Após a pandemia do Covid-19 que colocou boa parte da população mundial dentro de casa para evitar o alastramento da doença que apenas no Brasil matou mais de 700 mil pessoas em um período de três anos, as atenções para vírus respiratórios cresceram tanto na classe médica quanto entre cientistas. Por isso, quando notícias falam de um surto crescente de metapneumovírus humano (hMPV) entre crianças e adolescentes chineses, o temor de um filme se repetir.
A declaração de Kan Biao, chefe do Instituto Nacional de Controle e Prevenção de Doenças Transmissíveis do CDC da China, alertando que a taxa de infecções por HMPV entre crianças e adolescentes de até 14 anos estaria aumentando no país durante o inverno, acendeu um alerta. A declaração foi publicada pelo China Daily em 27 de dezembro. Apesar do alerta, números não foram divulgados.
LEIA TAMBÉM: BOLO ENVENENADO: Suspeita de envenenar família pesquisou sobre arsênio semanas antes do crime, diz Polícia
Mas, apesar de ser mais um vírus respiratório que começa a crescer justamente no mesmo país foco da pandemia do coronavírus, estes novos casos não representam um risco sequer próximo ao registrado com a Covid-19, como explica o virologista, pró-reitor de pesquisa, pós-graduação e extensão da Universidade Feevale, Fernando Spilki. “É um vírus bem conhecido, muito comum como causa de doença no outono e inverno e aqui no Brasil também ocorre com frequência, particularmente este ano por conta das enchentes em maio nós detectamos casos importantes de metapneumovírus ocorrendo.”
CLIQUE AQUI E INSCREVA-SE NA NOSSA NEWSLETTER
Spilki conta que com o passar do tempo os próprios cientistas começaram a entender melhor o funcionamento do vírus. “Em algum momento no passado nós tínhamos dúvida se ele era um causador de doenças porque ele ocorre também em indivíduos saudáveis, mas hoje sabemos que ele é um vírus que pode induzir doenças respiratórias importantes principalmente em crianças, adolescentes e idosos, mas adultos também são suscetíveis.”
CONFIRA: Maior tirolesa urbana do mundo atrai milhares de turistas para a região; veja os planos para 2025
Mais monitoramento
Para o professor da Feevale o surto visto na China é uma consequência direta da maior atenção dada às doenças respiratórias em todo mundo. “Sem dúvida, a China chama atenção pelo fato de pandemias passadas e também porque a gente nota o esforço de monitoramento muito grande em relação a vírus respiratórios, que deve ser uma das causas de a gente estar sabendo desse surto agora. Está sendo detectado agora justamente porque a gente tem sistema de vigilância de doenças respiratórias muito mais abrangentes”, explica Spilki.
Um dos alertas que ficam por parte do professor da Feevale é quanto a algum preconceito que possa se direcionar ao gigante asiático. Spilki deixa claro que diversos países e regiões com grandes conglomerados de pessoas estão sujeitos a surtos virais. “É natural que a gente perceba grandes aglomerados de pessoas sendo fontes de possíveis novos patógenos pelo fato que temos muita gente junto, não é apenas a China, tivemos epidemias que começaram na Europa, a Monkeypox nos Estados Unidos, vírus que se disseminam em regiões geográficas muito populosas”, explica.
Sintomas, cuidados e riscos
Crianças pequenas e adolescentes até 14 anos, além de idosos, são os grupos mais suscetíveis à doença. Destes grupos, bebês e crianças pequenas e idosos com comorbidades são os que precisam de mais atenção, embora o vírus não tenha registros de ser fatal.
“A doença só vai de fato se agravar especialmente nos bebês, crianças muito pequenas, ou nos idosos com comorbidades. Não é um vírus que esteja relacionado a óbito, mas como é uma doença respiratória, a gente já tem essa cultura, tem que ter um cuidado especial naqueles indivíduos mais suscetíveis até para evitar a chegada de outras bactérias e vírus mais letais”, relata Spilki.
A transmissão do vírus acontece através de gotículas, do contato próximo com pessoas com a infecção ou com superfícies contaminadas. Por isso os cuidados e prevenções seguem a cartilha de outras doenças respiratórias com o cuidado na higiene das mãos, manter os ambientes bem ventilados, e realizar o isolamento, dentro do possível, de infectados.
Outra orientação é quanto ao uso de máscara em casos suspeitos e a testagem via PCR. O período de incubação do vírus é de três a seis dias e a duração média da doença é a mesma de uma gripe, dependendo da gravidade do caso.
Apesar da necessidade de ficar atentos, Spilki se mostra cético quanto a possibilidade de vivermos um cenário parecido ao vivido em 2020. “A gente não imagina que o meta cause uma emergência de uma pandemia ou alguma coisa muito diferente do usual do que conhecemos desse vírus.”
ENTRE NA COMUNIDADE DO ABCMAIS NO WHATSAPP
O que é o HMPV?
O HMPV é da mesma família do vírus sincicial respiratório (RSV) e pode causar sintomas semelhantes aos de uma gripe ou resfriado, como tosse, nariz entupido e falta de ar, que, em casos mais graves, pode evoluir para bronquite ou pneumonia.
Não há vacinas ou tratamentos antivirais específicos para o HMPV e por isso o tratamento consiste no alívio dos sintomas e estabilização do paciente.
LEIA TAMBÉM