ALÍVIO
Fifa descarta punição à CBF com retorno de Ednaldo Rodrigues à presidência; entenda o caso
Departamento jurídico da Fifa se reuniu com membros da entidade brasileira no Rio de Janeiro
Última atualização: 08/01/2024 16:04
A Fifa descartou nesta segunda-feira (8) uma punição à CBF, que poderia tirar a seleção brasileira e os clubes do País de qualquer competição internacional. O anúncio foi feito pelo espanhol Emilio Garcia, do departamento jurídico da Fifa, que se reuniu com o presidente Ednaldo Rodrigues e outros diretores da entidade na sede da CBF, no Rio de Janeiro.
Segundo o dirigente da Fifa, havia risco iminente "de o Conselho da Fifa expulsar o Brasil de todas as disputas internacionais", o que só não se consumou porque o ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal (STF), devolveu a presidência a Ednaldo Rodrigues na última quinta-feira.
"Este é um ponto crucial. A CBF, o futebol brasileiro, estava em risco. Havia um risco muito alto de o Conselho da Fifa tomar uma decisão, não contra o futebol brasileiro, mas contra a intervenção exterior no futebol brasileiro. Isso ficou descartado neste momento, com a decisão do Supremo", afirmou Garcia.
"A Fifa e Conmebol vieram ao Rio de Janeiro para poder garantir a independência da Confederação Brasileira de Futebol e o cumprimento dos estatutos da Fifa e da Conmebol. Ficamos aliviados com a decisão do Supremo Tribunal de Justiça (Federal), que restaura a presidência de Ednaldo à decisão livre e democrática do futebol brasileiro", acrescentou o dirigente da Fifa. "Estamos contentes que voltamos à situação original, em que o congresso (assembleia geral) do futebol brasileiro elege o seu presidente".
Ednaldo Rodrigues se mostrou aliviado. "Posso dizer que é o futebol brasileiro que ganha. não é o presidente. Fui eleito de forma clara e transparente pela unanimidade dos presentes na assembleia de 23 de março (de 2022). Ganha o futebol brasileiro quando tem sua autonomia restabelecida, quando tem a certeza que seus clubes vão cumprir as competições internacionais para as quais foram classificados, que a seleção brasileira possa, em todas as categorias, desenvolver seu futebol nas competições, como Eliminatórias de Copa do Mundo e Pré-Olímpico", disse Ednaldo.
A visita dos representantes da Fifa e da Conmebol aconteceu um mês depois de o Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro (TJ-RJ) destituir Ednaldo Rodrigues da presidência da CBF. Na ocasião, a 21ª Câmara de Direito Privado considerou inválido um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) firmado entre o Ministério Público do Estado e a CBF. A decisão anulou os efeitos da Assembleia Geral que elegera Ednaldo em 2022. O mandatário retomou o cargo apenas na semana passada, após liminar do ministro Gilmar Mendes, do STF.
A Fifa não aceita interferência judicial ou de governos em suas confederações esportivas filiadas. Desde que a ação judicial começou a tramitar nos tribunais, a entidade máxima do futebol enviou duas cartas à CBF alertando para o risco de sanções "mesmo que a influência de terceiros não tenha sido culpa da associação membro em questão".
Mais do que uma medida prática, a chegada de um representante da entidade ao País serviu para mostrar à CBF que a Fifa cogitava de fato uma punição. O risco de sanção, contudo, diminuiu com o retorno (pelo menos até o momento) de Ednaldo ao poder.
Visita mais curta
Com o retorno de Ednaldo Rodrigues à presidência da CBF, a Fifa decidiu encurtar sua visita ao Brasil e também sua comitiva, de três para apenas dois integrantes. E o tempo de visita, que seria de três dias, durou apenas algumas horas, um bate-volta dos seus dois membros, um da própria Fifa e outro da Confederação Sul-Americana de Futebol (Conmebol). Na prática, a passagem pelo Brasil teve caráter de visita institucional após a decisão judicial que devolveu Ednaldo à presidência da CBF.
Inicialmente, a entidade ficaria no Brasil entre segunda e a tarde de quarta-feira para reuniões com Ednaldo, com o então presidente interventor José Perdiz de Jesus e até com membros do governo federal.
A Fifa pretendia fazer uma investigação para entender o imbróglio judicial que tomou conta da CBF desde o dia 7 de dezembro, quando Ednaldo foi destituído da presidência. A comitiva seria integrada pelo advogado espanhol Emilio Garcia Silvero, do chefe do escritório jurídico e de compliance da Fifa; pelo georgiano Nodar Akhalkatsi, diretor de projetos estratégicos e governança; e pelo advogado Rodrigo Aguirre, especialista em litígio da Conmebol.
Dos três, apenas Nodar Akhalkatsi não veio ao Brasil. Curiosamente, Akhalkatsi também integrou comitiva que protagonizou a intervenção da Fifa na Federação de Futebol da Índia, em 2022. Na ocasião, a entidade suspendeu a federação por ter sofrido "interferência externa", o que resultou, entre outras consequências, da retirada do Mundial Sub-17 feminino do país - estava marcado para outubro do mesmo ano.