O Campeonato Brasileiro que se inicia neste fim de semana é o desejo de conquista de 20 clubes. Pelo menos para parte deles, já que alguns entram com o objetivo principal de se manter nesta elite e o sonho passa por chegar a uma vaga de Sul-Americana ou uma Libertadores.
Sete clubes – Fortaleza, Vitória-BA, Juventude, RB Bragantino, Atlético-GO, Cuiabá e Criciúma – nunca levantaram a taça do Brasileiro ou de competições similares reconhecidas pela CBF como campeonato brasileiro, caso da Taça Brasil, Copa Brasil, Copa União ou do Torneio Roberto Gomes Pedrosa.
Outros seis nunca ganharam a nova competição, inaugurada em 2003, de pontos corridos. É aí que entram Grêmio e Inter, acompanhados de Bahia, Vasco, Botafogo e Athletico-PR. Os sete demais – Palmeiras, Flamengo, Atlético-MG, Corinthians, São Paulo, Cruzeiro e Fluminense – estão no seleto grupo de campeões da era de pontos corridos. Palmeiras e Corinthians ganharam quatro vezes; Flamengo, São Paulo e Cruzeiro, 3; Fluminense, 2; e Atlético-MG, 1 – o outro título é do Santos, que neste ano está pela primeira vez na Série B.
A dupla Gre-Nal não levanta uma taça de Brasileiro desde o século passado. O Grêmio conquistou a sua última em 1996 (há 27 anos) e a outra em 1981. O Inter, que é tricampeão, amarga uma fila de espera ainda maior: 44 anos. A última conquista foi o inédito campeonato invicto de 1979, após os títulos consecutivos de 1975 e 76.
Depois destas grandes conquistas, que eram regidas pelo formulismo e alguns campeonatos que chegavam a ter quase uma centena de times, a dupla só conquistou amargos vice-campeonatos: seis para o Inter (1988, 2005, 2006, 2009, 2020 e 2022) e quatro (2008, 2013 e 2023, e um deles em 1982, ainda antes da conquista do bi) para o Grêmio.
Esta introdução toda, com dados e números, é para chegarmos à grande questão: a dupla Gre-Nal tem alguma chance de quebrar este tabu e superar os milionários elencos do Flamengo, Palmeiras e Atlético-MG (não por acaso os três últimos campeões brasileiros desde 2018, sendo o Verdão o atual bicampeão)?
A resposta não é animadora. As primeiras mostras do ano decepcionaram gremistas e, principalmente, colorados.
Jejum colorado
A expectativa maior se formou em torno do Inter devido às milionárias contratações e empréstimos deste ano, como Borré, Alario, Fernando e Thiago Maia, entre outros, que se juntaram a Valencia e Rochet que vieram no ano passado, além de titulares já firmados como Alan Patrick, Vitão, Mercado e Wanderson.
Mas a queda na semifinal do Gauchão e os placares zerados na Sul-Americana trouxeram desconfiança, vais e até protestos da torcida que vinha sonhando com um ano diferente das últimas temporadas.
É verdade que alguns nomes não estavam inscritos e não jogaram o Estadual, mas o time do até então celebrado Eduardo Coudet (que já sofre questionamentos) parece ter sofrido algum tipo de avaria após o fracasso no Gauchão, competição que o presidente colorado Alessandro Barcellos havia elegido como o início da volta do grito de campeão ao clube que não coloca uma faixa desde 2016 (curiosamente o ano do rebaixamento do clube), quando venceu exatamente o campeonato gaúcho.
Mas, apesar deste fracasso inicial no Estadual, o Inter entra mais focado do que nunca em busca do sonhado tetracampeonato brasileiro. O presidente Barcelllos afirmou que esta é a principal disputa do ano do clube, que também disputa Sul-Americana a e Copa do Brasil. Um discurso até hoje nunca adotado de forma tão veemente como neste ano.
Só o torcedor colorado com mais de 43 anos viu o time ser campeão brasileiro, em uma época em que estavam em campo nomes como Falcão, Mario Sérgio, Jair e Mauro Galvão, entre outros. E o título se tornou ainda mais histórico porque é o único de campeão brasileiro invicto, algo que dificilmente deve ser batido devido ao número de jogos que a competição tem atualmente.
O Inter conquistou o tricampeonato jogando 23 partidas (16 vitórias – uma delas por W.O. contra o Atlético MG – e 7 empates). E olha que o campeonato, chamado de Copa Brasil, então ainda administrado pela CBD (aliás, foi o último ano da entidade que se transformaria em CBF de 1979 para 80), tinha 94 times, e teve clube, devido à bagunça, boicotando a competição, caso de Corinthians, Santos e São Paulo.
A partir de 1979, o Inter beliscou várias vezes o título e teve muitos protestos em relação à arbitragem nas perdas da taça em 2005 (ao ano da máfia do apito com jogos anulados) e em 2022. É verdade que o time também sempre se dedicou mais à conquista da Libertadores e do Mundial que só Grêmio tinha. Este sonho se concretizou em 2006, com as conquistas da América e do Mundo. Em 2010, o bi da América, mas aí com uma inesperada e histórica derrota para o Mazembe que fez o Inter nem chegar à final do Mundial – foi a primeira vez na história que um time sul-americano não disputou a decisão.
LEIA TAMBÉM
A esperança é que a partir deste sábado, contra o Bahia, o Inter de Coudet se acerte e comece uma jornada histórica para quebrar um tabu que incomoda qualquer torcedor colorado. Levantar a taça do Brasileiro após 45 anos é a grande meta e o desejo colorado do ano.
Jejum gremista
O Grêmio entra no Campeonato Brasileiro almejando, mas não sonhando alto. Em 2023, com o goleador uruguaio Suárez no time, o técnico Renato Portaluppi até falou que o título era o objetivo. Coincidentemente, assim como o Inter neste ano, o Tricolor não tinha no cronograma do ano uma Libertadores. Então, o Brasileiro era a maior conquista a se almejar. Mas, neste ano, participando da maior competição da América que daria uma vaga no novo formato do Mundial de Clubes desenhado pela Fifa, o Grêmio tem nesta conquista sua principal meta.
Mas, com o início muito ruim (o pior da sua história na competição, com duas derrotas e nenhum gol marcado) e até uma ameaça de poder na terça-feira do dia 23, com uma nova derrota, contra o Estudiantes, na Argentina, praticamente dar adeus à competição, o time ficaria na mesma situação colorada.
Com menos “farinha no saco” até agora, o Grêmio fez contratações pontuais em nomes conhecidos (e de futebol elogiado) que buscam a recuperação após recentes anos ruins em suas carreiras. São os casos pontuais de Diego Costa, Soteldo e Pavón. E, em um primeiro momento, eles deram resposta. A conquista do Gauchão fez os gremistas sonharem de novo. Até porque o time no ano passado, despretenciosamente, mas liderado por um guerreiro Suárez, foi vice-campeão com apenas dois pontos de diferença para o campeão Palmeiras.
Desde 1996, quando o técnico Luiz Felipe Scolari fechava de forma surpreendente uma trajetória vitoriosa no Tricolor (com títulos da Copa do Brasil, Brasileiro e Libertadores) que o Grêmio não levanta a taça maior do futebol nacional. São 27 anos sem chegar a esta conquista.
Em 2008 parecia que o time até iria acabar com esse jejum, mas viu o São Paulo fazer uma campanha memorável de segundo turno e reverter 11 pontos de diferença e acabar três à frente do Tricolor. Aliás, este título paulista é um inédito tricampeonato (títulos seguidos) na era dos pontos corridos.
Assim como o Inter, o Grêmio se dedicou às Copas nos últimos anos. Após o Brasileiro de 1996, venceu três Copas do Brasil (são cinco no total – 1989, 94 e 97 e 2001 e 2016) e ganhou uma Libertadores, o tri, em 2017. Também vieram conquistas de Recopas, como o Inter também conquistou.
Mas é isso. Grêmio e Inter se tornaram copeiros e colecionadores de Gauchões.
Neste fim de semana, a dupla Gre-Nal começa mais uma jornada para quebrar o tabu do Brasileirão de pontos corridos.
O Colorado, declaradamente, quer acabar com este incômodo jejum, já que este é o grande título do ano que pode encerrar oitos anos de taça zero (nem Gauchão) e de longa espera por uma grande conquista, já que a última foi a Libertadores de 2010.
Já o Grêmio, mais uma vez, entra no Brasileiro sem grande alarde. Tem o desejo, mas prefere focar o tetra da Libertadores. Se cair antes do esperado, talvez reverta suas metas.
Mas a grande pergunta que se faz é se, como costumeiramente acontece, os dois times terão foco e força para aguentar o tranco do Brasileirão. Lembrando que os dois times estão na disputa da Copa do Brasil também. Se esta competição se apresentar mais à mão qual será o foco? Vão poupar no Brasileirão por esta taça que tem um caminho menos longo à Libertadores?
É, aguardemos as próximas rodadas… E boa sorte à dupla!
- Categorias
- Tags