ALEMANHA
O que se sabe sobre atropelamento que deixou 5 mortos e 200 feridos em um mercado de Natal
Entre o total de feridos, há cerca de 40 em estado grave
Última atualização: 21/12/2024 17:40
Um carro avançou e atropelou um grande grupo de pessoas em um mercado de Natal na cidade de Magdeburg, no leste da Alemanha, na sexta-feira (20). Conforme a AFP, o refugiado saudita suspeito cometido o crime é um "islamofóbico" que pode ter agido por "descontentamento" com o tratamento dado pela Alemanha aos demandantes de asilo de seu país, segundo informações das autoridades divulgadas neste sábado (21). Ele foi preso após o atropelamento.
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O último balanço do ataque é de cinco mortos e 200 feridos, mas ainda é provisório pois entre os feridos há cerca de 40 em estado grave.
"As fotos são terríveis", disse o porta-voz da cidade Michael Reif. "Minhas informações são de que um carro atropelou os visitantes do mercado de Natal, mas ainda não posso dizer de que direção e a que distância."
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O mercado foi fechado enquanto serviços de emergência trabalhavam no local. Fotos e vídeos das redes sociais mostram cenas caóticas no local do incidente. Imagens da cena de uma parte isolada do mercado mostraram destroços no chão.
"Este é um evento terrível, particularmente agora nos dias que antecedem o Natal", disse o governador da Saxônia-Anhalt, Reiner Haseloff. Haseloff disse à dpa que estava a caminho de Magdeburg, mas não podia dar imediatamente nenhuma informação sobre as vítimas ou o que estava por trás do incidente.
Magdeburg, que fica a oeste de Berlim, é a capital do estado da Saxônia-Anhalt e tem cerca de 240.000 habitantes.
O suposto ataque ocorreu um dia após o oitavo aniversário de um ataque a um mercado de Natal em Berlim. Em 19 de dezembro de 2016, um extremista islâmico atropelou uma multidão de frequentadores do mercado de Natal com um caminhão, deixando 13 mortos e ferindo dezenas de outros. O homem foi morto dias depois em um tiroteio na Itália.
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A ministra do Interior alemã, Nancy Faeser, disse no final do mês passado que não havia indícios concretos de perigo para os mercados de Natal este ano, mas que era sensato ficar vigilante.
O chanceler alemão Olaf Scholz disse no X que "notícias de Magdeburg sugerem o pior". Ele também agradeceu os socorristas que trabalham no local.
Friedrich Merz, o candidato a chanceler pelo partido conservador CDU a substituir Scholz depois de um voto de desconfiança semana passada, disse estar triste com as notícias de Magdeburg. "Meus pensamentos estão com as vítimas e suas famílias. Gostaria de agradecer a todos os serviços de emergência que cuidaram dos feridos no local", disse ele.
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O que pode ter motivado o crime
As autoridades começaram, neste sábado, a desvendar as confusas motivações que levaram o suspeito, um médico psiquiatra de 50 anos, a cometer um "ato terrível", nas palavras do chanceler alemão, Olaf Scholz.
O suspeito, identificado como Taleb Jawad al Abdulmohsen, foi preso no local da tragédia, ao lado do veículo 4x4 com o qual avançou por 400 metros, atropelando uma multidão reunida no mercadinho natalino desta cidade alemã.
As autoridades descartaram qualquer motivação islamista.
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"Ao que parece, o pano de fundo do crime (...) pode ter sido o descontentamento com a forma como os refugiados sauditas são tratados na Alemanha", disse à imprensa o promotor Horst Walter Nopens.
Já a ministra do Interior da Alemanha, Nancy Faeser, qualificou o suspeito, radicado na Alemanha desde 2006 e com estatuto de refugiado desde 2016, de um "islamofóbico" em vista de seus posicionamentos públicos.
O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, descreveu o ataque como um "acontecimento desprezível e obscuro" e afirmou estar em contato com as autoridades alemãs.
"Ateu"
Al Abdulmohsen, que trabalhava como psiquiatra em Bernburgo, perto de Magdeburgo, se definiu, em uma entrevista em 2022 com a AFP como "ateu" e assegurou que por isso teve que deixar seu país, onde tinha sido "ameaçado de morte por apostasia do islã".
Nos últimos anos, ele manteve nas redes sociais um discurso radical, salpicado de teorias conspiratórias, sem omitir sua simpatia com as posições da extrema direita alemã contra a imigração muçulmana.
Criticava as autoridades alemãs por não protegerem o suficiente os sauditas que fugiam de seu país por razões religiosas ou politicas, embora se mostrassem generosas com os refugiados muçulmanos de outros países do Oriente Médio.
Em agosto, o suspeito escreveu em sua conta na rede X: "Existe um caminho para a justiça na Alemanha sem explodir uma embaixada alemã ou sem degolar aleatoriamente cidadãos alemães? Busco este caminho pacífico desde janeiro de 2019 e não o encontro".
"Trata-se de uma pessoa psicologicamente perturbada e excessivamente pretensiosa", disse à AFP Taha al Hajji, da Organização Euro-saudita de Direitos Humanos (ESOHR), sediada em Berlim.
Scholz, do Partido Social-Democrata (SPD), visitou o local da tragédia neste sábado, e fez um chamado à coesão nacional, prometendo agir "contra aqueles que querem semear o ódio".
Política polêmica
O chanceler alemão esteve em Magdeburgo com um ar sombrio, vestido de preto, e depositou flores do lado de fora de uma igreja em frente ao mercado natalino.
Ele pediu aos alemães para permanecerem unidos, depois que o partido de extrema direita Alternativa para a Alemanha (AfD) usou o ataque para denunciar a chegada de centenas de milhares de refugiados ao país nos últimos anos.
"Quando esta loucura vai acabar?", questionou na rede X Alice Weidel, copresidente da AfD, legenda que aparece em segundo lugar nas pesquisas para as eleições legislativas antecipadas do fim de fevereiro de 2025.
Vários moradores de Magdeburgo expressaram sua revolta e um deles instou Scholz a "dialogar com a AfD" sobre a política de acolhida aos refugiados.
"Quando tanta gente vem ao nosso país, é preciso ser mais vigilante. Agora pagamos o preço", avaliou outro morador, Michael Raarig, engenheiro de 67 anos. Ele declarou à AFP que estava "triste e chocado" com o atropelamento.
"Nunca pensei que isto poderia acontecer em uma cidade de uma província do leste da Alemanha", disse.
O ataque, ocorrido na sexta-feira por volta das 19 horas locais (15 horas de Brasília), se deu oito anos depois do atentado jihadista de 2016 em outro mercadinho de Natal em Berlim, no qual morreram 12 pessoas.
Itamaraty se manifesta
O Ministério das Relações Exteriores afirmou, na noite de sexta, que o governo brasileiro tomou conhecimento, com pesar, do ataque ocorrido ontem contra o mercado de Natal em Magdeburg, capital do estado alemão de Saxônia-Anhalt.
"Ao reiterar seu firme repúdio a qualquer ato de violência, cometido sob qualquer pretexto, o governo brasileiro expressa sua solidariedade às famílias das vítimas, bem como ao povo e ao governo alemães", diz em nota o ministério.
*Com informações de O Estado de S. Paulo, AFP e Estadão