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NOVA COMPETIÇÃO

Entenda porque Mundial de Clubes da Fifa encontra tantas resistências na Europa

Dirigentes atribuem lesões a excesso de jogos e jogadores tenta processar a entidade máxima do futebol, que pena para atrair patrocinadores para o torneio

Publicado em: 27/11/2024 às 15h:18 Última atualização: 27/11/2024 às 15h:19
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Florentino Pérez reagiu à série de lesões dos jogadores do Real Madrid com reclamações sobre o calendário. O presidente do clube madrilenho não está sozinho. Os ataques de dirigentes e jogadores europeus ao excesso de jogos ganha força à medida que mais partidas são inseridas na temporada. Um dos alvos é o novo Mundial de Clubes, de 2025. Neste ponto, as críticas se reforçam em outro ponto: a dificuldade de a Fifa angariar patrocinadores.

Taça do novo Mundial Fifa | abc+



Taça do novo Mundial Fifa

Foto: Divulgação

“A Uefa a Fifa adicionaram 14 partidas próprias, o equivalente a dois meses e meio de competição. No total, tivemos 14 partidas e 22 lesões. Já tivemos nove lesões no ligamento cruzado”, disse o presidente madrilenho, na assembleia de sócios, no último domingo (24).

Pérez faz referência ao aumento de jogos na Champions League. O Mundial também não foi poupado. “A falta de descanso afeta a carreira dos jogadores. A Fifa criou um Mundial de Clubes que priva os jogadores do descanso habitual. A Uega organizou 488 partidas oficiais há 10 anos e agora passou para 769, só para ganhar mais dinheiro”, criticou Florentino.

No dia seguinte à fala, o Real Madrid informou uma lesão no bíceps femoral da perna esquerda de Vini Jr, deixando-o fora de ação por um mês. O brasileiro se junta, no departamento médico, a Carvajal e Militão (ambos fora da temporada), Alaba, Rodrygo, Tchouaméni e Vázquez.

O discurso de Pérez endossa o que o presidente da LaLiga já dizia. Javier Tebas, como um homem de negócios, até menciona o prejuízo de lesões, mas aponta como isso prejudica o futebol financeiramente.

“Afeta duas temporadas, a que termina e a que começa. Isto coloca em perigo a saúde física e mental dos participantes. E afeta o valor das competições nacionais, o que afeta a todos os jogadores”, refletiu em evento organizado pela União de Clubes Europeus, em Bruxelas, na Bélgica.

Enquanto a temporada 2025 do futebol brasileiro prevê uma pausa das competições nacionais durante o Mundial de Clubes da Fifa, entre 15 de junho e 13 de julho, os clubes europeus terão o torneio entre uma temporada e outra. Isso implica que eles chegarão com acúmulo de fadiga e terão o tempo de descanso reduzido.

Isso já é comum em ano de Eurocopa ou Copa do Mundo, quando a maioria dos grandes clubes da Europa cede jogadores às seleções. Agora, isso não será de maneira uniforme. Barcelona, Liverpool e Milan, por exemplo, não jogarão o Mundial e terão um mês para descanso. Em situação contrária, Real Madrid, Manchester City e Inter de Milão, terão o torneio e, se liberarem os jogadores em julho, não farão as rentáveis turnês de pré-temporada.

Recentemente, em entrevista ao periódico suíço 24 heures, o ex-presidente da Fifa, Joseph Blatter adimiitiu que a criação do Mundial de Clubes, feita por ele, “foi um erro”. “A Fifa deve se preocupar com as federações nacionais, não clubes”, disse.

Eleito em 2016, Infantino sempre abraço a ideia e expandir o Mundial. Segundo ele, isso seria a forma de torná-lo mais interessante aos clubes e torcedores e promoveria acordo de patrocínios e transmissão em todo o mundo.

Não é o que se vê agora. E as cifras não aparecerem como prometido são combustível para mais críticas.

Sem acordos, há receio sobre pagamento; Arábia Saudita pode ser “socorrista”

Tebas chegou a dizer que a Fifa não teria como pagar o prometido aos clubes pelos jogos no Mundial. “Vocês sabem que não venderam os direitos de transmissão do orçamento que fizeram para esse Mundial de Clubes. Não tem os patrocínios que tinham sido orçados. Vocês sabem que as ligas e o sindicato dos jogadores não querem esse Mundial. Tirem esse Mundial de Clubes do calendário”, pediu o presidente da LaLiga.

A Fifa queria pagar próximo de 50 milhões de euros (R$ 300 milhões) a cada time que participasse do Mundial de Clubes. Também eram esperados US$ 4 bilhões (R$ 22,6 bilhões) pelos direitos de exibição dos jogos na televisão (aberta, fechada, streaming e outras modalidades).

Somente no último Campeonato Espanhol, o Real Madrid recebeu 143 milhões de euros (R$ 880 milhões) por participação, sem contar venda de ingressos e outras ações. Na Champions League, a mesma temporada rendeu 85 milhões de euros (R$ 478 milhões) ao clube.

Uma crise se instaurou quando o técnico madrilenho Carlo Ancelotti afirmou que o clube não participaria do torneio. A justificativa eram os valores. “Rejeitaremos o convite, assim como outros clubes. Só um jogo do Real Madrid vale 20 milhões de euros (R$ 115 milhões) e eles querem nos dar esse dinheiro para toda a competição… de jeito nenhum. Negativo”, falou Ancelotti, em entrevista ao italiano Il Giornale.

Posteriormente, o treinador recuou e disse não ter sido interpretado do modo correto. Independentemente da interpretação, a preocupação com as cifras pressionam Infantino.

Sem acordo de transmissão fechado, a Fifa anunciou o primeiro patrocinador do torneio somente no final de outubro. Conforme o britânico Independent, a Arábia Saudita pode entrar com papel de financiadora de transmissões ou em uma parceria comercial da Fifa com a Aramco, petrolífera estatal saudita. O país é aliado da gestão de Gianni Infantino, em relação “abençoada” por Donald Trump, eleito presidente dos Estados Unidos, sede do Mundial de Clubes.

Sindicato alega ‘diálogo falho’ e tenta derrubar torneio

A Federação Internacional de Associações de Futebolistas Profissionais (FifPro) foi ao Tribunal de Justiça da União Europeia contra a Fifa, na tentativa de suspender o Mundial de Clubes. A justificativa é de que a criação do torneio foi unilateral e viola os direitos dos atletas. Na época, a Fifa rebateu alegando que houve consultas às confederações continentais, ligas, clubes e jogadores.

“Não se trata de estigmatizar uma determinada competição, mas de denunciar tanto o problema subjacente como a gota d’água que fez o copo transbordar”, defendeu o presidente da FifPro Europa, David Terrier.

Segundo uma pesquisa publicada pela Fifpro, 54% dos jogadores experimentaram uma carga de jogos acima do ideal na temporada 2023/24. A partir de 55 partidas, o estudo indica quantidade excessiva.

O estudo ainda faz uma projeção para Phil Foden e Fede Valverde, dois dos principais jogadores de Manchester City e Real Madrid, respectivamente. Atletas da primeira prateleira do futebol internacional, com a agenda cheia por causa de finais e compromissos com as seleções de seus países, eles devem atuar em até 79 partidas em 2024/25, e 83, em 2025/26.

O Tribunal ainda não tomou uma decisão sobre o caso. A Fifa, contudo, tem um retrospecto recente de derrotas na Justiça europeia. A entidade e a Uefa foram vetadas pela Corte de aplicar sanções a clubes articuladores da Superliga Europeia. Outro caso é o de Lassane Diarra, em que as normas da Fifa sobre transferências foram consideradas ilegais.

O dinheiro, que pode não fazer tanta diferença aos europeus, é valoroso para clubes de outros continentes. Por país, o Brasil será quem mais terá representantes no Mundial de Clubes de 2025. Estão classificados Palmeiras, Flamengo, Fluminense e Atlético-MG ou Botafogo. Apesar de as críticas ao calendário serem comuns por aqui, o torneio não é citado diretamente.

A pausa durante o Mundial não veio de graça para os brasileiros. O custo disso é o começo do Brasileirão em 29 de março e término apenas em 21 de dezembro. Para tal, os estaduais têm data de início em 12 de janeiro e fim em 26 de março.

Isso, sim, é alvo de reclamações. O vice-presidente do Palmeiras, Paulo Buosi, avalia que o futebol brasileiro se torna pouco atrativo com muitos jogos. “Enquanto a gente não resolver esse problema (de calendário), não vamos entregar um produto bom para o torcedor”, criticou.

David Luiz, do Flamengo, vê o torneio com bons olhos e já comentou sobre a expectativa em uma gravação de media day do clube. “Acho que é uma grande oportunidade para todos do mundo, não só para os jogadores, porque todo mundo vai ter a chance de ver jogos que sempre esperaram. Com certeza vai ser um Mundial de muito sucesso. Se eu tiver oportunidade de estar no Flamengo ainda e participar desse Mundial, com certeza vai ser um dos melhores campeonatos que já disputei na minha vida”, afirmou.

O zagueiro tem passagens por Chelsea, PSG e Benfica. Os três estão classificados para o Mundial. A Europa tem 12 vagas. América do Sul, 6; América do Norte, Central e Caribe, 4; África, 4; Ásia, 4, e Oceânia, 1. O Inter Miami, de Messi, jogará como representante do país-sede.

Serão oito grupos com quatro times cada. Todos se enfrentam em turno único. Os dois melhores se classificam para as oitavas de final. O mata-mata será em jogo único e não haverá disputa de terceiro lugar.

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