CIÊNCIA E MEIO AMBIENTE

Cientistas dizem que aquecimento global está mudando cor do oceano

Pesquisa por satélite ao longo de 20 anos aponta desvio para o verde. Razão ainda é desconhecida, mas grupo considera que mudança é causada pela atividade humana

Publicado em: 15/07/2023 03:00
Última atualização: 17/10/2023 15:21

A cor azul do mar faz parte de músicas, de poesias e está até nos desenhos infantis. Mas um estudo recente de cientistas norte-americanos e britânicos aponta que, aparentemente, o oceano está começando a ficar cada vez mais verde.

As causas exatas ainda são desconhecidas, mas a teoria mais provável é que isso tenha a ver com o aquecimento global. Mas calma, ainda não vai ser preciso pedir para seu filho mudar a cor do desenho na porta da geladeira. A oscilação, por enquanto, é quase imperceptível aos olhos humanos. Acende, porém, um alerta ambiental.


O olho humano em geral enxerga o oceano como azul, mas na verdade há variações de tonalidade mais sutis, que podem ser medidas com equipamento especial e foram registradas por satélite Foto: Adobe Stock

Estudo publicado na revista Nature de julho pelo Instituto Tecnológico de Massachusetts (MIT) dos Estados Unidos e pelo Centro Oceanográfico Nacional do Reino Unido aponta que a cor do oceano mudou significativamente ao longo dos últimos 20 anos. A tendência, que é global, seria provavelmente induzida pelas transformações humanas no meio ambiente, de acordo com o artigo.

A pesquisa aponta que foram detectadas oscilações na cor dos oceanos ao longo das duas últimas décadas que não podem ser explicadas por variações anuais naturais. As mudanças de cor, embora sejam sutis para o olho humano, ocorreram em 56% dos oceanos mundiais. Trata-se de uma extensão maior do que a área combinada de terra firme em todo o planeta.

Mudança ao longo do tempo

Em especial, os cientistas descobriram que as regiões tropicais perto do equador ficaram mais verdes ao longo do tempo. A mudança na cor do oceano indica que ecossistemas sob a superfície devem também estar mudando, já que a cor do oceano é um reflexo dos organismos e materiais que estão em suas águas.

Neste ponto, os pesquisadores ainda não podem dizer exatamente como os ecossistemas marinhos estão mudando e produzindo a mudança de coloração. Mas o grupo tem certeza de que a motivação estaria ligada à mudança climática induzida pelos seres humanos.

"Tenho feito simulações que me diziam, durante anos, que estas mudanças na cor dos oceanos podiam acontecer", diz a coautora do estudo Stephanie Dutkiewicz, do MIT. "De fato ver isso acontecendo de verdade não é surpreendente, mas é assustador. E essas mudanças são consistentes com mudança induzida por humanos em nosso clima."

"Isto mostra evidência adicional de como as atividades humanas estão afetando a vida na Terra ao longo de uma grande extensão espacial", acrescenta o autor principal do estudo, B.B. Cael, do Centro Oceanográfico de Southampton, no Reino Unido. "É outra forma pela qual os humanos estão afetando a biosfera."

Entendendo a cor do mar

A cor do oceano é um produto visual daquilo que está sob suas camadas superiores. Geralmente, águas que sejam azul escuras refletem pouca vida, enquanto águas mais verdes indicam a presença de ecossistemas, e principalmente fitoplâncton - micróbios semelhantes às plantas que são abundantes na superfície do oceano e que contêm o pigmento verde clorofila. O pigmento ajuda o plâncton a captar a luz do sol, que ele usa para capturar dióxido de carbono da atmosfera e converter em açúcares.


Cor da água superficial tende a reproduzir o que há abaixo. Na praia, a cor é mais clara por causa da areia. A diferença é em alto-mar. Foto: Divulgação

O fitoplâncton é a fundação da cadeia alimentar marinha, que sustenta organismos progressivamente mais complexos, como o krill, peixes, aves marinhas e mamíferos marinhos. O fitoplâncton também é uma força importante na capacidade do oceano para captar e armazenar dióxido de carbono. A clorofila, por exemplo, é medida através de quanto verde a luz da água reflete, o que pode ser monitorado do espaço via satélite.

No estudo, Cael e a equipe analisaram medidas da cor do oceano feitas pelo satélite Aqua, que monitora a cor do oceano há 21 anos. As medidas registram sete comprimentos de onda visíveis, incluindo as duas cores que os cientistas normalmente usam para estimar a clorofila.

As diferenças de cor que o satélite registra são muito sutis para que o olho humano diferencie. Muito do oceano aparenta ser azul para os nossos olhos, mas a cor real pode conter uma mistura de comprimentos de onda mais sutis, do azul ao verde e, mesmo, ao vermelho.

Cael executou uma análise estatística usando todas as tonalidades do oceano medidas desde 2002 até 2022. Primeiro observou como as cores mudaram região por região durante um determinado ano, o que deu uma ideia das variações naturais. Ele então partiu para um olhar mais geral, verificando como as mudanças de cor aconteceram ao longo de um período maior, de duas décadas. Esta análise mostrou uma tendência clara, acima da variação natural ano a ano.


Em busca de explicações

Para verificar se a mudança está relacionada à mudança climática, Cael então aplicou o modelo de Dutkiewicz de 2019. O modelo simulava os oceanos da Terra em dois cenários: um com adição de gases de efeito estufa, outro sem. O modelo de efeito estufa previa que uma tendência significativa apareceria em 20 anos e que isso produziria mudança na cor do oceano em cerca de 50% das águas oceânicas superficiais - quase exatamente o mesmo que a análise de satélite de Cael mostrou.

"Isto sugere que a tendência que observamos não é uma variação aleatória do sistema terrestre", diz Cael. "É consistente com mudança antropogênica no clima."

"A cor dos oceanos mudou", diz Dutkiewicz. "E nós não podemos dizer como. Mas podemos dizer que mudanças na cor refletem mudanças em comunidades de plâncton, o que vai impactar tudo que se alimenta de plâncton. Também vai afetar quanto carbono o oceano absorve, porque diferentes tipos de plâncton têm diferentes capacidades de fazer isso. Então, esperamos que as pessoas levem isso a sério. Não se trata apenas de um modelo prevendo que as mudanças vão acontecer. Agora podemos ver isso acontecendo, e o oceano está mudando."

* Com informações de Science Daily

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