A vida de um jogador de futebol é feita de conquistas, que vão além de títulos. O sonho em jogar profissionalmente vem desde criança, e para o zagueiro Gabriel Bohrer Mentz, de São Leopoldo, não foi diferente. Do início, aos 5 anos, na Escolinha do Bizu, na Scharlau, até hoje, com 26, e titular na defesa da seleção de Malta, o caminho foi longo e envolveu todo o sacrifício que o mundo da bola impõe.
Em entrevista exclusiva ao Grupo Sinos, Gabriel comenta sobre a estreia com as cores do país europeu. Ele atuou na vitória de Malta por 1 a 0 sobre a Moldávia, pela 4ª rodada da Liga das Nações, no último domingo.
“A ansiedade e expectativa para esse primeiro jogo foi bem grande. Me senti com bastante responsabilidade, toda a pressão. Estamos na Série D da Liga das Nações e queremos subir para a Série C. Jogamos contra um país que podíamos bater de frente, então sabíamos desse dever de ganhar o jogo. Estávamos jogando em casa, com a nossa torcida. Eu ia sair como titular e gerou aquele nervosismo natural. Consegui fazer uma grande partida e recebi bastante elogios. Tive uma estreia muito boa. Representar um país é muito gratificante e te dá uma energia muito grande”, conta o zagueiro.
A caminhada até a seleção de Malta foi grande. Depois de passar pela Escolinha do Bizu, Gabriel jogou na base do Esporte Clube Novo Hamburgo. Aos 10 anos, após uma competição em Montenegro, foi convidado a fazer um teste do Inter. Foi aprovado, ficando até os 19 anos no time do Beira-Rio. Sem renovar seu contrato, se transferiu para o Botafogo. No Rio de Janeiro, no último ano de sub-20, teve a primeira experiência longe da família e amigos.
A passagem no Rio foi curta. O defensor acabou ficando sem clube por cerca de seis meses. O que poderia desanimar o atleta, serviu de motivação, e a sorte também brilhou. Ele soube por meio de um empresário que precisavam de um zagueiro em Malta. “Fui para o Santa Lucia em 2019. Fiquei um ano. Fiz uma boa temporada, o que chamou a atenção do Gzira, meu atual time. E, após essas cinco temporadas aqui, consegui ter uma carreira bem consistente, atuando bem, virei um dos líderes do time, sou o segundo capitão. Nunca ganhamos o campeonato, mas sempre brigamos em cima na tabela”, diz.
Convite e cidadania
Após cinco anos vivendo em Malta, o jogador teve o direito de pedir a cidadania maltesa. “Isso foi discutido pela federação e o meu clube, sobre a possibilidade de eu defender Malta. Eles concordaram. Surgiu essa oportunidade e trabalhamos para fazer dar certo. A definição saiu há menos de um mês e eu já fui convocado para a seleção”, lembra.
“Ficamos muito felizes com a cidadania. É algo que abre portas, fora a oportunidade de representar um país, é um local que considero a minha casa, já fiz muitas amizades, sei da cultura, gosto muito de morar aqui. Estou trazendo a minha família para visitar e conhecer os nossos costumes. Essa oportunidade de representar o país é fantástica, é o país inteiro torcendo por ti.”
Além dos sonhos
Perguntando se lá no início, quando começou do futsal, imaginava que seu destino seria defender uma seleção europeia, o jogador disse que não.
“Lá atrás, se eu tivesse que imaginar que jogaria em uma seleção na Europa, eu não ia acreditar. A gente começa a jogar futebol pintando um caminho, mas a vida te leva, se te leva, para outros lugares. Eu fui abençoado pelas oportunidades que tive e trabalhei muito para isso, com muita disciplina. Mas nunca imaginei que estaria aqui hoje, representando um país. Não tinha como prever. Só posso aproveitar esse momento.”
Mesmo a 10 mil quilômetros de distância, Gabriel não esquece suas origens. E confessa que sempre quando pode, volta ao seu lar.
“Quando tenho férias, eu volto para São Leopoldo, que é um lugar que eu amo. Gosto de estar aí, perto da minha família e amigos. Eu nunca me preparei para sair de perto da família, tem o lado da saudade, mas sempre tive isso no fundo da minha cabeça porque eu amo o futebol e teria de fazer esse sacrifício para jogar. É bom ver que está valendo a pena”, finaliza.
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