O Comitê Organizador da Brasil Ladies Cup decidiu neste sábado pela suspensão por dois anos do River Plate do torneio após o caso de racismo durante a partida contra o Grêmio. Na ocasião, a atleta Candela Díaz, do clube argentino, imitou um macaco em direção ao gandula. Irritada, a equipe gremista deixou o campo.
“Em reunião neste sábado (21), o Comitê Organizador da Brasil Ladies Cup decidiu aplicar a pena máxima prevista no artigo 26 do regulamento da competição, confirmando a eliminação do River Plate da edição 2024 e a suspensão da equipe por 2 (dois) anos. A organização reforça o posicionamento antirracista e reafirma que jamais irá tolerar casos dessa natureza”, diz a nota.
A organização informa ainda que desde o ocorrido, “estamos prestando todo o apoio jurídico aos envolvidos. Além disso, durante a final entre Bahia e Grêmio, neste domingo, às 16h, no Estádio do Canindé, teremos diversas ações para fortalecer a luta contra a discriminação racial.
No comunicado, o Comitê que vem cuidando do caso reitera o respeito pelo River Plate-ARG, instituição que participou das edições de 2021 e 2024, mas ressalta que, além do aspecto desportivo, a Ladies Cup valoriza também o viés educativo e social presente nas ações complementares ao evento.
“Não iremos jamais compactuar com este tipo de episódio dentro do campeonato. Desta forma, a Comissão Organizadora acaba de implantar uma nova diretriz incorporada ao regulamento de todas as edições futuras, prevendo o banimento sumário de qualquer clube ou seleção participante, cujos atletas e dirigentes executem gestos racistas no campo de jogo.
O próprio River Plate se manifestou sobre o caso e prometeu tomar ‘medidas disciplinares’ contra a atleta. O caso foi levado até a delegacia, onde foi registrado um Boletim de Ocorrência.
Após o gesto de Díaz, houve uma confusão generalizada entre as jogadores do River Plate e o gandula da partida, que acabou sendo defendido pelas gremistas. O árbitro acabou expulsando seis atletas da equipe argentina, forçando o encerramento da partida. O Grêmio foi dado como vencedor por 3 a 0 e avançou à final.
“É triste que o desenvolvimento do futebol feminino, através de um torneio que está sendo exibido em todo o país e também no exterior, seja atrapalhado por um acontecimento lastimável. Esperamos que Bahia e Grêmio, finalistas da competição, possam realizar um espetáculo esportivo de forma limpa, honesta e à altura que a sociedade merece. O preconceito jamais será tolerado pelo torneio”, finalizaram os organizadores.
Incidente terminou na delegacia
O caso envolvendo insulto racista ocorreu após o Grêmio empatar por 1 a 1 o confronto, que valia uma vaga na decisão da competição. Após 30 minutos de paralisação, seis atletas do River Plate foram expulsas e, consequentemente, o árbitro encerrou a partida.
“Um boletim de ocorrência foi registrado na delegacia responsável e faremos todo o possível para que o caso resulte em punição para as responsáveis”, explicou o Grêmio, em comunicado. “Não aceitamos esse tipo de situação e aproveitamos para reforçar o nosso compromisso contra todo e qualquer tipo de preconceito e discriminação”, protestou o clube.
Dois gandulas, uma jogadora e o preparador físico do Grêmio, quatro atletas argentinas e representantes da organização do torneio foram ouvidos na delegacia.
“Demoramos tanto para ter um espaço como esse no futebol feminino. Falamos que o racismo está acabando no mundo, mas sempre acontecem casos como esse. É um absurdo o que passamos aqui. É difícil lutarmos por uma causa como o futebol feminino e termos de encarar situações como essa. Até quando vamos viver isso?”, afirmou a técnica gremista Thaíssan Passos.
Jogadoras presas
Quatro jogadoras do River Plate foram presas. Candela Díaz, Camila Duarte, Juana Cangaro e Oriana Pintos foram encaminhadas ao 8° Distrito Policial (Brás), logo após a partida, onde o caso foi registrado como injúria racial.
Segundo a Secretaria de Segurança Pública de São Paulo (SSP-SP), uma mulher de 19 anos, que não teve o nome revelado, é investigada. Na ocasião, a atleta Candela Díaz imitou um macaco em direção ao
gandula, que foi defendido pelas jogadoras do Grêmio.
Uma audiência de custódia realizada neste sábado determinou a prisão preventiva das jogadoras. A possibilidade de retorno à Argentina foi levado em consideração para a decisão. O caso é acompanhado por membros do Consulado Geral da Argentina em São Paulo.
A defesa das atletas é representada pela advogada Thaís Sankari. Ao ESTADÃO, a profissional vê exagero na determinação de prisão preventiva e afirmou que vai entrar com um pedido de habeas corpus neste domingo, 22. Ela diz, ainda, acreditar que as jogadores estão sendo usadas como exemplo, e tem a expectativa de que elas estejam em
casa até o Natal.
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