AMÉRICA DO SUL

ELEIÇÃO NA ARGENTINA: Crise faz calçadista brasileira esperar até seis meses para receber de compradores argentinos

Abicalçados diz que medidas do Banco Central Argentino prejudicam ainda mais a delicada situação

Publicado em: 22/10/2023 09:01
Última atualização: 22/10/2023 09:02

A Argentina vai às urnas neste domingo (22) para o primeiro turno da eleição presidencial em meio a uma grave crise financeira que já respinga no Brasil e na região calçadista gaúcha. O clima no país vizinho é de caos e de paralisia econômica, o grande desafio de quem vencer a eleição. Javier Milei, ultraliberal, é o favorito para vencer em segundo turno.

O QUE A ARGENTINA TEM A VER COM A QUEDA NA EXPORTAÇÃO DE CALÇADO EM SETEMBRO


Produção de calçado feminino no Rio Grande do Sul Foto: Igor Müller/GES-Especial

Com recessão e inflação de quase 140% em 12 meses, a Argentina está exportando menos automóveis e atrasando pagamentos às calçadistas brasileiras que exportam para o país vizinho. Estes são dois dos tantos setores da economia nacional que negociam altos volumes com a Argentina e estão de olho na eleição deste domingo.

A dívida de empresas argentinas com importações não pagas de produtos de parceiros comerciais poderá chegar a US$ 43,1 bilhões no fim do ano, informou o jornal O Globo a partir de uma pesquisa da consultoria Abeceb divulgada pelo La Nación. O valor é praticamente o dobro do que havia no fim de 2021.

Os atrasos são consequência da escassez de dólares. Dias atrás, o Banco Central Argentino (BCRA) perdeu US$ 650 milhões em reservas cambiais. Nos cálculos da Empiria Consultores, segundo informou O Globo, as reservas estão negativas em US$ 6,8 bilhões. A crise é tamanha que até a cotação do dólar blue, negociado no mercado informal, perdeu a referência.

As principais casas de câmbio informal, que balizam o mercado paralelo, anunciam a cotação de 900 pesos por dólar. Mas, nas ruas, a taxa estava entre 990 e 1.065 pesos por dólar no fim da semana. Para conter a demanda, o BCRA congelou ativos em dólar dos bancos e estabeleceu mais restrições a importações. Essas medidas poderão gerar mais atrasos nos pagamentos.

Segundo a Associação Brasileira das Indústrias de Calçados (Abicalçados), alguns exportadores do setor reportam atrasos excessivos no pagamento por parte de compradores argentinos. Há compradores devendo há mais de seis meses e a expectativa é que as recentes medidas do Banco Central Argentino prejudiquem "ainda mais a já delicada situação", informou a entidade ao jornal O Globo.

De janeiro a setembro deste ano as calçadistas brasileiras exportaram 11,7% a menos para a Argentina. A situação começou a piorar em junho. "Muitas empresas deixam de exportar para aquele mercado, especialmente as menores", informa a Abicalçados. Este cenário acaba bagunçando o planejamento das empresas brasileiras, interferindo diretamente nos negócios.

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