Os confrontos finais do Campeonato Municipal de Futebol de Campo de Novo Hamburgo, no último final de semana, tiveram “elementos extras” tornaram a final da competição ainda mais brilhante. Se na arquibancada do Estádio do Vale, cerca de três mil pessoas acompanharam a rodada, o que mostra a valorização da comunidade desportiva de Novo Hamburgo pelo varziano, do outro lado do alambrado, ex-atletas, como Gustavo Papa, Emerson Leal e Deives, relembraram os tempos de profissional.
Contudo, os olhos de todos estavam voltados para dois outros personagens que pisaram no gramado: os árbitros Leandro Vuaden e Anderson Daronco, dois dos mais importantes nomes do quadro de árbitros do Rio Grande do Sul e da Confederação Brasileira de Futebol, foram contratados para comandar os duelos da tarde.
Na final do veterano, a condução do espetáculo ficou por conta de Leandro Vuaden, que dois dias antes havia apitado o confronto entre Santos e Fortaleza pela última rodada do Campeonato Brasileiro 2023, partida que determinou o rebaixamento do time paulista à Série B pela primeira vez na história. Já pelo 1º Quadro (força livre), principal categoria do amador hamburguense, os trabalhos ficaram sob a responsabilidade de Anderson Daronco, árbitro FIFA desde 2015.
Antes da bola rolar, Vuaden e Daronco conversaram com a reportagem do Grupo Sinos. Falaram sobre a carreira, futuro e assuntos polêmicos relacionados ao apito.
Daronco na final do varziano de Taquara
Neste sábado (16) acontece a final do Campeonato Municipal de Futebol de Taquara, e o árbitro Anderson Daronco será a atração no confronto final da categoria livre, entre Santos e Vila Nova. A partida inicia às 2o horas, no Campo do Taquarense. Antes disso, às 18 horas, ocorre o duelo final pela categoria veterano, entre União Bilhar Grenal e Vila Nova.
“Vamos centralizar a arbitragem em Porto Alegre, é uma forma de tratar todos de forma igual”, avisa Vuaden sobre novidade na arbitragem gaúcha.
O árbitro Leandro Vuaden, que anunciou a aposentadoria após a última rodada do Brasileirão 2023 e dois dias depois foi anunciado como novo presidente da comissão de arbitragem da Federação Gaúcha (FGF), falou sobre como aconteceu sua preparação para ‘pendurar o apito’ e comentou sobre as novidades que irão surgir no sistema de arbitragem do RS sob o seu comando.
Confira, abaixo, os principais trechos da entrevista em quatro tópicos.
Aposentadoria e a nova função: presidente comissão de arbitragem do RS:
Estava desde a pandemia me preparando para ‘pendurar o apito’, mas queria continuar no meio da arbitragem. A idade chega e o momento [de parar] também. Isso acontece com o jogador, e o árbitro tem que ser consciente que isso vai acontecer também. O processo para assumir a comissão de arbitragem foi construído desde a final do Gauchão, quando surgiu a notícia de que o Fernando [Luiz Fernando Gomes Moreira, ex-presidente da Comissão Estadual de Árbitros de Futebol – CEAF/RS] sairia no final do ano. Por tudo que o futebol do Rio Grande do Sul me deu, eu me sentia na obrigação de me colocar à disposição. Desde setembro, estou trabalhando de forma interina, justamente para ir programando o ano de 2024. A ideia é dar continuidade ao trabalho interino, pensando sempre no melhor dos árbitros, porque os árbitros não são inimigos do futebol, eles são parceiros. Vamos trabalhar com o sonho de 210 profissionais, potencializar o dom que cada um tem. É preciso que os árbitros entendam que a comissão [de arbitragem] é seu porto seguro, que eles podem confiar em nós, que nós vamos confiar neles.
Mudanças com Vuaden à frente da arbitragem gaúcha:
A primeira coisa que precisa ser dita é que o Rio Grande do Sul tem um quadro de árbitros reconhecido nacionalmente e internacionalmente. Ou seja, temos um plantel fantástico aqui. A história diz isso. Em se tratando de gestão, as mudanças fazem parte do contexto. Uma que posso citar: não teremos mais sorteio de arbitragem e sim designações. Alguns detalhezinhos em relação às avaliações físicas, que geralmente sempre eram feitas no início do ano, vão ser feitas agora [aconteceu no início desta semana]. A gente faz o controle de peso e tem um percentual que ele não pode exceder na apresentação para a pré-temporada, que acontece de 10 a 13 de janeiro. Uma outra situação que a gente vai anunciar também é a centralização da arbitragem em Porto Alegre. Hoje ainda temos árbitros de delegacia, os denominados do interior. A partir de 2024 todos estarão vinculados à CEAF, sob nossa tutela. É uma forma de tratar todos de forma igual. A residência não pode determinar se ele pode apitar em algum lugar. Os árbitros das delegacias geralmente atuavam num círculo muito pequeno. A gente quer abrir esse horizonte.
Profissionalização dos árbitros:
É um ponto bastante discutido no Brasil há muito tempo. Parei de atuar profissionalmente na quarta-feira [dia 6 de dezembro, na última rodada do Campeonato Brasileiro], mas continuo com o mesmo pensamento: sou prestador de serviço, e isso [a profissionalização dos árbitros] está em uma hierarquia superior, não compete a nós [árbitros], infelizmente. Evidentemente que seria louvável que isso acontecesse, mas aí tem que vir de cima para baixo, da FIFA, depois CBF, e por último a federação. Se puder colaborar para isso acontecer, com certeza, farei. Por enquanto, infelizmente, isso não é possível. O que vou tentar fazer é dar, cada vez mais, melhores condições para amenizar essa questão toda de o árbitro não ser reconhecido profissionalmente. Seria justo, porque a cobrança é grande.
Sobre os campeonatos varzianos:
Para mim, é a essência do futebol. E eu vou para campo de jogo com a mesma responsabilidade, com a mesma vontade, com a mesma determinação, como se eu fosse para uma partida profissional. Eu acho que isso é respeito. Sou muito grato aos campeonatos varzianos. Posso te dizer, com toda tranquilidade: se eu nascesse de novo e tivesse a opção de ser árbitro de futebol, ia marcar com um ‘x’ bem grande.
“Tem que perguntar pra ele como foi jogar um jogo que eu apitei”, diz Daronco sobre ter apitado jogo de Cristiano Ronaldo.
Diferente de Vuaden, o árbitro Anderson Daronco ainda tem muitos objetivos na arbitragem antes de pensar em aposentadoria. O árbitro conhecido pelo porte físico avantajado, tem a expectativa de poder ser um dos selecionados para apitar jogos da Copa América, em 2024. Ele também falou, em tom de brincadeira, sobre a experiência de ter apitado uma partida com Cristiano Ronaldo, um dos atuais astros do futebol mundial.
Confira, abaixo, os principais trechos da entrevista em quatro tópicos.
O futuro e o sonho de ir à Copa América:
Antes de pensar em aposentadoria, ainda tenho objetivos na arbitragem. Um deles é atingir um número de 300 jogos na Série A… mais uns três anos, consigo atingir essa meta. Tem também uma Copa América ano que vem, nos Estados Unidos, que tem a possibilidade de estar trabalhando nela. Não dá pra prometer nada, porque a arbitragem é jogo a jogo. Para chegar lá é complicado. É uma sequência de trabalho, que a CONMEBOL vem avaliando já. Depende do número de vagas de árbitros por país. É uma sequência de fatores que pode levar a participação numa competição como essa. Mas tenho a expectativa de que isso possa acontecer.
Como foi apitar um jogo com Cristiano Ronaldo em campo?
Foi muito bacana, mas também tem que perguntar pra ele como é que foi jogar um jogo que eu apitei (risos). Foi um prazer muito grande. Tive a felicidade de apitar jogos do Messi e do Cristiano Ronaldo. Então, posso dizer que ‘zerei’ na arbitragem, no meu tempo, na minha época, em ter apitado jogos dos dois melhores jogadores da atualidade.
E o VAR, veio para transformar a arbitragem?
O VAR veio para ajudar, para deixar o futebol mais justo. Claro que em um momento ou outro vai ter uma polêmica, vai ter uma questão para discutir. Hoje, a gente não tem mais gols com erros de regra 11, que é impedimento, essas coisas assim. E o resto, as grandes coisas também o VAR consegue corrigir e deixa o futebol justo, que é o que todo mundo espera. Mas, assim, o VAR não é um videogame, não é um computador em que acontece um lance, tu aperta uma tecla e a decisão vem. Tem um ser humano, tem um operador ali, que precisa interpretar o lance, tem que traçar as linhas, já que ainda não temos o semi-automático como utilizado na Copa do Mundo. Então, por um certo tempo, temos que ser compreensíveis com as demoras que acontecem.
Sobre os campeonatos varzianos:
É uma satisfação, porque eu comecei apitando no futebol amador. Então, sempre que tenho a oportunidade de retornar, eu faço questão. Não deixa de ser uma grande responsabilidade, porque tem que corresponder às expectativas das pessoas, de um trabalho bem realizado.
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