O ministro das Relações Exteriores de Israel, Israel Katz, se manifestou mais uma vez nas redes sociais para repudiar a comparação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva entre a guerra atual na Faixa de Gaza e o Holocausto, que gerou uma crise diplomática entre os dois países. Na sua conta do X (antigo Twitter), Katz publicou um vídeo da brasileira Rafaela Triestman, sobrevivente do ataque terrorista do Hamas no dia 7 e outubro, para justificar a campanha militar israelense no enclave como “guerra justa”.
Katz direciona a postagem para Lula e afirma que o vídeo é uma “mensagem que o senhor deveria ouvir” depois da comparação entre “a nossa guerra justa contra o Hamas e os atos desumanos de Hitler e dos nazistas”.
Rafaela inicia o vídeo com um relato do que aconteceu no dia do ataque. Ela estava com o namorado Ranani Glazer e amigos em um festival de música eletrônica que foi atacado pelo Hamas. O namorado e os amigos não sobreviveram ao ataque terrorista. Ela conseguiu viver após se esconder debaixo de corpos de vítimas.
No fim, a brasileira afirma ter parentes que sobreviveram ao Holocausto e diz que não se sente segura de retornar ao Brasil após o comentário do presidente, que ela considera antissemita. “É uma situação muito complicada saber que eu, brasileira, não posso voltar para o meu próprio país por conta do perigo de ser judia e estar em um país onde tem muito antissemitismo, onde a representação do país faz comentários antissemitas, onde o governo compara o que Israel faz com Hitler”, diz.
No vídeo, Rafaela aparece ao lado de Israel Katz. Ela também acusa o governo brasileiro de não entrar em contato e não prestar assistência a ela e aos demais brasileiros que foram vítimas ou são parentes de vítimas do 7 de outubro. Procurado pelo Estadão, o Itamaraty ainda não respondeu às acusações.
A postagem dá continuidade às críticas do governo de Israel a Lula. O chanceler israelense havia se manifestado nas redes sociais nesta terça-feira (20) para cobrar um pedido de desculpas do presidente brasileiro. No dia anterior, Katz também levou o embaixador do Brasil em Tel-Aviv, Frederico Meyer, ao Museu do Holocausto para lhe passar uma reprimenda em hebraico.
O governo brasileiro não recuou da declaração do presidente e fez críticas ao governo de Israel pelo modo como age.
Nesta terça-feira, 20, o chanceler brasileiro, Mauro Vieira, disse que Israel Katz demonstrou comportamento duplo e agiu de forma “insólita” e “ofensiva” contra um chefe de Estado. Vieira classificou a posição do governo israelense de “antidiplomacia” por ter “instrumentalizado” a declaração de Lula para angariar apoio internacional em um momento em que está isolado. Israel sofre pressão para não realizar uma incursão militar em Rafah, ao Sul de Gaza, onde estão cerca de 1,5 milhão de refugiados.
Em conversas reservadas, diplomatas afirmam que o Brasil não quer ampliar a crise diplomática para manter o foco na reunião de chanceleres do G-20, que acontece nesta quarta e quinta-feira no Rio de Janeiro. Parte dos aliados de Lula defendem que o Brasil expulse o embaixador de Israel, Daniel Zonshine, mas não há uma indicação oficial de que o presidente brasileiro irá optar por esta medida.
Por enquanto, as medidas aplicadas foram apenas as convocações dos embaixadores dos dois países a prestar esclarecimentos às chancelarias junto as quais estão credenciados.
Desde que a ofensiva de Israel na Faixa de Gaza teve início, a chancelaria brasileira já teve quatro encontros com Zonshine para manifestar desagrado com atitudes tomadas por ele, como sua participação em uma reunião com parlamentares de oposição com a presença do próprio Bolsonaro, no ano passado, ou pelo governo israelense. O último encontro aconteceu após Lula ser classificado como “persona non grata” em Israel pela declaração e pela reprimenda contra Frederico Meyer.
Segundo o governo brasileiro, o comportamento com o embaixador brasileiro em Israel é inaceitável porque se tratou de uma humilhação. Meyer foi chamado de volta à Brasília, mas Lula ainda não decidiu se irá removê-lo de Israel.
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