MASSACRE EM ESCOLA
Como os pais de um adolescente atirador de escola foram condenados pelos assassinatos do filho pela primeira vez na história dos EUA
Aos 15 anos, atirador entrou na escola com uma arma e atirou nos alunos que passavam pelo corredor, matando quatro e ferindo outros seis
Última atualização: 15/03/2024 13:38
“O tiroteio é amanhã. Eu tenho acesso à arma e à munição. Estou totalmente comprometido com isso agora", é o que escreveu Ethan Crumbley, 15 anos, em seu diário, um dia antes de atirar e matar os colegas na escola Oxford High School, em Michigan, Estados Unidos, em novembro de 2021. Em fevereiro deste ano, a mãe do atirador Jennifer Crumbley foi condenada pelos atos do filho e, semanas depois, o pai James Crumbley também, nesta quinta-feira (14). Mas por quê?
Há três anos, no dia 30 de novembro, Ethan entrou na escola que estudava com uma pistola SIG Sauer 9 milímetros na mochila, que ele tirou de um contêiner destrancado, em casa. Ele foi ao banheiro e, quando saiu, começou a atirar nos alunos que passavam pelo corredor - que eram muitos, já que o sinal da troca de salas tinha tocado. Ele matou quatro e feriu outros seis, além de um professor.
Adolescente condenado à vida na prisão
"Eu sou uma péssima pessoa. Eu fiz coisas que terríveis que nenhuma pessoa deveria fazer", foi o que disse Ethan, durante seu julgamento, antes de ser condenado à prisão perpétua sem possibilidade de liberdade condicional, em 8 de dezembro de 2023, aos 17 anos.
Ele é o primeiro adolescente a receber essa sentença após o Supremo Tribunal dos Estados Unidos ter decidido que dois homens, condenados por assassinatos quando tinham 14 anos, não poderiam ser mandados para a prisão sem, pelo menos, a possibilidade de liberdade condicional.
Pais condenados pelo assassinato do filho
Os pais de Ethan foram condenados pelos assassinatos do filho, após terem se declarado inocentes das quatro acusações de homicídio culposo, cada um. Essa é a primeira vez que os pais são condenados pelos assassinatos do filho nos Estados Unidos.
Jennifer foi a primeira a ser considerada culpada pelas acusações, em fevereiro deste ano. Durante esta quinta, foi a vez de James. Ele foi considerado culpado pelo mesmo motivo. Eles podem ficar até 15 anos na prisão e os julgamentos que vão decidir o quão longa serão as sentenças estão marcados para 9 de abril deste ano.
A culpa é do pai ou da mãe?
O argumento usado pela acusação, é que a mãe de Ethan é responsável pelas mortes por ter sido negligente ao dar uma arma para ele aos 15 anos, levando ele aos ringues de tiro para treinar, inclusive. Além de ter falhado em cuidar da saúde mental do filho de maneira adequada, já que ele estava demonstrando sinais de que as coisas não iam bem.
A defesa, no entanto, afirmou que a culpa deveria cair sobre algumas pessoas, menos nela. No pai, por não ter guardado a arma de forma segura, assim como na escola, por não ter notificado ela sobre a maneira que o filho vinha agindo. Por fim, ela afirmou: "Eu me perguntei muitas vezes se teria feito alguma coisa diferente e eu não teria".
No julgamento do pai, os promotores afirmaram que James foi negligente por ter comprado a arma para Ethan quatro dias antes do ataque e por não ter a guardado de forma adequada. Ainda, ele teria ignorado a piora na saúde mental do filho e não teria se importado em prevenir perigos que eram previsíveis.
A promotora do condado de Oakland Karen McDonald afirmou que James "não está sendo julgado pelo que o filho fez” mas "pelo que fez e pelo que não fez”. A defesa, no entanto, afirmou que os argumentos da promotoria eram baseados em "suposições" e não em evidências legais.
Negligencia levou aos assassinatos?
"Eu pedi para o meu pai me levar ao médico ontem, mas ele apenas me deu algumas pílulas e me disse para 'engolir isso', Ethan escreveu para um amigo em abril de 2021, meses antes do massacre.
“Não tenho nenhuma AJUDA para meus problemas mentais e isso está me fazendo ATIRAR NA P* DA ESCOLA”, escreveu Ethan em um diário. “Quero ajuda, mas meus pais não me ouvem, então não consigo ajuda.”
No dia do ataque à escola, os pais foram chamados na Oxford High School pelo conselheiro da escola Shawn Hopkins, porque Ethan tinha desenhado armas no caderno de matemática com as frases: "me ajude", "sangue em todo lugar" e "minha vida não tem sentido".
Hopkins recomendou que os pais levassem Ethan para conseguir ajuda com a saúde mental, mas Jennifer disse que eles não poderiam pois tinham que trabalhar. James não protestou a escolha da esposa, de acordo com o testemunho dado por Hopins.
Os promotores afirmaram que, caso ambos tivessem ouvido o conselheiro ou dito a ele que o filho tinha ganhado uma arma há pouco tempo, o ataque poderia ter sido evitado. A defesa de James não concordou com a promotoria.
Eles também argumentaram que, após o tiroteio, o casal contratou advogados para eles, mas não para o filho e que Jennifer enviou uma mensagem de texto para uma amiga afirmando que o destino do filho já tinha sido definido, mas que ela tinha que cuidar de si.
As vítimas
Justin Shilling, 17, foi morto com um tiro a queima roupa após ter Ethan mandar que ele ficasse de joelhos. Hana St. Juliana, 14, morreu após ele atirar nela pela segunda vez, depois que ela já estava no chão para "terminar o trabalho", conforme o juiz Rowe afirmou durante o julgamento do jovem. Madisyn Baldwin, 17, e Tate Myre, 16, foram as outras duas pessoas mortas por ele durante o ataque a tiros na escola.
*Com informações do jornal CNN US