EXPERIÊNCIA
Larri Passos, ex-treinador de Guga, ajuda a fomentar o tênis no Estado
Técnico, que iniciou a carreira em Novo Hamburgo, participa de clínica em Porto Alegre
Última atualização: 26/03/2024 17:03
Referência no tênis, o técnico Larri Passos, de 65 anos, veio dos Estados Unidos, onde mora, para passar a semana em Porto Alegre e comandar o projeto "Por um Tênis Grande no Rio Grande", uma clínica com palestras que tem como objetivo fomentar o crescimento do esporte.
O evento, que ocorre na Associação Leopoldina Juvenil, foi pensado para o ex-treinador de Gustavo Kuerten, o Guga, tricampeão de Roland Garros, poder ensinar e compartilhar toda a sua experiência das quadras. A organização é da Federação Gaúcha de Tênis (FGT) e JL Sport & Marketing.
O projeto recebeu, desde a última segunda-feira, tenistas das categorias infantil, infanto-juvenil e adulta dos clubes filiados e convidados pela FGT, além de professores e crianças de projetos sociais. O evento termina neste sábado.
Nascido em Rolante, Larri mora nos Estados Unidos há alguns anos e se tornou cidadão norte-americano, o que facilitou para entrar e sair do País. Com isso, depois de todo processo para obter a cidadania, o treinador poderá participar com frequência de mais eventos no Brasil.
"Esse projeto aqui. Essa ligação, ela surge no momento em que eu posso vir mais vezes, ter mais contato com os treinadores e jogadores. Isso vai criar a possibilidade de deixar um legado ainda maior e, dentro desses valores, vai ter uma abertura para eles, já que eu vou estar nos Estados Unidos com as portas abertas. Isso pode ser uma semente que deve dar bastante frutos." conta.
Hoje, além de ser proprietário do Instituto Larri Passos Tênis Pro, em Balneário Camboriú-SC, ele também é Head Coach da Ross School & Academy, em Nova York.
Desafio
Para o treinador, um dos principais desafios da atualidade é a competição entre o esporte e a tecnologia, que prende as crianças na frente dos eletrônicos.
"É nisso que tenho trabalhado bastante. Em trazer as crianças para a quadra de tênis. Eles vão ficar duas, três horas treinando e o foco vai ser ali dentro. Um dos maiores inimigos é o celular. O esporte é uma ferramenta que gera o respeito ao próximo, ética, e isso vai contribuir para o resto da vida. Por aí que temos que trabalhar, tirar as crianças de casa e colocar em algum esporte."
Conexão de pai e filho
Em 1984, quando Guga tinha 8 anos, seu pai, Aldo Kuerten, e Larri se encontraram. A semente foi plantada. "É uma história indescritível. Partiu de uma promessa minha para o pai do Guga. E eu vou trabalhar com o guri um tempo depois, quando ele está com 13, 14 anos. Foi uma dedicação, um encontro, que é inexplicável, muito espiritual." O patriarca da família Kuerten morreu em 1985, quando apitava uma partida de tênis.
Com anos de treinos, torneios, dedicação e disciplina, o primeiro título de Guga no saibro de Roland Garros veio em 1997. Histórico. Até então, o jovem catarinense era desconhecido do grande público, mas Larri já sabia o que poderia acontecer. No mesmo ano, Passos foi considerado o melhor treinador do mundo.
"Em 1996 tivemos um ano maravilhoso. Trabalhos muito, em silêncio, focados, e no final do ano ele estava muito bem. A minha mente já estava preparada. Como eu trabalhei na Europa por 11 anos, vendo os melhores, vi o Guga crescendo, e a qualquer momento ia acontecer. Para mim não foi surpresa. O que eu trabalhava com ele, era para acontecer."
Guga e Larri, que passou a ser seu segundo pai, voltaram a vencer o Grand Slam da França mais duas vezes: em 2000 e 2001. A parceria durou 15 anos, rendeu à dupla 20 títulos de simples e 43 semanas no topo do ranking da ATP.
"Precisamos estruturar e trabalhar com paciência com esses jovens. Não é do dia para noite que as coisas acontecem."
Do início como boleiro no Vale do Sinos à paixão pelo esporte
Natural do Vale do Paranhana, logo nos primeiros meses de vida Larri Passos mudou-se para Novo Hamburgo com seu pai, que era sapateiro, e sua mãe, auxiliar de cozinha da Sociedade Aliança. O futuro do menino parecia traçado para ser um operário de produção. "A minha chance era zero. Eu ia para o clube juntar as bolinhas. A discriminação era terrivel. Eu cheguei a trabalhar por seis meses numa fábrica de calçados. Depois me tiraram. Mas isso tudo me fortaleceu. Me fez criar forças para vencer", lembra.
Foi pegando as bolinhas que ele se apaixonou pelo esporte. Logo na primeira noite já sabia tudo sobre a pontuação. Aos 10 anos ganhou a primeira raquete, fabricada em 1957, mesmo ano de seu nascimento. Um talismã. O tempo passou. E a vontade de permanecer no tênis aumentou. Foi o início da história. Perto dos 15 anos começou a competir, mas em seguida iniciou o trabalho em uma fábrica, de onde foi retirado para poder dar sequência no seu sonho.
Na adolescência trabalhou como sparring. Passou pela Sociedade Aliança, São Leopoldo Tênis Clube e Sociedade Ginástica Novo Hamburgo. Com 17 anos já era treinador de quase 30 alunos.
"Antigamente para trabalhar com as crianças você tinha três bolinhas e não tinha recurso, estrutura. Era meia hora de treino para ensinar direita, esquerda, saque. Tinha que ser muito habilidoso para motivá-los. Hoje está muito mais tranquilo."
Com sede por conhecimento, Larri embarcou para os Estados Unidos pela primeira vez para fazer um curso. Era 1979. Em 1983 graduou-se em Educação Física na Feevale.
Presidente da Federação fala em crescer a base para ter novos talentos
"Falta uma base grande. Quanto mais gente jogando, maior a chance de ter um nome importante. Precisamos ter uma escola como outros países têm, como Estados Unidos, Espanha, França, que sempre têm atletas entre os melhores do mundo. Para isso, realmente precisamos de mais apoio", conta Eduardo Chemale Selistre Peña, presidente da Federação Gaúcha de Tênis.
O Brasil teve fenômenos como Guga e Maria Esther Bueno. Atualmente, os tenistas que mais se destacam são Thiago Monteiro, Marcelo Melo, Beatriz Haddad Maia, Luisa Stefani. Os já aposentados Bruno Soares, Thomaz Bellucci e Fernando Meligeni também foram importantes no cenário mundial. "O Larri tem uma história enorme. Ele conseguiu fazer o número 1 do mundo em um esporte que não é tão tradicional. Só a presença dele já traz muita motivação, fora toda contribuição com a história que vivenciou. É muito bom ele estar conosco."