Bem-vindo a nossa jornada por Paris! Te convido num passeio pelas atrações mais conhecidas e pelos lugares mais secretos da capital francesa. Suba no meio de transporte preferido dos parisienses, o RER B, que passa por todos os pontos icônicos da cidade luz. Além dessa, nas próximas três edições, você vai descobrir o charme de um bairro diferente e viver Paris na pele de um local. Todos a bordo… Cuidado com o fechamento das portas.
Acabaste de aterrissar no aeroporto Charles de Gaulle e não tens certeza de como chegar em Paris e por onde começar a visitar a cidade? Pegue o Réseau Express Regional (RER), irmão mais velho do metrô, que serve a região parisiense toda, incluindo as periferias. Somente a linha que vai nos levar hoje, o RER B, transporta 165,5 milhões de pessoas anualmente. São 80 quilômetros de linha, que leva apenas três minutos de intervalo entre uma estação e outra. No total, são 47 paradas.
Subimos na parada do aeroporto, que é o ponto mais ao norte da linha, e vamos descer um pouco ao sul, atravessando Paris bem pelo meio e sair do outro lado, numa viagem que revela todas as facetas da capital francesa.
Primeira parada: La Plaine – Stade de France
Antes de entrar no Centro de Paris, vamos, primeiro, dar uma volta no projeto que concentrou a atenção da nação inteira nos últimos anos, e que logo vai ter foco internacional: o vilarejo e os estádios olímpicos. Se a maior parte da cidade se enfeitou para acolher os Jogos Olímpicos, neste lugar as mudanças chegam num outro nível.
Saindo da estação, a primeira estrutura visível é o recém terminado centro aquático de Saint-Denis, que acolherá competições de natação artística, polo aquático e mergulho. Ao lado, o famoso Stade de France, que acolhe frequentemente mais de 80 mil espectadores em eventos esportivos históricos, como jogos da seleção francesa de futebol e torneios de rugby. Com o dobro da capacidade do maior palco europeu, a Défense Arena, também em Paris, o Stade de France, ocasionalmente, vira cenário dos maiores artistas do mundo, onde se apresentaram Eminem, Beyoncé, Rolling Stones e AC/DC.
Porém, hoje, os nomes que são mais repetidos não são da indústria musical, e sim do mundo esportivo. Entre revelações de último minuto e atletas consagrados, todos vão morar juntos durante duas semanas e não somente competir, mas também conviver com seus homólogos estrangeiros.
A Vila Olímpica foi construída conforme as experiências e pedidos dos atletas dos Jogos anteriores. O vilarejo vai enfrentar os desafios logísticos que representam o acolhimento de 14 mil atletas. Funcionando a 100% com energia renovável, o local foi desenhado para garantir um acesso facilitado às principais atividades dos atletas: descansar, comer, treinar, receber tratamento médico e conviver.
Principal novidade da comuna de Saint Denis, a Vila trouxe esperança para a região. A ideia do projeto é deixar um legado com seis mil alojamentos, duas escolas, hotéis e infraestrutura esportiva de qualidade.
Passeio pelo emblemático bairro de Montmartre
Seguimos para o sul na direção de Paris. Porém, antes de chegarmos no centro, temos que atravessar o “périphérique”. Esta grande auto-estrada que circula Paris separa os subúrbios de “Paris intra-muros”, ou seja, o Centro da cidade. Para atravessar os 35 quilômetros, precisamos passar por “portas”. Em nosso caso, pelas Porte de la Chapelle ou Porte de Clignancourt. Esses certamente não são os lugares mais charmosos que veremos hoje, e até são considerados como pontos mais perigosos da cidade. É possível pular essa parte do percurso voltando na nossa linha de trem e descendo da próxima estação: Gare du Nord. Dali, caminhamos em direção à última parada do dia: Montmartre.
Sempre que se fala de Paris, o nome desse morro surge nos primeiros exemplos de atrações impecáveis. Montmartre é, sobretudo, um encontro de movimento efêmero e rigidez histórica. Pelas ruas sinuosas escavadas pelo tempo, movimentos artísticos de pintura, música e literatura, e moradores de todas as classes sociais e origens se misturam. Devagar, num passo lento, mas confiante, suba pelas lojas de souvenirs e pelos bistrôs até chegar em cima do morro. Ali, a fama de Montmartre já faz mais sentido: a vista sobre a cidade é inigualável.
Parte da força do morro e o charme que tira destes pontos de fuga: da praça central no ponto culminante do morro, onde pintores fazem retratos dos turistas em tempo recorde, cada rua descendo oferece sua própria paisagem de cartão-postal. Mas o melhor ponto é a panorâmica completa que temos desde as escadas da Basilique du Sacré-Coeur. Meu último conselho: fazer este caminho pela manhã: o silêncio deixa mais espaço para a imaginação escapar, e as ruas vazias se tornam um percurso temporal, revelando seu charme secreto.
Por dentro do coração de Paris
Segunda parada do trem RER B… Châtelet-Les Halles! Agora chegamos ao coração de Paris, num complexo subterrâneo imenso onde se cruzam dezenas de linhas de metrô indo em todas as direções. Chegar até a saída ou trocar de linha pode levar dezenas de minutos de caminhada por galerias, e por isso parisienses apressados evitam ter que passar por ali a qualquer custo. Porém, para nosso passeio, este ponto é perfeito. À medida em que subimos pelas escaleras, chegamos num centro comercial com lojas sempre na ponta da moda parisiense.
Aqui, meu conselho, é afastar-se desta central sempre lotada de mundo: agora que estamos no Centro de Paris, quase na beira do Sena, milhares de possibilidades se abrem a nós, basta caminhar alguns minutos. Esta zona ao norte do Rio Sena, chamada de “rive droite”, é tão densa de história e cultura com o Museu do Louvre, o Jardin des Tuileries, a Place de la Concorde, os Champ Élysées… enfim, tantas coisas imperdíveis que, com certeza, vais perder algumas. Por isso, quero apresentar o percurso que eu prefiro nessa zona. Sem ter a pretensão de ser o melhor caminho ou o mais completo, nesta página vou apresentar como minhas experiências deram valor sentimental a essas ruas e monumentos.
Le Marais: alma parisiense
O primeiro destino do passeio de hoje é o bairro Le Marais, que fica no Leste da estação pela qual saímos. No caminho, passamos pelo Centre Pompidou, um museu de arte moderna com arquitetura avant-guardista inconfundível. O local sempre tem exposições ou eventos que valem a pena, é bom dar uma olhada no que está acontecendo – e, como o prédio em si também é uma obra, nunca sai de lá decepcionado! Seguindo em frente, entramos no bairro que deve seu nome ao pantanal sobre o qual foi construído: o Marais.
Romântico, festivo, alternativo, o ambiente atrai muitos jovens adultos, mas a diversidade das atividades satisfaz a todos. Concentrando prestigiosos e antigos hotéis particulares, hoje considerados patrimônio cultural, o Marais abriga uma forte identidade histórica, observável nos seus vários museus. A casa do autor Victor Hugo e o museu Picasso completam o legado artístico global.
Cansado pelo peso da memória histórica condensada nestas ruas? Pare em qualquer esquina num bar ou restaurante, garanto que todos estarão ligados nas últimas tendências: aqui também se sabe fazer festa. A vida noturna do Marais é o que mais se aproxima do Paris caricatural: no verão, mesas são instaladas na rua e jantares duram até o amanhecer. Nada de extravagante: cada estabelecimento é de tamanho modesto, mas tem suas tradições e seus clientes habitués.
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Viagem no tempo: Ile de la Cité
Sabia que Paris nem sempre se chamou assim? Na antiguidade, os “gaulois” (ancestrais dos franceses) estabeleceram a cidade de Lutèce no meio do Rio Sena, na ilha que hoje é famosa pela Catedral Notre Dame de Paris. É nessa ilha que continua nossa viagem, e ao atravessar uma das várias pontes que a ligam às duas margens do rio, o ambiente já muda completamente.
Como hoje em dia nessa ilha só há parques, monumentos, restaurantes e ruas pedestres, o ambiente é bem mais relaxado. Ainda mais em fins de semana ensolarados: grupos de estudantes fazem piqueniques na beira do rio, famílias com seus carrinhos e patinetes passeiam ao som dos vários artistas performando em qualquer rua que ainda não tenha seu show. Os prédios de pedra antigos agem como toque final ao charme da zona central mais sossegada da cidade.
Claro, ao redor da catedral, é uma outra história: na praça que encara a famosa fachada de duas torres, todas as câmeras estão ligadas. Queres um lugar mais quieto de onde admirar este velho monumento de 850 anos sem ter que fazer fila durante horas para ver o interior? E só ir à pracinha atrás da catedral: eu acho a arquitetura deste outro lado bem mais impressionante e como não é tão conhecido, também é mais tranquilo.
Meu lugar favorito em Paris
Terceira parada… Port Royal! Nesta edição, vamos explorar a metade sul do centro de Paris, cujo legado histórico já se percebe ao sair do trem: a estação velha, que tem 130 anos, teve seu estilo original conservado. Ao chegar na rua, a diferença com paradas precedentes é óbvia: ruas mais largas, espaços para pedestres mais amplos e uma arquitetura meticulosa. Estamos no centro do projeto de transformação urbana dirigido pelo barão Haussmann, na segunda metade do século XIX, onde foram construídos 40 mil prédios no estilo “Haussmannien”. Tendo morado em um desses prédios, essa área de Paris é especialmente importante para mim, pois foi onde cresci. Hoje, os levarei num passeio concentrando meus lugares preferidos da cidade.
Jardin du Luxembourg
Em frente à estação de trem de onde saímos, um chafariz majestoso chama a atenção. Ao se aproximar das estátuas de cavalos, tartarugas e anjos que o compõem, a vista de trás do monumento captura nosso olhar, cultivando a curiosidade. Como se fosse uma pintura do renascimento, linhas de árvores bordam um gramado se alongando até o horizonte, numa perspectiva guiando nosso caminho até o ponto de fuga central.
Seguimos então pela grama, passando entre grupos de crianças correndo atrás de alguma bola ou fugindo dos guardas do parque, por grupos de pais distraídos, e por corredores mais preocupados pela foto que postarão nas redes sociais do que pelos seus ritmos cardíacos.
No final do caminho, uma grade indica que entramos no Jardin du Luxembourg. Com 25 mil hectares, 100 estátuas, 4,5 mil cadeiras verdes espalhadas pelo parque e seis milhões de visitantes por ano, o Jardim do Luxemburgo faz parte dos imperdíveis. Exemplo perfeito do jardim “à la française” pela sua simetria, linhas retas e árvores sistematicamente aparadas, o lugar em si se destaca dos passeadores e de seus motivos de visitas. De fato, pelas mesas de xadrez sempre lotadas, o quiosque de música, o carrossel, os pôneis, o teatro e o parque infantil, não faltam atividades para atrair qualquer um no jardim. Enfim, terminamos pela atração culminante do jardim: a fonte central e sua piscina, onde crianças empurram barquinhos a vela coloridos.
Os monumentos do Quartier Latin
Para terminar o passeio, subimos o boulevard Saint Michel, nos aproximando do Sena. Aos poucos, as ruas são menores, distâncias entre monumentos maiores, e comércios brotam dos prédios com mais frequência. Passando do Palais du Luxembourg, lugar onde está o senado francês. À direita está a Panthéon, que domina seu morro, e os prédios da Sorbonne mostram sua estatura de grande universidade. Na esquerda, o charmoso bairro do Odéon com seu teatro reinando sobre uma praça autêntica e seus cafés lotados. Este é o “Quartier Latin” de Paris, onde o latim foi primeiro idioma praticado pelos romanos cujos vestígios ainda se encontram ali, depois usado como única língua comum entre os universitários que vinham da Europa para estudar ali durante a idade média, e hoje é observado gravado nas pedras de vários edifícios das ruas empedradas.
Encontro em Montparnasse
Continuamos o passeio em direção a Montparnasse e seus bistrôs, teatros, e lojas desproporcionais. Mais velho, eu cansei da tranquilidade do Jardim du Luxembourg e comecei a apreciar a agitação dos boulevards parisienses, que vou abordar agora.
Para mim, Montparnasse se define pela palavra encontro: espaços são pensados de forma a facilitar fluxos, que sejam de pessoas, carros ou ideias. Assim, qualquer um é exposto a tanta informação, atividades e indivíduos que sempre encontra o que busca, ou o que não procurava. Encontro – como qualquer coisa em Paris – também é histórico.
A maior prova disso é o cemitério de Montparnasse, que além de resplandecer pelo respeito com o qual é mantido, reúne muitos personagens central da histórica francesa, como Charles Baudelaire, Simone de Beauvoir, Jacques Chirac e Jean-Paul Sartre. Encontrar o ponto físico das memórias deles humaniza essas figuras, além dos atos por quais são celebrados.
Voltando para a atividade constante das ruas, se nota suas infinitas possibilidades: enquanto uns encontram livros, sapatos e eletrônicos nas lojas da rue de Rennes, outros se encontram com amigos nos vários cinemas e bistrôs do bairro. E tu, que tipo de encontro fará por lá?
Periferias: o outro lado de Paris
A quarta e última parada será em Antony. Vamos terminar o passeio pela capital francesa nos subúrbios do Sul de Paris. Mesmo sendo uma faceta desconhecida dos turistas, acho importante mostrar o dia a dia da grande maioria dos parisienses. De fato, somente 2 milhões, dos 10 milhões de parisienses, vivem no centro, onde fica concentrada toda a atenção da mídia estrangeira. No entanto, o cotidiano dos oito milhões restantes é, geralmente, ignorado.
Nesta viagem, exploraremos várias realidades das vidas de quem vive por lá, mas vamos também nos interessar pelos lugares icônicos mais afastados do centro: isso inclui diversas estruturas construídas para os Jogos Olímpicos, o Château de Versailles (Palácio de Versalhes, em português) e os espaços de conservação da natureza.
Vidas negociadas: morar nas banlieues
A vida nas periferias – chamadas de “banlieues” – de Paris é heteróclita. Dependendo do bairro, padrões estereotipados se percebem nas pessoas. Isso vai dos velhos ricos das silenciosas ruas de Levallois-Perret aos cartéis de droga das “cités”; conjuntos de prédios de habitações populares. No entanto, pontos comuns unem essas vidas aglomeradas.
Como os setores de atividades profissionais são concentrados no centro, ondas de migração seguindo um “movimento pendular” moldam o cotidiano dos moradores das partes mais afastadas de Paris. Como usam majoritariamente os transportes públicos neste sentido, sedes de trens regionais são bem desenvolvidas, e as cidades são construídas ao redor das estações e dos acessos rodoviários às autoestradas que vão em direção ao centro.
Para a classe média, a vida nas banlieues oferece vários benefícios: afastar-se do centro significa fugir dos preços loucos da capital, que muitas vezes são os mais altos do país. A distância do centro também quer dizer casas com mais espaços e jardins, assim têm menos poluição atmosférica, auditiva e visual.
Em resumo, qualidade de vida e sossego são vantagens pelas quais muitos estão prontos a sacrificar o tempo necessário para chegar ao centro de Paris.
Versailles: Olimpíadas Reais
Tornando-se centro da influência real no reino de Louis 14, Versailles foi escolhido pelo monarca como residência principal para afastar-se de Paris, e até hoje constitui uma parte separada da capital francesa. Difícil abordar a beleza e a majestosidade do castelo com palavras: a visita pelos grandes salões e corredores infinitos é melhor experienciada pelos seus próprios olhos. Ao redor do castelo, os jardins e seu chafariz refletem a descrição que dei sobre o Jardin du Luxembourg: um estilo simétrico e as perspectivas hipnotizantes estão aqui num outro nível.
Mesmo separado do centro de Paris por florestas protegidas, Versailles não escapa das Olimpíadas. Além de ser etapa da maratona, do ciclismo e da marcha atlética, o local vai acolher o pentatlo e as provas equestres. Falando em provas olímpicas na periferia de Paris, a Coline d’ Élancourt e o Vélodrome nacional, com suas provas de ciclismo, estão bem perto dali, e mostram a importância de distribuir o peso dos Jogos sobre um amplo território.
O alívio urbano do Parc de Sceaux
Agora chega de generalidades: está na hora de continuar nosso passeio. Começando pela vizinhança da parada na qual descemos: Antony. Enquanto caminhamos até o parque do Sceaux, nosso primeiro destino, se nota o aspecto residencial nos arredores. Estradas largas e carros apressados, comércios concentrados nos principais eixos de comunicação, o resto do bairro é ocupado por casas de dois ou três andares com seus jardins privados. Enfim, o desenho urbano que mais parece os “american suburbs” na França abrem espaço ao detalhe que destaca a banlieue francesa do modelo americano: os parques.
Espaços para pedestre não são somente uma prioridade no centro histórico de Paris: envolve a capital toda. Nos intervalos regulares da aglomeração, refúgios naturais permitem atividades esportivas, abrigando um área verde onde os passeadores têm tranquilidade. Mas o parque onde estamos não é qualquer um.
As terras de Sceaux foram compradas pelo Colbert, figura histórica francesa do século XVII que iniciou programas governamentais para mudar o uso dos espaços naturais franceses. De sítios de pura exploração de madeira, ele conseguiu uma gestão sustentável das florestas como espaços protegidos. Sem surpresa, sua propriedade contém diversidade de árvores, que, consequentemente, tornam o fim do nosso passeio ainda mais agradável.