Cientistas descobriram que o que se acreditava ser um importante fóssil com 270 milhões de anos é, na verdade, uma fraude centenária. Artigo científico publicado agora em fevereiro no periódico científico internacional Palaeontology detalha os resultados de uma análise com equipamentos modernos em um lagarto fossilizado encontrado nos Alpes em 1931.
O fóssil em questão traz um exemplar de Tridentinosaurus antiquus, um réptil do período cisuraliano, no final da era paleozoica. A idade é estimada entre 270 e 290 milhões de anos atrás. Até agora, acreditava-se que se tratava do exemplar mais completo do animal. Isso porque, além de fragmentos de ossos, também havia um contorno tênue que seria indicativo de tecido mole, isto é, pele ou couro. Encontrar este tipo de tecido preservado é algo muito raro, por isso o fóssil era importante. Os tecidos moles ajudam a reconstituir o formato de um animal e detalhes como pele ou carapaça.
A principal autora do artigo é a paleontóloga Valentina Rossi, especializada, justamente, em tecidos moles de fósseis. Ela fez a descoberta durante um trabalho de pós-doutorado na Universidade de Cork, na Irlanda.
O artigo científico também é assinado por outros seis especialistas, Massimo Bernardi, Mariagabriella Fornasiero, Fabrizio Nestola, Richard Unitt, Stefano Castelli e Evelyn Kustatscher. O texto explica que para estudar o fóssil encontrado em 1931 foi usado um conjunto de novas tecnologias, sendo realizados escaneamento com luz ultravioleta, modelagem 3D, escaneamento com microscopia eletrônica, espectrografia e micro raio X.
A análise apontou que o que se havia acreditado ser indício de tecidos moles no fóssil, na verdade, era tinta. “O material formando o contorno do corpo não é de tecidos moles fossilizados, mas um pigmento manufaturado, indicando que o contorno do corpo é uma fraude. Nossa descoberta apresenta novas questões sobre a validade deste exemplar enigmático”, diz o texto.
O artigo conclui com o fato de que o fóssil apresenta também detalhes de ossos, que são compatíveis com outros registros da mesma espécie. Porém, uma vez que foi detectada uma adulteração na mesma peça, os cientistas aconselham ter cautela ao empregar o exemplar para qualquer estudo conclusivo.
Área enfrenta desafios
A paleontologia, que é o estudo dos fósseis, tem como um de seus desafios completar o registro de antigas espécies, o que ajuda a compreender a evolução da vida no planeta e também a distribuição dos animais e plantas ao longo das eras. Entretanto, um dos problemas que assolam a área são, justamente, as fraudes e adulterações. É comum que peças importantes sejam destruídas ou adulteradas devido à manipulação indevida. Em alguns locais, historicamente, também chegaram a atuar grupos especializados em fraudar fósseis, uma prática criminosa semelhante às fraudes em obras de arte.
Como o caso exposto já tem quase 100 anos, não devem ser tomadas medidas policiais. Mas o caso é visto como um indicativo da utilidade de periodicamente reexaminar, com novas tecnologias, antigos achados. A revista na qual o artigo foi publicado é um dos mais importantes periódicos mundiais da área, mantido pela Associação Internacional de Paleontologia, sediada em Londres, Reino Unido.
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