Milhares de gatos estão morrendo e a causa é um novo coronavírus felino, afirmam cientistas da Universidade de Edimburgo, do Reino Unido.
A República de Chipre, uma ilha no Mediterrâneo, é conhecida como “ilha dos gatos” por conter uma população de, no mínimo, um milhão de felinos. No país, há mais bichanos de quatro patas miando pelas ruas do que humanos. Neste ano, em agosto, milhares deles começaram a morrer em uma velocidade alarmante.
De acordo com ativistas e a mídia local, foram cerca de 300 mil mortes. Porém, segundo uma revisão de veterinários do país, os números são menores, contando 8 mil.
Os sintomas eram de Peritonite Infecciosa Felina (PIF), que é causada por uma mutação do coronavírus (FCoV). Entretanto, há tratamento para a doença desde 2019. A rápida contaminação entre os animais, que não é tão comum, deixou a comunidade científica alarmada.
Sintomas que gatos apresentaram:
- Febre;
- Barriga inchada;
- Letargia.
Estes sintomas são comumente causados pela PIF.
Nova variante?
Uma nova variante do vírus é a culpada pela alta mortalidade. Os pesquisadores da Universidade de Edimburgo identificaram que ele cooptou sequências chave de RNA do coronavírus canino (pCCoV) que é altamente perigoso. Cooptar, neste contexto, é quando o vírus utiliza a proteína do hospedeiro em seu próprio benefício.
Através de amostras coletadas do abdômen e espinha de gatos contaminados internados em clínicas veterinárias de Chipre, os cientistas procuraram determinar a informação genética do vírus, usando a sequência RNA.
Foi encontrado um coronavírus felino nunca descrito antes, que contém enormes “pedaços” do RNA do vírus pCCoV, que ataca apenas cachorros. Esta nova variante foi nomeada de FCoV-23, de acordo com o artigo preliminar postado na semana passada.
Apesar de não ser o primeiro caso de mutação de vírus felino-canino, é a primeira vez que o patógeno de gatos se liga com um de cães, causando uma “tempestade perfeita, tanto da doença como da transmissibilidade”, afirmou uma virologista da Faculdade de Medicina Veterinária da Universidade Cornell, nos Estados Unidos, para a revista científica Science.
Contaminação e infecção
Uma coisa que preocupou os cientistas, foi a forma de contaminação e quais partes do corpo o vírus pode afetar. Normalmente, os coronavírus felinos atingem o intestino, causando infecções que não escalam para PIF. Eles são facilmente transmitidos através das fezes.
O vírus acaba, de tempos em tempos, se mutando para uma forma mais perigosa, chama FIP Vírus (FIPV), que afeta as células imunológicas e desencadeia doenças mais sérias. Esta variante, entretanto, não se transmite entre os animais. Então, como os gatos foram infectados tão rápido?
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Os cientistas explicam que o FCoV-23 pode ter se criado quando o coronavírus felino encontrou o pCCoV em um animal não identificado e cooptou a proteína Spike dele, também chamada de S. Esta é a estrutura que o coronavírus usa para ter acesso às células hospedeiras.
Isso, combinado a outras ocorrências genéticas, possivelmente deixaram que esta nova mutação causasse PIF severa enquanto afetava os intestinos e se espalhava através das fezes.
Outra teoria, é que as mudanças na proteína Spike também podem ter tornado o FCoV-23 mais estável fora do hospedeiro, aumentando as chances de transmissão pelo contato com fezes contaminadas.
O que isso significa?
Ainda há mais questionamentos sobre o FCoV-23 do que respostas. Apesar de ter se espalhado de forma alarmante em Chipre, os pesquisadores afirmam ter visto apenas um caso fora da ilha, no Reino Unido.
Não se sabe exatamente como ele se espalha, nem quais são todos os sintomas das doenças causadas por ele. É preciso ainda mais estudos para determinar com certeza e responder a estes e outros questionamentos.
Ainda em agosto, mesmo mês em que a crise começou, o governo cipriota aceitou utilizar um remédio originalmente usado em humanos, no tratamento de Covid-19, em felinos contaminados, segundo o portal. O chamado Molnupiravir bloqueia a replicação do vírus e, aparentemente, é eficiente no tratamento para PIF.
No Brasil, o medicamento utilizado para a doença nos gatos é o GS-441524, ou apenas “GS”.
Lembrando que a PIF não tem relação com a Covid-19 e não afeta humanos.