O Brasil não bateu nos Jogos Olímpicos de Paris o recorde histórico de medalhas que atingiu em Tóquio-2020, mas terminar 2024 com muito a celebrar e já projeta como será 2025. No ano que vem, será comum ver os maiores atletas olímpicos da história do Brasil, cansados mentalmente e fisicamente, competindo cada vez menos. São os casos de Rebeca Andrade, dona de seis medalhas em Jogos Olímpicos, e Isaquias Queiroz, que tem cinco.
“Espero estar feliz e saudável, esses serão sempre meus objetivos principais. Vou ter um ano um pouco mais tranquilo dentro do ginásio”, projetou a ginasta multicampeã, em entrevista recente ao Estadão. “Mas meu foco é total na minha recuperação, na minha felicidade, em cuidar da minha saúde mental… E isso é essencial. Espero que seja um ano muito feliz”.
A paulista de 25 anos confirmou que estará em Los Angeles, mas vai competir em menos aparelhos, e seu ciclo será bem menos exaustivo porque o corpo e a mente precisam descansar. Depois que brilhou em Paris, além do descanso, os compromissos comerciais e publicitários passaram a ser seu foco.
“Sinto que meu corpo pede todo dia para eu cuidar dele. Ele me deu muito. Tenho essa possibilidade e por que não aproveitá-la? Já conversei com o (técnico) Chico (Porath), vou ter um ano de 2025 bem mais tranquilo”, reforçou ela.
Já Isaquias passará por seu último ciclo olímpico e se despedirá do esporte olímpico nos Jogos de Los Angeles-2028. O plano do baiano de 30 anos é ter um ciclo “leve e prazeroso” até a sua quarta e derradeira Olimpíada.
“Quero curtir mais a família, a canoagem, quero desfrutar um pouco mais dessa última jornada até Los Angeles”, argumentou ele ao Estadão. “Vou tentar que seja mais prazeroso. Claro que vou ter foco, mas preciso curtir um pouco mais os campeonatos e a vida para chegar menos estressado às Olimpíadas e, querendo ou não, mais preparado”.
Uns vão parar e outros, muito longevos, continuam. É o caso de José Roberto Guimarães, que aceitou a proposta para treinar a seleção brasileira feminina de vôlei em mais um ciclo. Lenda do vôlei, o único brasileiro tricampeão olímpico, completará 25 anos ininterruptos como treinador da seleção feminina, feito histórico, caso a seleção consiga vaga à próxima Olimpíada.
“O que me faz continuar é representar 220 milhões de pessoas. É vestir essa camisa, é ver meu time no pódio, é sentir a energia que é incalculável. Difícil dizer como é esse sentimento”, justificou o treinador. A Liga das Nações e o Mundial são as competições mais importantes que disputarão as seleções de vôlei no ano que vem.
Sob nova gestão, COB terá “mudanças pontuais”
O Comitê Olímpico do Brasil (COB) terá um novo presidente a partir de 15 de janeiro. Eleito em outubro, Marco Antônio La Porta, de 57 anos, acumula experiência como gestor, tendo sido vice do próprio Paulo Wanderley, seu adversário que derrotou no pleito e quem sucederá.
La Porta e sua vice, Yane Marques, vão comandar o COB no ciclo olímpico dos Jogos de Los Angeles-2028. Yane foi medalhista de bronze no pentatlo moderno na Olimpíada de Londres-2012. No último ciclo olímpico, foi a presidente do Comitê de Atletas do COB, a CACOB. Ambos se desvincularam da atual gestão no início do ano para poderem se candidatar, no mês passado. O plano do novo presidente é promover “mudanças pontuais” na administração do COB.
“Entendemos que precisamos fazer algumas mudanças pontuais. O trabalho teve uma sequência importante, vai ser basicamente acertar o rumo de algumas coisas que entendemos que precisam ser feitas de maneira diferente, particularmente no desenvolvimento dos atletas”, disse Marco La Porta.
Ele tem duas principais preocupações: a queda de medalhas e ouros do Brasil de Tóquio para Paris e o processo de renovação em esportes importantes, uma vez que alguns dos maiores atletas do País disputarão daqui a três anos a sua última Olimpíada, e não existe no horizonte competidores tão talentosos quanto os multicampeões prestes a se aposentar.
“Tivemos um resultado muito bom Tóquio-2020 e paramos de evoluir. Entendemos que precisamos ir com calma, mapear para podermos, em Los Angeles-2028, retomar o caminho”, disse La Porta em conversa com o Estadão na cerimônia do Prêmio Brasil Olímpico, no Rio. “A renovação ainda não veio com força que a gente precisa, então vamos dar uma atenção especial a essa área, de forma que a gente possa continuar crescendo”, completou o dirigente. Os desafios são muitos, mas ajuda ter sido vice por seis anos da entidade e chefe de missão.
La Porta escolheu o campeão olímpico Emanuel Rego para ser o novo diretor geral do COB e substituir Rogério Sampaio, que deixa o cargo na primeira quinzena de janeiro. O ex-jogador de vôlei tem em seu currículo ouro nos Jogos de Atenas-2004, prata em Londres-2012 e bronze em Pequim-2008, além de três títulos mundiais. Após deixar as areias, ele se formou em gestão esportiva e marketing e ocupou cargos de relevância na política esportiva nacional, como a Secretaria Nacional de Esportes de Alto Rendimento.
Boom da ginástica
Uma das oportunidades que bate à porta do COB e de instituições privadas e públicas, é aproveitar o boom da ginástica graças ao sucesso de Rebeca Andrade. Algo que Francisco Porath, o Chico, técnico da seleção brasileira de ginástica artística e um dos responsáveis pelos vários títulos e medalhas da estrela da modalidade, sempre enfatiza. “Acho que tem esse período que é esse boom, de todo mundo comentando e falando, mas já estamos pensando em 2025, 2026, e começa em 2026 a classificação olímpica. Então, precisamos já pensar no próximo ciclo”, afirmou ele.
Em 2025, impulsionado por recordes de arrecadação através da Lei das Loterias e do número de patrocinadores do ciclo olímpico de Paris-2024, o COB destinará R$ 482 milhões exclusivamente para atividades fim, como são chamadas as ações esportivas, sendo R$ 265 milhões repassados às confederações: o maior valor da história. Haverá aumento relevante também em projetos voltados para o desenvolvimento esportivo, que crescerão 21% no primeiro ano do ciclo olímpico Los Angeles 2028.
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