Para muitos jovens que disputam a Copa Pequeno Gigante, em Campo Bom, o título da competição fica em segundo plano, pois em primeiro está o sonho máximo de se tornar um jogador de futebol profissional. Mais que comemorar um gol em um estádio lotado, os meninos querem mudar de vida e, principalmente, a de suas famílias.
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Entre os mais de 1,8 mil jogadores que pisaram em Campo Bom, está Renan Pereira dos Santos, de 17 anos, atacante do Santa Cruz sub-19, do Rio de Janeiro. Morador da favela Santo Amaro, o jovem perdeu a mãe aos 14 anos e vive com seu pai, a sobrinha e a irmã mais velha. E é por todos eles que ele entra em campo na esperança de ser visto e receber uma oportunidade em um time grande.
O caminho até Campo Bom não foi fácil. Na última quinta-feira (25), véspera do início da competição, Renan acordou às 7h30, tomou café e arrumou sua mala. Saiu de casa duas horas depois, pegou metrô e trem até chegar aos companheiros de equipe no Centro do Rio de Janeiro. Já eram 18 horas quando o ônibus partiu em direção ao Rio Grande do Sul.
“Paramos às 23h30 em um posto de gasolina, era tudo muito caro, mas conseguimos nos alimentar. Retomamos a viagem com muitas brincadeiras e conversas. Lá pelas 2 horas tentamos dormir, mas nem todos conseguiram porque a viagem cansa e os bancos não eram tão confortáveis”, relembra.
Já na manhã seguinte, às 10 horas, fizeram a última parada, no Paraná, antes do destino final. Foram mais nove horas de estrada à base de biscoitos e outros alimentos até chegarem no alojamento, em Campo Bom, por volta das 19h30, depois de quase 25 horas de viagem. A equipe mal desembarcou e já precisou correr para a cerimônia de abertura. Ao retornarem, o refeitório do alojamento já estava fechado e precisaram sair pela cidade, que ninguém conhecia, em busca de alimentos. A solução veio através de cachorros-quentes.
De volta ao alojamento, era necessário arrumar os colchonetes, e nesse momento, já passava da 1h30. Foram poucas horas de sono e pouca alimentação até estrearem na competição, às 7 horas de sábado (17). “Infelizmente, não conseguimos ganhar por conta do cansaço. Mas sou grato a Deus, à minha família e meus companheiros por que conseguimos vir para cá, mesmo com tantas dificuldades”, afirma.
O desempenho em campo do sub-19 do Santa Cruz não foi bom e a equipe deixou a competição com duas derrotas e um empate, sem conseguir avançar à próxima fase. Porém, o sonho continua: “Nós já temos um não e vamos em busca do sim. Nossa família sempre acreditou em nós, e agora temos que fazer a nossa parte para termos um futuro melhor”, finaliza.
Vida nas favelas
Renan e os companheiros de time Taylon dos Santos Pacheco e Lohan Santos Pinheiro da Rocha, todos de 17 anos, participaram no ano passado da Taça das Favelas, no Rio de Janeiro. Na época, Renan e Taylon, que é volante, atuavam pelo Turano. Aliás, os dois jogam juntos desde 2020. Já Lohan, lateral, atuava pelo Conjunto Brasilit. O destaque na competição chamou a atenção do Santa Cruz, onde jogam atualmente.
Os três vivem em favelas do Rio de Janeiro. Renan em Santo Amaro, como já citado; Taylon na Barreira do Vasco, próximo ao Estádio São Januário; e Lohan em Senador Camará. Jogando desde a infância, os três querem um futuro melhor e tirar suas famílias de um ambiente de pobreza e, muitas vezes, violento, como eles mesmos contam. “Tudo o que eu não tive, minha família vai ter”, define Lohan.
O sonho também vive no sub-15
Também em busca deste sonho está Swen Ramon Viana da Silva Engeler, de 15 anos, atacante do Santa Cruz. O garoto se dedica desde os 7 anos e tem Cristiano Ronaldo como referência. “A mentalidade dele é imparável, então me espelho muito nele. Para mim, essa profissão permitirá que eu mude de vida e ajude a minha família. Estou disposto a tudo por isso, se for pra comer a grama, eu como, vou dar a vida”, afirma.
Companheiro de time, Brendo Palermo, 15 anos, zagueiro, joga desde os 5 anos por influência do pai. “Passei a treinar aos 7 anos e tudo foi muito difícil, sem recursos, mas fui crescendo e tenho foco para alcançar este sonho”, comenta. João Cayo, 16, é parceiro de zaga e atua desde os 9 anos. Passou pela base do Angra e hoje está no Santa Cruz buscando realizar seu sonho e de dar um futuro aos seus familiares. Para seguir o sonho, João deixou a casa dos pais no interior do Rio, e hoje mora com os tios. “O que mais ‘pega’ é a distância dos meus pais, mas é algo que vai valer a pena”, conta.
Seja no sub-15 ou no sub-19, o objetivo é o mesmo. E para chegar lá, cada um tem um ídolo como referência. No caso de Swen, é Cristiano Ronaldo; Brendo se inspira em Sergio Ramos. Renan vê John Kennedy como ídolo, Taylon se espelha em Casemiro e Lohan no lateral Marcelo.
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Aos 17 anos, quem também é um exemplo para eles é Endrick, atualmente no Palmeiras e na Seleção Brasileira, mas já vendido ao Real Madrid. O garoto jogou a segunda edição da Copa Pequeno Gigante e foi campeão marcando dois gols na final da sub-12 contra o Grêmio, em 2019. “Ele tem idade para estar aqui com a gente, mas já está com a Seleção Brasileira. Então é uma inspiração para nós. Assim como ele esteve onde estamos, sonhamos em estar onde ele está”, finaliza Lohan.
Últimos dias de competição
A Copa Pequeno Gigante, que teve sua primeira edição em 2019 e não foi realizada em 2021 e 2022 por conta da pandemia de Covid-19, chegou a sua 5ª edição em 2024. Neste ano, foram mais de 1.840 atletas e 42 clubes que, divididos por categorias, somam 92 equipes. A abertura ocorreu na noite de quinta-feira (25), com o empate em 2 a 2 entre 15 de Novembro-RS x MZ Futebol- SC, no sub-14.
Nesta terça-feira (30), ocorrem as quartas de final e as semifinais das categorias sub-13/14/15//19. As categorias sub-10/11/12 entram em campo nesta terça direto para as semifinais. Já a sub-17, por ter mais equipes, têm uma fase extra. Jogam nesta terça as oitavas e as quartas de final, e na quarta-feira pela manhã, as semifinais.
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Todas as finais ocorrem ao longo da tarde de quarta-feira (31) no Estádio Sady Schmidt, com o jogo de encerramento às 18h40, das equipes sub-17. Os ingressos custarão R$ 10,00 por pessoa.