A boxeadora Imane Khelif, vítima de ataques na internet em relação ao seu gênero, vai disputar o ouro olímpico. A argelina derrotou a tailandesa Janjaem Suwannapheng nesta terça-feira (6) e lutará a sua primeira final olímpica na carreira. A vitória nas semifinais do peso meio-médio (até 66kg) do boxe feminino na Olimpíada de Paris foi conquistada por decisão unânime dos jurados.
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Se foi atacada virtualmente, Imane recebeu apoio maciço das arquibancadas. Eram milhares de argelinos presentes na famosa Philippe Chatrier, quadra principal de Roland Garros e que virou o palco do boxe após o fim do torneio de tênis nos Jogos de Paris. Eles gritaram o nome da atleta de 25 anos assim que seu nome foi anunciado, mantiveram o apoio nos três rounds e balançaram efusivamente a bandeira da Argélia quando Imane foi declarada vencedora.
Em sua segunda Olimpíada, Khelif subirá no ringue na próxima quinta-feira (8) em busca de seu primeiro ouro. Suwannapheng levou o bronze, já que todas as boxeadoras semifinalistas sobem no pódio.
Dias antes das semifinais, em uma das poucas entrevistas que deu, a boxeadora argelina disse à Associated Press que os ataques que recebeu, principalmente nas redes sociais, têm “efeitos enormes” em sua vida. Não atrapalharam, porém, seu desempenho, uma vez que ela foi dominante no combate. A argelina foi superou à oponente nos três rounds. Em todos, ganhou por 10 a 9.
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Khelif tem sido acusada de ser o que não é: uma mulher transgênero. As acusações e ataques começaram depois que a italiana Angela Carini desistiu de lutar com a argelina em menos de um minuto na Olimpíada sob a alegação de sentir dor intensa no nariz após sofrer dois golpes. Postagens virais nas redes sociais, então, passaram a alegar, sem provas, que a lutadora africana é um ‘homem biológico’.
As publicações desencadearam uma campanha de desinformação, além de uma onda de ataques preconceituosos à lutadora, com comentários até de líderes políticos como a primeira-ministra da Itália, Giorgia Meloni, e o ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump.
“Envio uma mensagem a todas as pessoas do mundo para defenderem os princípios olímpicos e a Carta Olímpica, para se absterem de intimidar os atletas, porque isso tem efeitos”, afirmou Khelif. “Isso pode destruir pessoas, pode matar os pensamentos, o espírito e a mente das pessoas. Isso pode dividir as pessoas. E por causa disso, peço-lhes que evitem o bullying.”
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Em 2023, a lutadora não passou em um teste de gênero – por ter níveis elevados de testosterona – para competir no Mundial da modalidade e foi desqualificada. O Comitê Olímpico Internacional (COI) saiu em defesa da atleta, assim como o Comitê Olímpico da Argélia.
“O teste de testosterona não é um teste perfeito. Muitas mulheres podem ter níveis de testosterona iguais ou semelhantes aos dos homens, embora ainda sejam mulheres”, afirmou Mark Adams, porta-voz do COI sobre o caso. “Ela nasceu mulher, foi registrada como mulher, viveu sua vida como mulher e lutou boxe como mulher”, completou Adams.
Além do Comitê, a família da argelina apoiou a atleta. “Minha filha é uma menina. Nós a criamos como uma menina. É uma menina forte. Eu a eduquei para que trabalhasse e fosse corajosa”, afirmou Omar Khelif, pai da boxeadora.
“Sei que o COI foi justo comigo e estou feliz com esta solução, porque mostra a verdade”, disse a lutadora, que chegou a ser questionada se havia sido submetida a outros exames além dos testes antidoping, mas se recusou a comentar. Segundo a Federação Internacional de Boxe (IBA, na sigla em inglês), os exames pelos quais Imane passou são “confidenciais”.
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