais alguém no quarto, mesmo que não conseguisse ver aquela pessoa. Não é um fenômeno incomum para pessoas que estão de luto ou que sofrem de psicose. Um quarto dos indivíduos que possuem a doença de Parkinson já reportaram essas experiências. 

Para alguns, isso pode ocorrer durante uma paralisia do sono, que acontece quando acorda, mas não consegue se mexer. Durante esse episódio, os acometidos podem ter a forte sensação de que há alguém no quarto ou sentado em seu peito, pressionando-os para baixo. 

Segundo os estudos de Anderson-Day, a sensação de presença faz parecer que alguém está com você, no seu espaço particular. É difícil determinar do que consiste esse fenômeno, visto que é uma experiência percebida com os cinco sentidos físicos do tato, visão, audição, olfato e paladar. Portanto, não é uma alucinação. 

De forma objetiva, não há nada ali. Algumas pessoas falam de algo tão nebuloso quanto uma “espessura no ar”. É quase um sexto sentido, que parece real. Como o professor coloca: “É muito vazio para ser uma alucinação, mas muito tangível para ser uma ilusão.”

Causas

Em busca de explicações, Anderson-Day constatou uma combinação de físico com psicológico. No caso dos exploradores, a falta de oxigênio conhecida por induzir alucinações pode ser a responsável. Mas também há o aspecto da sobrevivência. O professor acredita que o cérebro criou o que os aventureiros mais precisavam para ajudá-los em suas árduas jornadas.

Algumas pessoas têm maior propensão de ter a sensação de presença do que outras. Anderson-Day também descobriu que as mulheres têm maior facilidade de ter essas experiências e de considerá-las angustiantes ou intrusivas. Jovens também podem presenciá-las mais facilmente.

Pesquisadores de um laboratório em Genebra, na Suíça, criaram um robô que é capaz de enganar o cérebro e fazer indivíduos sentirem que alguém está atrás deles. Pessoas com Parkinson são particularmente suscetíveis à experiência.

Um padrão incomum de atividade cerebral foi encontrado em uma rede que inclui a junção temporoparietal, a ínsula e o córtex frontoparietal, áreas associadas com a integração dos sentidos e também com a sensação de onde seu próprio corpo está. A variedade de situações em que uma presença sentida pode ocorrer levou Alderson-Day a formular a hipótese de que a causa é a perda do sentido dos limites do nosso corpo.

Quando algo está errado, devido ao estresse físico extremo do corpo, como no caso de Robertson, psicose ou Parkinson, as informações que recebemos de nossos sentidos podem levar à sensação peculiar de que alguém está conosco, mesmo que não possamos ver, tocá-los ou ouvi-los.

Mas a expectativa também parece desempenhar um papel. Existe uma segunda teoria relacionada ao que é conhecido como processamento preditivo, a ideia de que o cérebro preenche a lacuna quando algo não faz muito sentido.

Assim como vemos padrões como rostos nas nuvens, podemos identificar uma pessoa quando não há nenhuma. Como Alderson-Day coloca, o cérebro está “adivinhando o que está lá fora”.

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