É correndo atrás dos sonhos, passando por barreiras e se lançando em busca de um futuro melhor que a atleta Karolini Rodrigues Amaral, de 16 anos, vem se destacando no atletismo. Aluna do 1º ano do Instituto Estadual Seno Frederico Ludwig – Ciep Canudos, bairro onde mora, a jovem utiliza a estrutura da Instituição Evangélica de Novo Hamburgo (IENH) para treinar suas provas preferidas: o 400 metros rasos, salto em distância e salto com barreiras. O resultado impressiona. Desde que iniciou no esporte, há seis anos, a guria já ganhou 96 medalhas.
“Desde o dia que comecei no atletismo decidi que é o que eu quero para a vida. É um esporte que eu não conhecia, só sabia de futebol, mas quando tive o primeiro contato com a modalidade me apaixonei e agora gosto de praticar. Até incentivo outras pessoas a fazerem.”
Em agosto Karol ganhou destaque no Troféu IENH de Atletismo, que teve mais de 400 atletas de diversos clubes do Estado. Ela ficou com o primeiro lugar no 100 metros rasos, na categoria sub-18, e no revezamento 4×400, e em terceiro no salto em distância na categoria adulto.
Família unida
A mãe da atleta, a dona de casa Maria Roseli Rodrigues do Amaral, de 59 anos, parou de trabalhar para acompanhar a filha nos treinos e competições. O pai, Armando Amaral, também de 59, é funcionário de uma transportadora da região. O casal tem outras quatro filhas e 12 netos.
Mãe e filha dividem um smartphone para poder postar as conquistas nas redes sociais. “Eu pego o telefone dela e faço as postagens. Ela gosta que publique no Instagram dela também, tanto que tem muitas fotos minhas. Minha família tem ajudado a divulgar. Assim vou ficando conhecida”, conta Karolini, que busca patrocínio.
A atleta, que tem Mário Kickhofel como professor, recebe ajuda da IENH pelo projeto social Corrida pela Cidadania, que fornece material esportivo, como uniforme, sapatilhas, e também alimentação em competição.
Primeiros contatos
O esporte é fundamental na vida das pessoas. E um bom lugar para descobrir e desenvolver um atleta é na escola. Foi por meio de uma competição escolar que a professora Nádia Cristina Feiten viu um grande talento surgindo.
“Todo ano temos as Olimpíadas Municipais. Eu sempre gostei de participar, pois é um momento onde a gente pode descobrir novos atletas. Fazemos um trabalho muito bacana na escola, temos muitos professores engajados nesse sentido. Trabalhamos muito essas modalidades olímpicas”, inicia Nádia, que está há 27 anos lecionando.
Foi na Emeb Vereador João Brizolla que tudo começou. A professora de educação física de onde Karolini estudava na época viu a guria com potencial de atleta. “Ela chamou muito a minha atenção pelo porte físico e por ser uma uma menina muito responsável, disciplinada, além de ter uma família muito presentes. Conversei com os pais que seria tranquilo. Em umas das competições de atletismo na IENH, ela se destacou e foi convidada por eles. Ela tem todas as características de atleta. Tem potencial para brilhar muito.”
Suporte que vem de casa e também da escola
Popular na escola e subindo nos pódios nas competições por onde passa – ela já disputou provas em Santa Catarina, Paraná, São Paulo e Rio de Janeiro, onde teve duas pratas nos Jogos Estudantis Brasileiros (JEB’s 2021) -, o maior apoio de Karolini vem de casa, da mãe. “Eu acho que mãe está aqui pra incentivar o filho em todos os momentos. O esporte é fundamental. Acredito que além do colégio, as crianças deveriam fazer alguma atividade física. É responsabilidade, educação. Se aprende muito”, frisa Maria Roseli. “Vejo que ela está no caminho certo. Estamos plantando agora para poder colher mais tarde. O processo é lento, mas vamos caminhando até chegar lá”, completa.
Além do suporte da Instituição Evangélica e da família, Karol também tem a ajuda de Silon Ferreira, diretor da escola onde estuda. “Ela é super dedicada não só no esporte, mas também na escola. É muito aplicada, é uma menina que não falta, que tem foco, que tem responsabilidade. Tem todo um diferencial. Segundo falam, ela é uma menina que mesmo sem dedicar todo o esforço em um treinamento, por causa das condições financeiras dela e tudo mais, a resposta dela fica acima dos demais atletas”, diz José Silon Ferreira, do Ciep Canudos.
Pensou em parar
No começo deste ano, Karolini pensou em desistir da corrida por causa de problemas pessoais e também pelo amor que tem pelo futebol. Um outro caminho que teria de começar do zero. Seguir no atletismo, tendo como inspiração o medalhista olímpico Alisson dos Santos, o Piu, pareceu a melhor opção. Ela contou com a ajuda de Kickhofel para tomar a decisão.
“Nós atletas temos uma fase que não queremos mais competir. Isso aconteceu no início do ano, mas o treinador Mário sentou comigo e com a minha mãe para me ajudar. Ele me motivou, disse que eu sou uma atleta boa e que ele precisava de mim na equipe. Ele está sempre me apoiando.”
Outros fatores que pesaram na escolha da adolescente, e que servem de motivação diária, são as medalhas conquistadas e a felicidade em ver a família sorrindo.
“Eu fico muito motivada em vê-la me apoiando. A felicidade da mãe quando eu ganho uma medalha não tem preço. Quando eu acordo de manhã, logo penso que tenho que continuar, seguir em frente, para realizar meu sonho de correr fora do Brasil e dar orgulho para a minha família”, diz a jovem, emocionada.
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Sob o olhar da IENH
Mário Kickhofel fez o convite para Karolini participar dos treinamentos na IENH há seis anos. Desde o início, o professor acompanha os passos, ou a corrida, da atleta. Ele faz uma avaliação e dá dicas para o futuro da jovem. “Ela chegou e logo vimos o potencial. Daí começou desenvolvendo bastante a parte da coordenação motora, capacidade físicas e as provas mesmo do atletismo. Então, ela começou a praticar salto à distância, corridas curtas e corridas de velocidade. Depois migrou um pouquinho pra corrida com barreiras. Por último, agora ela está mais focada, vindo mais aos treinos, e migrou de prova. Foi para os 400 metros.”
Este ano a guria ganhou a seletiva para os Jogos Escolares Brasileiros. No Campeonato Estadual sub-18, ela venceu os 400 metros rasos com barreiras, e foi prata nos 400 metros rasos e no revezamento 4×400 mistos. “Sabemos que ela pode evoluir muito ainda, mas vai depender muito do que ela vai fazer, se vai se manter motivada, se vai vir aos treinos com frequência. O treinamento tem que ser regular. Se ela deixa de ter essa frequência, acaba perdendo tempo e a coisa não anda.”