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OLIMPÍADAS DE PARIS

Mônica Monstrinha: Da gravidez desafiadora ao sucesso no esporte paralímpico

Em entrevista exclusiva, a atleta que escolheu ficar paraplégica para salvar a vida da filha conta sua história, expectativas para as Paralimpíadas de Paris e como uma nova cadeira pode mudar tudo

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Publicado em: 08/08/2024 às 12h:24 Última atualização: 08/08/2024 às 12h:35
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De Santo Antônio da Patrulha, litoral do Rio Grande do Sul, Mônica da Silva Santos, a Mônica Monstrinha, deixou de ser a menina que andava a cavalo para se tornar a mulher que já competiu em duas Paralimpíadas: Rio 2016 e Tóquio 2020. Ela enfrentará o terceiro desafio, agora em Paris.

Esgrimista há mais de 20 anos, Mônica se prepara para Olimpíadas de Paris 2024 | abc+



Esgrimista há mais de 20 anos, Mônica se prepara para Olimpíadas de Paris 2024

Foto: Arquivo Pessoal

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Em entrevista exclusiva à reportagem, Mônica conta que, quando criança, tomava banho em açude e represas. “Tudo do interior mesmo”, brinca, rindo.

Mônica logo encontrou ‘seu’ Cebolinha, literalmente. Apelidado assim por ter começado a namorar com ela, ela casou com Angelo Claudeci da Silva, que era amigo do irmão dela, e estão juntos há 26 anos. Desse amor, veio Paolla. “Ser mãe é uma realização, é o amor maior do mundo”, diz.

 



 

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Gravidez desafiadora

“Descobrir a gravidez foi uma felicidade só”, relembra. Aos 19 anos, Mônica Monstrinha soube da gestação quando foi fazer um exame de sangue por outro motivo: não sentia mais as pernas. “Descobri da noite para o dia.”

Apesar de contar para todos e da felicidade, ainda não sabia o que poderia ter causado a falta de sensações nas pernas. Com quatro meses de gestação e três internada no Hospital São Lucas da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), em Porto Alegre, foi descoberto o hemangioma medular.

A gaúcha explica que é uma má-formação nas veias que geram um tumor e, por estar apertando a medula, impedia que sentisse as pernas. O hemangioma estava lá desde que Mônica nasceu e, no caso dela, poderia se manifestar durante a menopausa ou na gestação.

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Escolheu ficar paraplégica para salvar a filha

“Eles queriam que eu interrompesse a gestação para fazer a cirurgia porque eu estava correndo risco [de morte]”, expôe. “E, se eu fizesse a cirurgia, voltaria a andar.”

Conforme conta Mônica Monstrinha, os médicos optam pela vida da mãe até os cinco meses de gestação. Mas isso não era uma possibilidade para a gaúcha. “Eu pensei: ‘Só quero que ela nasça com saúde e, o que tiver que acontecer, depois a gente vê, só deixa ela nascer’.”

Ela relembra que passou o resto da gestação em repouso. Quando se movimentava, fazia em uma cadeira de escritório com rodinhas.

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Luto antes da chegada de uma vida

Enquanto passava pela gestação, que já era desafiadora, Mônica teve que enfrentar o luto pela perda do pai. Na missa de sétimo dia, para sua surpresa, a bolsa estourou. Paolla nasceu de 8 meses, mas completamente saudável. 

Apesar da felicidade pelo nascimento da filha, Mônica Monstrinha se preparava para outro momento desafiador. Quando a filha completou um mês, a gaúcha decidiu fazer a cirurgia que adiou por conta da gravidez. “Para mim, foi a parte mais difícil. Ou eu ficava tetraplégica ou vinha a óbito.”

Mônica e Paolla, um amor incondicional | abc+



Mônica e Paolla, um amor incondicional

Foto: Arquivo Pessoal

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A felicidade de acordar

Após 12 horas de cirurgia, ela acordou. “Acredito que Deus viu que não tirei uma vida e devolveu a minha”, diz Mônica. 

Com fisioterapias, outro resultado positivo: ela não havia ficado tetraplégica. “Começou a voltar o líquido da coluna e o movimento dos braços. Depois, saiu o diagnóstico de que tinha ficado só paraplégica, e aí foi uma felicidade só.”

 



 

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Recomeço

Em sete meses, Mônica Monstrinha já era independente, mesmo com a cadeira de rodas. Para ela, ser mãe já era uma grande realização, mas sentia falta de fazer algum esporte. Foi então que encontrou grupos de esportes adaptados em cadeiras de rodas no Estado pelo Orkut, rede social que fazia sucesso na época.

Antes da esgrima, foi o basquete em cadeira de rodas que chamou atenção da atleta. Inclusive, foi no esporte que ela recebeu o nome de Monstrinha, já que era a única mulher no clube. Ela começou a praticar em Canoas, mas continuou a ir em muitos outros, como vela e tênis de mesa. 

Amor pela esgrima

Antes da cadeira, Mônica conta que não conhecia a esgrima. “Não sabia nem o que era”, relata. Mas começou a praticar e, em 20 dias, ganhou a primeira medalha em uma competição em Curitiba, capital paranaense.

Ali nasceu Mônica Monstrinha. Ao ver que havia conseguido o bronze, começou a entender que tinha potencial e quis participar da seleção brasileira de esgrima. Para isso, o treino foi intenso. “Cinco dias da semana, dois turnos.” Em um ano, ela foi convidada.

Esse foi apenas o início de uma linda história no esporte. “Comecei a ganhar os campeonatos brasileiros, a viajar internacionalmente e aí aconteceu tudo”, disse. “Já conheci mais de 19 países e tudo através da minha cadeira de rodas e da esgrima.”

 



 

Do RS para Paris

Mônica lembra da primeira Paralimpíada que participou. Foi justamente em casa, no Rio de Janeiro, em 2016. “Foi muito louco, muito gostoso”, diz, salientando a participação pela torcida. “Todo mundo gritando ‘Mônica’, contando a história.”

Já na competição de Tóquio, em 2020, uma experiência completamente diferente. “Muita tecnologia, tudo lindo”, começou. “Mas não tinha ninguém para ver, ninguém para torcer, as arquibancadas todas vazias.”

Agora, Mônica se prepara para representar o Brasil nas três modalidades de esgrima durante as Paralimpíadas de Paris de 2024. “Não estou nervosa, estou bem psicologicamente e estamos treinando em um ritmo bom”, afirma.

Antes de embarcar para a capital da França, a atleta vai para São Paulo, para continuar mais treinos. “Estamos estudando os adversário e estamos focados. Quem sabe, a gente ganha uma medalha.”

Ela vai para São Paulo entre 20 e 23 de agosto e, no dia 25, para Paris. Ainda não há uma data certa para sua modalidade, mas Mônica acredita que competirá entre 5, 6 e 7 de setembro.

Esgrimista há mais de 20 anos, Mônica se prepara para Olimpíadas de Paris 2024 | abc+



Esgrimista há mais de 20 anos, Mônica se prepara para Olimpíadas de Paris 2024

Foto: Arquivo Pessoal

Uma cadeira que pode mudar tudo

Neste mês, Mônica começou uma vaquinha pela rede voaa, do Razões para Acreditar. Ela pede R$ 75 mil para conseguir comprar uma cadeira que pode mudar toda a sua vida. “Para mim é muito importante porque a cadeira que eu tenho é muito pesada.”

A cadeira nova pesa 5 quilos, 10 quilos a menos que a que usa atualmente. Além disso, pode ajudar na saúde de Mônica, que sofre com uma escoliose na coluna, o que causa muitas dores. “Até por conta dos trenos, por ser tudo de um lado, já que a gente joga esgrima de lado. E a minha escoliose está bem complicada.”

“Eu passo 20 horas por dia em uma cadeira, sabe? E eu preciso dessa cadeira em específico.” Ela conta que, para pegar a cadeira atual e guardar no carro, assim como para retirar, é um esforço diário. “Eu uso a musculatura acima do umbigo.”

Ela conta que a cadeira, produzida na Itália, é de fibra de carbono e pode ajudar com a saúde e no dia a dia. Atualmente, a vaquinha já tem R$ 18.336,66 e Mônica está confiante perante a solidariedade da população. 

Para doar, é possível entrar na vaquinha do voaa e fazer a sua contribuição.

Antes de terminar a entrevista, Mônica pediu para deixar um recado:

Eu vejo tantas pessoas com condições físicas, mas com dificuldades de enxergar o presente que é viver, que é a gente estar vivo. Eu fiz uma escolha e, mesmo estando numa cadeira de rodas, e com toda a transformação do meu corpo, uma das coisas mais importantes da minha história de vida é que eu me amo e eu me aceito como sou. Mas isso tudo é porque eu escolho ser feliz todos os dias, e ser feliz é uma escolha.

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