O cenário tecnológico já começou a sentir alguns efeitos por conta do iminente bloqueio do TikTok imposto pela Suprema Corte dos EUA. O app concorrente, RedNote, por exemplo, já vê sua popularidade subindo nas lojas norte-americanas de aplicativos.
Além disso, se a determinação da justiça americana que obriga a venda operação local do app for seguida, mudanças tanto econômicas quanto tecnológicas devem ocorrer por lá.
Mas o usuário brasileiro vai sentir esses efeitos? É possível que sim, dizem especialistas. Embora o app continue funcionando normalmente em outros países, a natureza da lei que decidiu proibir o TikTok implica mudanças graduais até mesmo para usuários de fora dos EUA.
As mudanças de maior importância tendem a acontecer a médio e longo prazos, começando pelo conteúdo. Internautas americanos correspondem à maior população dentro do aplicativo, que tem cerca de 170 milhões de contas ativas na plataforma.
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“Uma das maiores preocupações que poderão ocorrer para os usuários brasileiros é a possibilidade de perder o acesso a conteúdos produzidos por criadores norte-americanos”, explica Rodrigo Silva, professor da Faculdade de Computação e Informática da Universidade Presbiteriana Mackenzie e coordenador do Laboratório de Segurança Cibernética Cybersec LAB.
“O TikTok é conhecido por seu algoritmo global, que frequentemente exibe vídeos de criadores de diferentes países, dependendo das preferências do usuário”, diz ele. E esse alcance global de conteúdo também pode fechar portas para os criadores brasileiros.
“O criador de conteúdo brasileiro também depende da sua repercussão de maneira global”, diz Bruno Peres, professor de marketing digital da ESPM. “A gente vai ver uma entrega menor de conteúdo.” A consequência disso também pode ser econômica para os nossos influenciadores.
Como parte de um mecanismo que movimenta o comércio eletrônico global, o TikTok tem influência sobre a publicidade digital e está na planilha de gastos da área de marketing das maiores empresas do mundo. “Os maiores influenciadores do mundo no TikTok são americanos. Mesmo o público asiático consome muito o conteúdo americano”, explica Peres.
O bloqueio, portanto, deve resultar em uma reorganização das verbas publicitárias, em especial das grandes multinacionais. No Brasil, esse efeito seria em dose dupla: menos investimento de empresas americanas em marketing para o TikTok e menos conteúdo disponível para quem consome esse material.
Sobre a monetização dos criadores, ainda é cedo para afirmar que o bloqueio vai resultar em grandes mudanças. Mas é possível que o valor pago a criadores americanos seja diluído entre os vários mercados onde o aplicativo ainda está ativo.
“Então, a gente vai ter um impacto significativo tanto financeiro quanto na questão de conteúdo mesmo,” afirma Peres.
Migração
Nesse cenário, onde a massa de criadores americanos esvazia o TikTok, não resta alternativa aos usuários a não ser buscar redes vizinhas que comecem a oferecer aquele conteúdo. “A redução progressiva de conteúdo atualizado vai implicar uma migração gradual para outras plataformas”, diz Peres.
Essa migração já é parcialmente detectada pelas lojas de aplicativos. Nas últimas semanas, o RedNote registrou alta de 200% nos EUA. No Brasil, o efeito foi refletido, e mais de 30 mil usuários se cadastraram por lá em janeiro.
A decisão da Suprema Corte dos EUA coloca uma porção de condicionais, a principal delas é que o TikTok é obrigado a vender sua operação no país se quiser continuar com a operação.
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Sua venda, portanto, pode resultar em um novo aplicativo, independente e com novo algoritmo para os americanos. Isso aumentaria a competição global entre as plataformas, além de impor uma nova dinâmica entre rede social e usuários. “Isso é mais próximo do que aconteceu com o X (antigo Twitter), onde tivemos uma troca total de dono e, consequentemente, uma mudança na filosofia da plataforma”, explica Peres.
Bloqueios não são novidade para a ByteDance
Pela legislação americana, a ByteDance tem até o dia 19 de janeiro para vender o TikTok. Se isso não acontecer, a plataforma será impedida de atuar no território do país.
“É importante dizer que o bloqueio do TikTok nos EUA pode sinalizar uma tendência global de restrições a plataformas estrangeiras, especialmente aquelas ligadas à China. Podendo, inclusive, inspirar outros países a adotar medidas semelhantes”, explica Silva
O caso não é isolado. O banimento completo do app já aconteceu em países como Irã, Nepal e Paquistão. Na ÍNDIA, o aplicativo está inacessível desde 2020. Em países como Reino Unido, França e Áustria, há bloqueio parcial em dispositivos governamentais, por exemplo.
Ainda, o app enfrenta problemas legais na RÚSSIA, onde foi multado por não remover conteúdo. Na Albânia, o TikTok foi banido após um adolescente ser esfaqueado e morto por causa do app.
Silva explica que quem ainda tentar usar o app nesses países por meio de VPN (serviço que cria uma espécie de rede privada de internet e protege a identidade do usuário) pode enfrentar problemas na justiça. “A utilização de uma VPN para brasileiros que estão de passagem ou residem nos EUA pode ser uma alternativa interessante para contornar o bloqueio”, diz. “Porém, é preciso ter cuidado para não cometer irregularidades com a legislação dos EUA.”
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