No início de dezembro, o hamburguense Lucas Roth de Oliveira, de 22 anos, se sagrou campeão mundial de tiro na competição IPSC Shotgun World Shoot IV, realizada em Pattaya, na Tailândia. Além do Brasil ter o melhor atleta no overall – o campeonato contou com cerca de 600 participantes -, a porto-alegrense Luísa Acosta, 20, também conquistou uma marca importante.
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Ela ficou com a medalha de prata na categoria standard manual damas. Depois de regressarem ao Brasil, os dois, acompanhados de seus pais, César de Oliveira e Leonardo Acosta, respectivamente, que também participaram das provas na Ásia, visitaram a sede do Grupo Sinos para falar sobre a experiência no exterior. Na conversa, as duas famílias pediram mais reconhecimento ao esporte, com a justificativa de terem conseguido resultados expressivos, além de elevarem o nome do País.
“Foi uma emoção do começo ao fim. Foi um grupo de amigos para lá. Desde o começo um ajudou o outro nessa viagem que chamamos de “missão Tailândia”. Os resultados deles foram inéditos para o Brasil, ainda mais agora que vivemos uma situação delicada no setor armamentista. Isso veio para dar um fôlego, mostrar que o nosso esportivo é igual a qualquer outro. Estamos nas disputas para nos divertirmos e não para outra coisa”, conta Oliveira, dono da Armeria Sports. Ele lembra de um momento emocionante durante a cerimônia de entrega das medalhas.
“Um ponto alto da competição foi ter visto toda a delegação brasileira cantando o Hino Nacional na hora do pódio. Foi uma alegria, um orgulho”, diz. “Foi de arrepiar. Todo mundo estava lá e cantamos o hino inteiro”, completa Luísa.
Segundo Acosta, o grupo será recebido pelo ministro do Esporte, André Fufuca, em Brasília, agora em janeiro.
Mais incentivo e visibilidade
Acosta comenta que outras delegações tinham muitas caixas de munição para serem utilizadas nos treinamentos, enquanto o Brasil tinha poucos cartuchos, que eram diferentes do que os atletas brasileiros estão acostumados a usar no Brasil. “Mesmo assim, sem munição, somos campeões do mundo. Imagina se nos dessem condições melhores. Falta reconhecimento, patrocínio. Temos dificuldades em buscar recursos para arcar com as despesas das viagens. Os pais precisam ir juntos porque a legislação diz que o menor de 25 anos não pode ter arma. Por conta do custo, temos que selecionar as provas. Tem atletas de outras modalidades que são patrocinados, nós não”, conta.
“Infelizmente o tiro não tem visibilidade e reconhecimento, mesmo sendo o esporte que trouxe a primeira medalha na história dos Jogos Olímpicos para o Brasil”, afirma Luísa.
“Todos os esportes têm os seus merecimentos, mas no tiro tem uma coisa que os outros não têm. Temos que ter uma reputação ilibada. Não podemos ter uma briga de trânsito. A nossa conduta civil tem que ser irretocável. Qualquer situação negativa podemos perder o direito de atirar”, frisa Acosta.
César também defende o esporte dizendo que a venda de armas de fogo não é indiscriminada. “Hoje para comprar uma arma, tu tens que mostrar seu laudo físico e psicológico, avaliação de tiro, tem que ser apto a usar uma arma de fogo, todos os antecedentes criminais com nada consta, ter comportamento social produtivo, residência fixa. É mais complicado do que tirar a carteira de motorista, por exemplo. Estamos tentando desmistificar muitas coisas”, finaliza Oliveira.
Prêmio em família
Luísa e o Leonardo foram vice-campeões mundiais na categoria team family. Pai e filha disputaram contra 13 times. “Nesta prova atiramos com a standard manual, enquanto o primeiro lugar atirou com uma modify. Nós começamos com menos munição e tivemos que ir carregando, por isso falamos que o segundo lugar tem gostinho de ouro”, conta Luisa. No individual, Acosta ficou em oitava na sua categoria, já Oliveira terminou em sexto.
Início no tiro esportivo
Antes de começar no tiro esportiva Luísa fazia balé, mas a paixão do pai pelo esporte, a levou a competir. “O esporte é uma família. Eu comecei a competir nos anos 1990. Conheci o Oliveira em 1992 e nunca perdemos esse contato. Depois os filhos foram nascendo e vivendo nesse mundo”, revela Acosta, que também conta que um dia chegou para Luísa e perguntou se ela queria atirar. “Eu cheguei da escola e ele perguntou se eu queria competir com ele. Meu pai já tinha dado entrada no processo, eu o acompanhei, me apaixonei e acabei com a minha carreira de bailarina”, lembra Luísa, que tinha 14 anos na época.
Em menos de um ano a guria tirou o CR (certificado de registro expedido pelo ministério da justiça/exército brasileiro).
Próximas competições
Agora em 2024, Lucas e Luísa disputarão a classificatória para o Mundial de 2025 que será realizado na República Tcheca, de carabina, calibre e pistola. “Agora vamos ter um pouco de tempo para assimilar as medalhas na competição da Tailândia, depois treinar mais para 2026 participar do Mundial de Shotgun, na Grécia. O Lucas vai defender o título e eu tentar o primeiro lugar”, conta Luísa.
Futuro na federação
Após a conquista do título mundial, Lucas Roth começa 2024 com um cargo na Federação
“Por conta da legislação, para começar no esporte é preciso ter um pouco de paciência. Ter a permissão, poder atirar, se associar a algum clube, é preciso ter paciência. De 2024 até 2026 eu serei o diretor de armas longas da Federação Gaúcha de Tiro Prático, então eu vou gerir todas as competições do Estado e pretendo fazer cursos para iniciantes, auxiliar os clubes e competidores para tentar alavancar o esporte. Também tentar fazer uma ação de marketing para trazer competidores de fora do Brasil, numa espécie de intercâmbio”, frisa Roth.
Ação social
A união dos competidores e amantes do tiro esportivo vai além dos stands. Depois das chuvas que desabrigaram centenas de pessoas em diversas regiões do Estado, um grupo de atiradores, clubes, e a federação, se reuniu para doar mantimentos para as pessoas necessitadas. A campanha dos atletas resultou em caminhões carregados com roupas e comidas.
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“Temos um lado social também. A vida toda a televisão colocou na nossa cabeça que arma é coisa de bandido. Então estamos tentando desmistificar isso. É uma arma, sim, é um material que mal usado vai causar um dano, assim como o carro. Eu uso arma a vida inteira e nunca dei um tiro em ninguém”, conta Oliveira.
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