FRANCISCO
Papa completa dez anos de pontificado com defesa de causas sociais e quebra de paradigmas
Naturalidade, posições firmes e defesa dos mais pobres atraem admiração, mas também resistência dos mais conservadores
Última atualização: 02/02/2024 13:51
Visivelmente humano, ao ponto de ter um time de futebol de coração, o San Lorenzo, da Argentina, o papa Francisco conquistou a simpatia mundial nos 10 anos à frente da Igreja Católica, celebrados no começo da semana. Muito também por seus posicionamentos sobre mazelas do cotidiano e tradições da Igreja. Até por isso, enfrentou resistência de setores mais conservadores, inclusive dentro da própria Igreja.
O jesuíta argentino se tornou o primeiro pontífice latino-americano da história em 13 de março de 2013, assumindo no lugar de Bento XVI, o primeiro papa em seis séculos a renunciar, e que morreu no final de 2022.Hoje com 86 anos, o ex-cardeal Jorge Mario Bergoglio superou os “dois ou três anos” que imaginou durar seu pontificado, e não tem dado sinais que vá sair do posto tão cedo. É reconhecido pela simplicidade e por ser um líder progressista, com frases de impacto, por vezes controversas para alguns católicos, e gestos simbólicos, ainda que reformas mais expressivas na Igreja não tenham acontecido nestes últimos dez anos.
Defensor de questões sociais, Francisco frequentemente alerta para o fenômeno da imigração pelo mundo. Declarou que excluir imigrantes é repugnante, numa crítica a medidas anti-imigração.
Já questionou regras controversas da Igreja, como o celibato. Apesar disso, rejeitou a proposta de permitir a ordenação de homens casados como padres na Amazônia, feita durante uma espécie de assembleia de bispos anos atrás.O papa ainda demonstrou, mais de uma vez, apoio a homossexuais, tornando uma marca do seu papado. Sugeriu o uso de métodos anticoncepcionais diante da gravidade do vírus zika, em 2016. Durante a pandemia, apoiou a vacina contra a Covid-19.
Defensor da democracia, criticou os ataques à Praça dos Três Poderes no Brasil, no começo do ano. “Um sinal de enfraquecimento da democracia é a polarização exacerbada política e social, que não ajuda a resolver os problemas urgentes do cidadão”, afirmou na ocasião.
Com seu papado ainda sendo escrito, a expectativa de apoiadores é que as posições de Francisco tenham ainda mais eco nos próximos anos, provocando mudanças de maior impacto dentro da Igreja.
Sobre abusos, papa diz: "não basta pedir perdão"
Na lista de assuntos espinhosos, Francisco deu luz a casos de abuso sexual cometidos por sacerdotes, prometendo responsabilização aos criminosos. No entanto, enfrenta críticas quanto à resolutividade destes casos.
Recentemente, neste ano, o pontífice reconheceu que pedir perdão às vítimas é necessário, mas insuficiente quando se trata de casos de abuso. “Diante dos abusos, especialmente aqueles cometidos por membros da Igreja Católica, não basta pedir perdão.”
Segundo o papa, a Igreja não pode tentar esconder a tragédia dos abusos, quaisquer que sejam.“Nem quando os abusos ocorrem nas famílias, em clubes, ou noutro tipo de instituições. A Igreja deve ser um exemplo para ajudar a resolvê-los, tornando-os conhecidos na sociedade e nas famílias”, afirmou.
O pontífice defende ainda que ações concretas devem ser adotadas para reparar os horrores que as vítimas sofreram e evitar que esses fatos se repitam. “Pedir perdão é bom para as vítimas, porque são elas que devem estar ‘no centro’ de tudo.” Mas reforçou: “É a Igreja que deve oferecer espaços seguros para ouvir as vítimas, acompanhá-las psicologicamente e protegê-las.”
Defesa dos mais pobres é marca de Francisco
Bispo da Diocese de Novo Hamburgo, Dom João Francisco Salm entende que nestes dez anos de pontificado, o santo padre se manteve fiel a seu estilo simples e defendeu seu compromisso com os imigrantes e os pobres, características que o tornaram popular e promoveram mudanças na Igreja Católica.
“O papa Francisco tem um modo de falar, de agir e de se relacionar muito próprios: simples, direto, próximo, compreensível a todos. Mostra-se assim como diz que gostaria que a Igreja seja: próxima das pessoas, de suas experiências de alegria e de dor”, analisa.
Dom João avalia que o pontífice está firmando na Igreja a preocupação missionária. “O santo padre pede a saída da indiferença, para ir em direção ao outro. Insiste na atitude da escuta e do diálogo com o diferente, sem distinção. Promove e chama para a ‘sinodalidade’ como identidade da Igreja”, pontua. O termo “sinodalidade” tem pouco significado fora dos círculos religiosos, mas é considerado uma das mais importantes contribuições de Francisco à Igreja. Isso porque um sínodo é uma reunião de bispos, e a filosofia do papa argentino é de que os bispos devem ouvir seus colegas e os leigos, ou seja, a Igreja deve ser um lugar onde os fiéis devem ser acolhidos e ouvidos.
“O papa Francisco tem clara opção pelos pobres. Isso incomoda. Se muitos o admiram e o seguem, mesmo não católicos, há outros que se sentem incomodados por seu apelo ao cuidado dos mais pobres, desvalidos, injustiçados, ameaçados e desrespeitados. Causa incômodo a muitos por defender a vida, a natureza (a ‘casa comum’) e a dignidade de todos”, observa Dom João. (Joceline Silveira)
Frases do papa
Julho de 2013 - Manifestação feita apenas três meses depois de virar papa, e que se tornou uma das mais famosas.
Fevereiro de 2016 - O papa criticou Donald Trump, quando concorria à presidência dos EUA, por sua proposta polêmica de construir muro na fronteira entre os Estados Unidos e o México.
Fevereiro de 2017 - A frase foi dita durante uma missa. Francisco criticou pessoas que se dizem cristãs, mas exploram outras e têm vida dupla.
Março de 2017 - Declaração dada a jornal alemão, demonstrando que o papa estava aberto à possibilidade de que homens casados pudessem ser ordenados sacerdotes.
Outubro 2020 - Frase dita no documentário Francesco, quando declarou seu apoio às leis de convivência civil entre homosseuxais.
Visivelmente humano, ao ponto de ter um time de futebol de coração, o San Lorenzo, da Argentina, o papa Francisco conquistou a simpatia mundial nos 10 anos à frente da Igreja Católica, celebrados no começo da semana. Muito também por seus posicionamentos sobre mazelas do cotidiano e tradições da Igreja. Até por isso, enfrentou resistência de setores mais conservadores, inclusive dentro da própria Igreja.
O jesuíta argentino se tornou o primeiro pontífice latino-americano da história em 13 de março de 2013, assumindo no lugar de Bento XVI, o primeiro papa em seis séculos a renunciar, e que morreu no final de 2022.Hoje com 86 anos, o ex-cardeal Jorge Mario Bergoglio superou os “dois ou três anos” que imaginou durar seu pontificado, e não tem dado sinais que vá sair do posto tão cedo. É reconhecido pela simplicidade e por ser um líder progressista, com frases de impacto, por vezes controversas para alguns católicos, e gestos simbólicos, ainda que reformas mais expressivas na Igreja não tenham acontecido nestes últimos dez anos.
Defensor de questões sociais, Francisco frequentemente alerta para o fenômeno da imigração pelo mundo. Declarou que excluir imigrantes é repugnante, numa crítica a medidas anti-imigração.
Já questionou regras controversas da Igreja, como o celibato. Apesar disso, rejeitou a proposta de permitir a ordenação de homens casados como padres na Amazônia, feita durante uma espécie de assembleia de bispos anos atrás.O papa ainda demonstrou, mais de uma vez, apoio a homossexuais, tornando uma marca do seu papado. Sugeriu o uso de métodos anticoncepcionais diante da gravidade do vírus zika, em 2016. Durante a pandemia, apoiou a vacina contra a Covid-19.
Defensor da democracia, criticou os ataques à Praça dos Três Poderes no Brasil, no começo do ano. “Um sinal de enfraquecimento da democracia é a polarização exacerbada política e social, que não ajuda a resolver os problemas urgentes do cidadão”, afirmou na ocasião.
Com seu papado ainda sendo escrito, a expectativa de apoiadores é que as posições de Francisco tenham ainda mais eco nos próximos anos, provocando mudanças de maior impacto dentro da Igreja.
Sobre abusos, papa diz: "não basta pedir perdão"
Na lista de assuntos espinhosos, Francisco deu luz a casos de abuso sexual cometidos por sacerdotes, prometendo responsabilização aos criminosos. No entanto, enfrenta críticas quanto à resolutividade destes casos.
Recentemente, neste ano, o pontífice reconheceu que pedir perdão às vítimas é necessário, mas insuficiente quando se trata de casos de abuso. “Diante dos abusos, especialmente aqueles cometidos por membros da Igreja Católica, não basta pedir perdão.”
Segundo o papa, a Igreja não pode tentar esconder a tragédia dos abusos, quaisquer que sejam.“Nem quando os abusos ocorrem nas famílias, em clubes, ou noutro tipo de instituições. A Igreja deve ser um exemplo para ajudar a resolvê-los, tornando-os conhecidos na sociedade e nas famílias”, afirmou.
O pontífice defende ainda que ações concretas devem ser adotadas para reparar os horrores que as vítimas sofreram e evitar que esses fatos se repitam. “Pedir perdão é bom para as vítimas, porque são elas que devem estar ‘no centro’ de tudo.” Mas reforçou: “É a Igreja que deve oferecer espaços seguros para ouvir as vítimas, acompanhá-las psicologicamente e protegê-las.”
Defesa dos mais pobres é marca de Francisco
Bispo da Diocese de Novo Hamburgo, Dom João Francisco Salm entende que nestes dez anos de pontificado, o santo padre se manteve fiel a seu estilo simples e defendeu seu compromisso com os imigrantes e os pobres, características que o tornaram popular e promoveram mudanças na Igreja Católica.
“O papa Francisco tem um modo de falar, de agir e de se relacionar muito próprios: simples, direto, próximo, compreensível a todos. Mostra-se assim como diz que gostaria que a Igreja seja: próxima das pessoas, de suas experiências de alegria e de dor”, analisa.
Dom João avalia que o pontífice está firmando na Igreja a preocupação missionária. “O santo padre pede a saída da indiferença, para ir em direção ao outro. Insiste na atitude da escuta e do diálogo com o diferente, sem distinção. Promove e chama para a ‘sinodalidade’ como identidade da Igreja”, pontua. O termo “sinodalidade” tem pouco significado fora dos círculos religiosos, mas é considerado uma das mais importantes contribuições de Francisco à Igreja. Isso porque um sínodo é uma reunião de bispos, e a filosofia do papa argentino é de que os bispos devem ouvir seus colegas e os leigos, ou seja, a Igreja deve ser um lugar onde os fiéis devem ser acolhidos e ouvidos.
“O papa Francisco tem clara opção pelos pobres. Isso incomoda. Se muitos o admiram e o seguem, mesmo não católicos, há outros que se sentem incomodados por seu apelo ao cuidado dos mais pobres, desvalidos, injustiçados, ameaçados e desrespeitados. Causa incômodo a muitos por defender a vida, a natureza (a ‘casa comum’) e a dignidade de todos”, observa Dom João. (Joceline Silveira)
Frases do papa
Julho de 2013 - Manifestação feita apenas três meses depois de virar papa, e que se tornou uma das mais famosas.
Fevereiro de 2016 - O papa criticou Donald Trump, quando concorria à presidência dos EUA, por sua proposta polêmica de construir muro na fronteira entre os Estados Unidos e o México.
Fevereiro de 2017 - A frase foi dita durante uma missa. Francisco criticou pessoas que se dizem cristãs, mas exploram outras e têm vida dupla.
Março de 2017 - Declaração dada a jornal alemão, demonstrando que o papa estava aberto à possibilidade de que homens casados pudessem ser ordenados sacerdotes.
Outubro 2020 - Frase dita no documentário Francesco, quando declarou seu apoio às leis de convivência civil entre homosseuxais.
O jesuíta argentino se tornou o primeiro pontífice latino-americano da história em 13 de março de 2013, assumindo no lugar de Bento XVI, o primeiro papa em seis séculos a renunciar, e que morreu no final de 2022.Hoje com 86 anos, o ex-cardeal Jorge Mario Bergoglio superou os “dois ou três anos” que imaginou durar seu pontificado, e não tem dado sinais que vá sair do posto tão cedo. É reconhecido pela simplicidade e por ser um líder progressista, com frases de impacto, por vezes controversas para alguns católicos, e gestos simbólicos, ainda que reformas mais expressivas na Igreja não tenham acontecido nestes últimos dez anos.